Sábado… Um dia simplesmente para esquecer…
10h00: Yoga. A única coisa que, olhando para trás, foi boa…
12h00: Pedir ajuda não é vergonha nenhuma. E hoje eu devia ter pedido. Não o fiz. Porquê? Por estupidez e por achar que consigo tudo. Não consigo.
O que é que aconteceu? Depois do Yoga vim ao café. Vi que havia mesas livres na esplanada mas não me sentei logo. Porquê? Porque o serviço de esplanada é muito lento. Mais lento do que eu.
Entrei. Mochila às costas. Saco do tapete de Yoga a custo ao ombro que podia escorregar a qualquer momento. Bengala na mão. Fui ao balcão e pedi: um café e uma saqueta com biscoitos. Paguei. Enfiei a saqueta no bolso e, com a mão livre, peguei no café. Pires e chávena. Ziguezagueei até à esplanada com cuidado para não deixar cair o café.
Ao chegar à mesa livre, estava na altura de pousar o pires e a chávena…estava, mas, ao baixar a mão para pousar o pires e a chávena, a firmeza da minha mão fez o que lhe apeteceu: atirou a chávena para cima da mesa. Resultado? Café entornado por cima da mesa e chávena no chão! Imediatamente me saiu, alto e em bom som, uma exclamação: “merda!”. E pensei “devia MESMO ter pedido ajuda…”
Preparava-me para voltar para dentro para pedir novo café quando uma senhora que estava na mesa ao lado vem ter comigo e me diz “não se preocupe, eu vou lá pedir”. E foi. Quando voltou, ainda eu estava a limpar o café espalhado na mesa, diz-me “já vêm cá trazer”. Atrapalhada, sorri e, mais uma vez, agradeci.
Sentei-me. Já com dinheiro na mão para pagar o novo café. Chega a funcionária com o meu café, pousa-o na mesa, agradeço e estico a moeda para lhe pagar. Ao que ela me diz “nem pense nisso, menina, não tem que pagar”.
…não é a primeira vez que me acontece ver a chávena a sair disparada do pires quando tento pousar na mesa. À primeira vez, não liguei muito. Mas agora ligo…
A primeira vez foi na esplanada do costume, onde a partir desse dia deixei de levar o café à mesa. Aproximo-me das escadas da entrada, que deixei de subir, e faço o meu pedido. Mas ali já me conhecem e já sabem que, se for eu a levar, não vai correr bem. Aqui? Devia ter pedido ajuda…
Pedir ajuda não é vergonha nenhuma. E aceitar que (já) não somos capazes de fazer tudo ao mesmo tempo também não.
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14h00: Palavra do dia: frustração
(frus·tra·ção)
nome feminino
- Acto ou efeito de frustrar.
- Sentimento de insatisfação ou de contrariedade, geralmente causado pela não concretização de um desejo, de uma expectativa, de uma necessidade ou de um objectivo. = DECEPÇÃO, DESALENTO, DESAPONTAMENTO, IRRITAÇÃO, MALOGRO ≠ EXULTAÇÃO, REGOZIJO, SATISFAÇÃO
- [Psicanálise] Condição emocional alterada de quem vê contrariada a satisfação de um desejo pulsional, de uma actividade satisfatória.
“frustração”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/frustra%C3%A7%C3%A3o.
Não sei se é “só” a palavra do dia, ou o sentimento do dia. Desde demorar 25 minutos a pé a fazer um percurso que fazia em 10 minutos, a uma perna esquerda que não colabora, passando por um banho de café e demorar 35 minutos a fazer o caminho de volta, nem sei por onde começar…
Não, isto hoje NÃO está fácil. Mas vai (ter que) melhorar. Não sei como. Só sei que vai…
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20h30: O dia foi um dia de neura? Foi. Pelo menos até acabar de almoçar.
