Quarta feira é o dia mais preenchido da semana. De manhã, fisioterapia. Ao fim do dia Yoga e Nidra.
Antes de vir aqui escrever, tenho estado a pensar que não, o dia não foi bom. Mas também não foi mau. Foi só um dia que começou muito cedo, não parou para um intervalo entre o pós almoço e o lanche antes do Yoga como acontece sempre para recuperar da fisioterapia e seguir em condições para o Yoga. Nesse intervalo de tempo que eu tinha reservado para descansar, fizeram-me perder tempo em chamadas para a Segurança Social e para a parte administrativa do SNS. E esta última foi mesmo uma total perda de tempo e até algo surreal. Fez-me perder tempo. E eu detesto que me façam perder tempo…
Consegui, ainda assim e muito cansada, lanchar, mudar de roupa, arrumar na mochila o material para o Yoga, sair de casa a tempo de beber um café, seguir caminho calmamente e ainda chegar antes da hora.
Já não passo sem o Yoga e cada vez tenho mais vontade de inserir rotinas de Yoga no meu dia. Gostava de conseguir fazer um ou outro asana logo de manhã ao acordar, para alongar e energizar o corpo para o resto do dia, mesmo que não tenha nada para fazer. E terminar o dia com um ou outro assana de relaxamento para uma noite tranquila. Tenho que falar com o Pedro, o professor, sobre isso. Tenho que ter alguma coisa para fazer durante o dia. Para não me sentir como me sinto todos os dias: inútil.
E hoje, dia de Nidra depois da aula, ou seja aquele momento de relaxamento profundo com meditação guiada, a miúda do sorriso fácil que não tem conseguido sorrir em pleno relaxamento e meditação deu por si a sorrir pela experiência que estava a ter… Flutuar. Até ao azul do céu. Perto das estrelas. Por entre as nuvens. E ver, lá em baixo, a nossa casa, o planeta Terra. Só quem já experimentou algo do género me irá entender. Mas posso dizer: foi tão bom. E o sorriso simplesmente apareceu quando tudo o resto, todo o corpo, estava profundamente relaxado. E a flutuar por aí.
No final, depois de voltar ao tapete e à sala onde fazemos a aula, comentei com o Pedro a questão do meu sorriso ter aparecido no meio da meditação. E o rosto dele iluminou-se e disse-me “é porque resultou!” E, já percebi, é este o meu caminho. É por aqui.
Ficámos de falar amanhã. Com mais tempo, porque ele teve que sair logo. “Conversamos amanhã com mais tempo”, disse ele. Se vamos conversar ou não, não faço ideia, mas é bom perceber que estou no caminho certo.
No caminho de regresso a casa lembrei-me que, de manhã na fisioterapia, também tive um momento que me soube muito bem. Ao chegar ao ginásio, o Zé Tó, que conheci quando era transportada pelos Bombeiros de Almada, cumprimenta-me sempre. “Bom dia, Catarina!” Mas hoje, e para minha surpresa, acrescentou “o senhor Rui mandou um beijinho!” E o bem que me soube! O senhor Rui é um dos Bombeiros de Almada que efectua transporte de doentes não urgentes para consultas e/ou tratamentos. E que durante várias semanas me levou à fisioterapia e trazia de volta a casa. Uma pessoa cinco estrelas. Educado, bem formado, bem disposto, com quem eu ia sempre a conversar. Fosse qual fosse o assunto. Não vejo o senhor Rui desde a minha última ida ao Hospital, em que passei pelo Serviço de Medicina Física e Reabilitação a uma hora que sabia que, muito provavelmente, o iria encontrar. Fiz questão, claro, de me desviar do meu caminho para o ir cumprimentar. E fui muito bem recebida por ele. Quando comecei a fisioterapia na clínica já sabia que me iria cruzar com o Zé Tó que continua a ser transportado pelos Bombeiros de Almada, logo, pelo senhor Rui. Já tenho dito ao Zé Tó para mandar um beijinho meu ao senhor Rui, mas nunca esperei que retribuísse. Por isso, esta manhã ao ser recebida no ginásio da clínica pelo Zé Tó, soube muito bem. Um dia faço uma visita ao quartel dos Bombeiros só para dizer um Olá. Porque há pessoas que passam por nós e nos marcam pela positiva. E o senhor Rui é uma dessas pessoas.
Não me posso queixar muito do dia de hoje. Porque, para além do sorriso que surgiu na meditação e o doce recado matinal do Zé Tó, à noite tive a oportunidade (e a necessidade!) de mandar cá para fora tanta coisa que me anda a consumir nos últimos dias. Despejei tudo com quem está à distância de um clique. Mas que, há um ano, tem estado sempre. E que desde o primeiro momento que está ao corrente do que se passa comigo. Sei que, muitas vezes, a frustração lhe bate à porta quando sabe que não estou bem e não pode fazer nada. E, acredito, com tudo o que despejei hoje, a frustração voltou a incomodar. Mas, e para mim o mais importante, foi ter-me dito que não faz questão de ir a lado nenhum quando lhe disse que não era obrigado a ficar pelo peso do que me apanhou na curva.
Portanto, com calma e tempo para escrever e reflectir sobre o dia de hoje que no início deste longo texto eu achava que tinha sido uma merda, percebo agora que não, não foi. Teve pelo menos três coisas boas, três pontos positivos. E isso é o suficiente para dizer que, afinal, apesar de pelo meio me terem feito perder tempo, até foi um dia bom.
Agora que já é tarde, muito tarde, está mais do que na hora de ir, finalmente, descansar. Amanhã não tenho programa para o dia, mas gostava que o Pedro, o professor de Yoga, me ligasse para conversarmos um bocadinho sobre o Nidra de hoje e sobre outras coisas que vamos sempre deixando pelo caminho. Por isso, sim, hoje foi um bom dia. Amanhã? Vai ser um dia preguiçoso. E depois logo se vê.
