Hoje não foi dia de ir até ao paredão. Foi dia de algo MUITO melhor! Foi dia de café com um amigo. Dia de café com o P. P de Presente. Porque está, desde sempre, e não duvido que, mesmo com agenda sempre complicada, vai continuar P de Presente.
Procurámos uma esplanada que nos protegesse da forte nortada e encontrámos! Um café cheio para mim, Água das Pedras fresca para ele e, por um bocado, tive aquilo que precisava há tanto tempo: um bocadinho de normalidade!
Conversámos como duas pessoas normais, falámos desta coisa que me apanhou na curva, claro e que, diz ele e com razão, evoluiu muito rapidamente.
E continuámos a conversar. Um momento normal como eu precisava e longe da esplanada do costume que, por muito que dê jeito por ser perto, já estou farta dela.
P de Presente que me chamou de volta à Terra tantas vezes e que, provavelmente, nem se apercebeu.
Disse-me o óbvio: preciso de apoio psicológico. Claro que sim!, respondi.
E que eu estou muito revoltada. Claro que estou. E ambos concordámos que é só parte do processo.
P de Presente vai continuar a sê-lo e a estar. Não tem que o fazer todos os dias, claro que não. Mas tê-lo feito, tê-lo estado hoje, fez-me muito bem! P de Presente. E é só disso que eu preciso: Presença.
Já lhe agradeci pessoalmente, claro. Mas agora agradeço publicamente: MUITO OBRIGADO por estares P de Presente! E que as poeiras não nos visitem novamente na próxima semana!
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Para se estar presente não é obrigatório estar ao vivo, de carne e osso. Uma resposta a uma mensagem enviada há muitos dias ou mais recentemente. Uma mensagem por livre iniciativa. Um simples Olá faz toda a diferença. Um telefonema. Não daqueles que se prometem nas mensagens ultrapassadas no tempo e que não acontecem. Mas um simples telefonema. Como aconteceu no Domingo de manhã. Como aconteceu hoje de manhã. ISSO também é estar presente.
Uma conversa por mensagem onde habitualmente é o outro lado que desabafa mas hoje fui eu. Uma conversa por mensagem já na hora de ir dormir, como ontem à noite, onde não faltaram os disparates, a risota e a boa disposição.
Tudo isso É ESTAR PRESENTE! E é só disso que eu preciso. Porque, muito sinceramente, já o disse aqui antes: esta doença não mata, por isso não me matem vocês. Mas o que sinto é que já fizeram o MEU funeral e eu ainda aqui estou. Com dificuldades e limitações, sim, mas EU igual a mim própria…
São poucos, muito poucos, os que avançam e, de uma forma ou de outra, se fazem presentes. E esses não imaginam a importância que lhes dou. Porque de ausências estou eu farta. Uma vida inteira de ausências de quem devia estar presente, ser presente. E nunca foi mais do que ausência. E, agora que preciso tanto de presenças, só encontro a ausência…
Porquê? Não faço ideia. Eu, de facto, TENHO uma doença. Neurológica. Séria. Neuro-degenerativa. Não promete nada de bom. Mas eu NÃO SOU a doença.
Sozinha. É como me sinto. Absolutamente sozinha. Sei que não estou. Ainda há resistentes que estão e são presentes. Mas é devastadoramente sozinha que me sinto. E, apesar de não morar sozinha, é em casa que começa essa solidão…
Resta-me esperar. E, disseram-me hoje, saber pedir presenças. Nunca o soube fazer. Acho sempre que estou a incomodar. Que estou a mais. E por isso não peço presenças. Assim como não peço ajuda quando o devia estar a fazer agora…
Mais uma vez: esta doença não me vai matar. Mas não me matem vocês já. O funeral, já percebi, já foi feito mas eu nem estive presente…
Presenças. É só disso que eu preciso agora. Porque eu continuo a ser EU. Igual a mim própria. Por isso, não se façam ainda mais ausentes do que já estão…não é assim que me vão ajudar. Em nada…
