A tão desejada quinta feira chegou. E, com ela, logo de manhã, a ainda mais desejada retirada dos acessórios médicos indesejados que me acompanharam desde Sábado. E a confirmação, após a retirada, que tudo está 100% funcional. Foi um peso que me tiraram de cima. Senti-me verdadeiramente livre e quase normal.
Quase normal porque, fiquei mais tarde a saber, as infecções afectam grandemente os sintomas disto que me apanhou na curva. Sintomas que, já tinha percebido, estavam piores. Como os desequilíbrios. Caminhar, mesmo com o apoio da bengala, tem sido difícil. Muito difícil de fazer equilibrada.
Com o que sucedeu no Sábado passado a fisioterapia teve que ser interrompida, claro. Será retomada na próxima semana, quarta feira logo de manhã. E está a fazer-me muita falta voltar a trabalhar o equilíbrio.
Entretanto, chegar a casa, almoçar e simplesmente apagar no sofá. Estava, claro, muito cansada e o corpo pediu-me para dormir. Obedeci-lhe. Foram 2 horas de sono profundo. Mas o acordar…
Acordar sem saber onde estava. Se em casa de uma amiga da minha mãe ou na minha. Por momentos, não saber sequer quem eu era. O que se tinha passado. Em que dia estava… Muita confusão na minha cabeça até que as peças, lentamente, começaram a encaixar como peças de Lego.
Intolerância ao ruído. Impossível ouvir o som da televisão. A confusão na minha cabeça, apesar das peças terem encaixado, continuava.
Ir à rua. A medo, confesso. O desequilíbrio mesmo com a bengala e eu sozinha na rua, a grande confusão na minha cabeça. Ida pacífica à mercearia e rumar à esplanada do costume. Impossível ficar no interior da esplanada. Demasiadas pessoas a conversar demasiado alto e a minha cabeça, ainda muito confusa, a dizer-me “aí não”.
Fiquei do lado de fora. Menos ruído, menos confusão, mas não necessariamente sossegado.
Vontade de conversar. Mas sem coragem de enfiar os phones nos ouvidos para ouvir pessoas a falar directamente para mim dentro da minha cabeça. A música, baixinha e escolhida numa Playlist de Spotify mais sossegada ainda tolerava. Mas só de pensar em conversar com alguém com aquela enorme confusão mental era impossível…
Liguei à minha mãe. Não (só) para me ajudar no caminho para casa mas para ficar um pouco comigo na esplanada e conversar comigo. Já não me lembro do que falámos para além do meu estado actual. Mas era preciso estar ali por um bocadinho, a descomprimir. Estou cansada de estar em casa. E farta de estar doente, sem acompanhamento nem medicação. Nada…
Para amanhã quero ir ou até ao parque ou até à vila. Mas o grande, enorme objectivo é ir até ao paredão ver o Mar. Duvido que consiga ir até lá. As pernas, porque as sinto, estão cada vez mais fracas e o desequilíbrio cada vez mais presente e acentuado.
Mas eu quero superar tudo isto! Sei que não tem cura. É uma doença neuro-degenerativa progressiva. Mas não vou permitir que o meu corpo desista. Não já! Por isso, amanhã vou andar. E o pouco que conseguir andar, vai ser muito para mim! E eu quero todos os dias ir um bocadinho mais longe. Porque eu não quero nem posso desistir de mim!
Agora só me apetece chorar. Claro que não choro. Não consigo. Continuo sem saber porquê, mas simplesmente não consigo chorar. Provavelmente por ainda me dizer a mim mesma que estou em negação. Que há aqui um engano qualquer. Que isto não me está a acontecer. Que é tudo um sonho mau. Mentiras que digo a mim mesma. E que, talvez por isso, não consiga chorar…
Não, hoje não quero pensar mais. Em nada que não em tratar de mim. Amanhã? Logo se vê…mas por hoje não quero pensar em mais nada.
E, por hoje, termino com algo que já disse antes: ESTOU FARTA DISTO!
