Daily Archives: 13/08/2024

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Primeiro dia sem Fisioterapia…sem Yoga…sem consultas ou análises…ou seja, primeiro dia sem rigorosamente nada para fazer.

É verdade que, entre ciclos de Fisioterapia, já tive vários dias assim: completamente vazios e sem rigorosamente nada para fazer, portanto este não é exactamente o primeiro dia sem rigorosamente nada para fazer. Mas parece… Entrei de tal forma no ritmo diário de sair de casa de manhã que agora sinto-lhe a falta.

Para o dia de hoje havia, de facto, algo previsto que, infelizmente, não foi possível realizar. Mas não duvido que venha a ser remarcado.

E agora é aquela parte em que digo que aproveitei o dia para descansar. E vocês perguntam: mas descansar do quê se há 11 meses que estás sem trabalhar e não fazes nada o dia todo, todos os dias? Pois…Eu própria pergunto o mesmo. Não sei. Apenas sei que, apesar de tudo, me sinto cansada. Se é consequência do que me apanhou na curva? Aquela questão da fadiga? Não sei…ainda não me ensinaram a reconhecer a fadiga, a distingui-la do normal cansaço ou da simples preguiça. Não sei, de facto. Só sei que todos os dias me sinto cansada. Faça o que fizer. Ou mesmo que não faça nada.

Há um cansaço que conheço bem. Que é este cansaço que sinto por causa da (ainda) surpresa do que me apanhou na curva, das dificuldades que (já) me trouxe, da (ainda) falta de tratamento em jeito de medicação. Sim, disto eu sei que estou cansada. E ainda estou no início desta aventura que veio para ficar sem possibilidade de, um dia, passar.

Tento desligar do assunto. Tento esquecer-me. Tento fazer de conta. É só um sonho mau demasiado longo do qual um dia vou acordar. Só que, já sei, não é um sonho mau demasiado longo do qual um dia vou acordar. É a realidade que me bateu à porta. Porta essa que, de alguma forma, foi aberta sem eu saber como e permitiu que essa realidade entrasse na minha vida.

Um dia, sabe-se lá quando, pode ser que aceite. E que aprenda a ver o lado positivo disto, se é que existe. E, com tempo, sem pressa e sem pressão, gostava mesmo muito de mudar o discurso de “porquê eu?” para “e porque não eu?”. Fazer diferente, fazer a diferença, fazer alguma coisa que nem eu sei se posso fazer e, em podendo, como fazê-lo ou o que fazer.

Não sei. Estou muito cansada. Muito confusa. Muito nem eu sei bem o quê. Mas, segundo o que o psiquiatra deixou registado no meu processo clínico a que tanto a médica de família como a Segurança Social têm acesso, “a Catarina está bem da Depressão“. Só que não, não está! Sair de casa todos os dias para ir à Fisioterapia não é sinónimo de não estar deprimida. É tratar de mim, de uma condição que me afecta fisicamente e que eu quero travar ou até reverter, se é que é possível reverter e eu já sei que não é! Ainda sem medicação, resta-me a Fisioterapia e é isso que me obriga a sair de casa todos os dias. E o obrigar-me a sair de casa ao fim do dia para ir à rua apanhar ar, ver o resto da luz do Sol e beber um café também não é sinónimo de não estar deprimida. É, sim, uma ferramenta que aprendi com o terapeuta fofinho para evitar o isolamento. Por isso não!, a Catarina não está bem da Depressão!

E o isolamento, mesmo saindo de casa todos os dias, existe. Não que eu o procure. Porque eu procuro exactamente o oposto. Mas poucos, muito poucos, são os que se fazem presente.

Deprimida. Isolada. Sem rigorosamente nada para fazer. Sem ver ninguém. Sem conversar com (praticamente) ninguém. Sozinha. Completamente sozinha. Mas, se o psiquiatra diz que “a Catarina está bem”…encolho os ombros e penso que depois logo se vê.

Não sei quando será a próxima consulta. Sei, sim, que este psiquiatra, aquele que dispensa título de Doutor e o apelido, só regressa no próximo ano e já encaminhou o meu processo para um colega me acompanhar até lá. Mas quando é que será a próxima consulta? Ninguém sabe…

Sei, sim, que estou cansada. E, mais uma vez, falhei o objetivo de me deitar cedo. A noite já começa a roçar a madrugada e eu, que achava que não tinha nada para escrever hoje, deixei correr a pena e ainda aqui estou…

Mas não por muito mais tempo. O sono começa a apertar. Por isso dou o dia por terminado por hoje. Amanhã, já sei, não tenho rigorosamente nada para fazer, por isso logo se vê como será…