Queria ter saído? Queria. Queria ter ido beber um café com a Mariana? Queria. Queria ter ido ao Fórum comprar café e um caderno? Queria. Queria ter feito tanta coisa? Queria. Fiz alguma destas coisas? Nem uma…
Estava de telha quando cheguei a casa à hora do almoço depois de uma manhã de frustração pura. Com uma grande neura. Decidi fazer aquilo que, de telha e uma grande neura, não chateia ninguém. Aterrei no sofá e, simplesmente, apaguei. A tarde toda…
Vim à rua agora. Passa das 20h30 mas precisava de um café e apanhar um bocadinho de ar. Vim à esplanada do costume. Onde a televisão está no exterior aos berros a dar um jogo que, penso, será do Benfica. Aqui só passam jogos da Selecção ou do Benfica. A Selecção não está a jogar, portanto…
Ouvi agora, afinal é o Porto que está a jogar. No fundo, vai dar tudo ao mesmo: é futebol e televisão aos berros. Não há paciência…
Percebo entretanto que a minha neura continua. Nem eu tenho já paciência para me aturar a mim mesma.
Queria muito ver gente. Estar com gente. Sair daqui. Sei que, tendo com quem estar, o mau humor passava rapidamente. Mas, já sei, não vai acontecer.
Não quero saber. Tenho que aprender a estar comigo mesma nestes momentos. E, apesar da idade, ainda não sei.
Mas, ao chegar à rua, parei e olhei para cima. E lá estava ela, iluminada a 80%. Não se compara com a foto da Lua que me enviaram esta noite. Não há comparação possível. Porque a minha foi (mal) tirada com o telemóvel. A outra não.
Vou acabar o meu café, esperar pela minha mãe e voltar para casa. Moer a neura. Curtir a telha. Todos nós temos dias assim. E hoje é a minha vez. Lamento. Só que não…
23h30: Não, a neura não passou. Nem melhorou. Arrisco-me a dizer, até, que piorou. Se me faz bem? Nada. Muito pelo contrário. Não posso estar assim. Não ao ponto de ter que recorrer a medicação de SOS para ver se consigo acalmar…
A vontade é de enroscar e chorar. Chorar porquê? Nem eu sei ao certo. Mas tem muito a ver com o meu momento actual. Em que, para além de estar em negação, não estou a conseguir aceitar o que se passa comigo. As dificuldades. As limitações. As diferenças. Tudo! Sei que vou ter que aprender, mas para isso vou precisar de ajuda. Mas essa ajuda tarda a chegar. E tudo o resto chega mais depressa. E eu não estou a conseguir saber como lidar com isto. Dizem-me, e admito que com razão, que tem que ser um dia de cada vez. Sem pressa. Eu sei… Mas a frustração consome-me por causa de pequeninas coisas. Como, por exemplo, levar uma porcaria de um café para a mesa da esplanada!
Eu sei que pedir ajuda não é vergonha nenhuma. Farto-me de dizer isso quando falo de questões de saúde mental. Porque já ando nesse carrossel há muitos anos. Mas isto? Tudo isto é novo para mim.
Repito, muitas vezes, para mim mesma quando vou fazer alguma coisa: eu consigo. Mas, de repente, há um choque de realidade em que, percebo, já não consigo. Mas quero conseguir. Quero continuar a conseguir. Faço questão de continuar a conseguir! E, com esse estúpido choque de realidade, percebo que (já) não vai ser possível… E ainda não aceitei que eu já não sou a mesma…
Sim, preciso de ajuda. Preciso que me ajudem a aceitar. Já sei que não há resposta à pergunta que teima em ecoar na minha cabeça: porquê eu? E ainda não consigo responder “e porque não eu?”.
O dia foi mau. Tirando a parte da tarde em que ouvi o meu corpo, obedeci-lhe e dormi. E aquela hora e meia de Yoga logo no início da manhã que me leva sempre para longe daqui, mesmo que haja coisas que não consigo fazer mas que não atribuo à doença e sim à falta de exercício. Foram esses os dois únicos momentos bons deste dia de merda!
Apetece-me chorar, claro que sim. Mas, para variar, não vai acontecer. Não consigo. E também não sei lidar com isso…
Amanhã logo se vê. Espero, sinceramente, acordar melhor. Ou, pelo menos, mais calma. Porque, neste momento, ainda estou uma pilha de nervos. Que não me faz bem nenhum! Vou acreditar que o SOS me vai ajudar a estabilizar. E depois vou tentar ter uma noite tranquila. Logo se vê. Mas, amanhã, não posso estar assim novamente. Não posso! Mas logo se vê…
…e tudo o que eu precisava agora era de um abraço e um colo… Não vai acontecer…

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