Daily Archives: 06/09/2024

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Sexta feira, 6 de Setembro, aquele dia pelo qual eu esperava desde a primeira consulta a 17 de Julho: finalmente nova consulta com o psicólogo.

E, sem dúvida, fiquei muito mal habituada com o terapeuta fofinho e os praticamente 8 anos em que fui acompanhada por ele: tinha tempo para falar. Sei que, no Hospital, não posso contar com consultas de 3 horas como tantas vezes aconteceu com o terapeuta fofinho. No Hospital, as consultas são contadas ao segundo. E hoje não podia ter sido de outra forma.

Tanta coisa que tenho para trabalhar com ele e tão pouco tempo fazem-me falar depressa, com pressa, para ter tempo para falar de tudo e acabar por não falar de quase nada…

E perceber, de uma vez, que a Depressão é tão fácil de esconder. Porque por fora podem ver-me a sorrir, a rir, a fazer piadas e dizerem-me logo no início da consulta que estou muito animada. Por fora podem ver tudo isso, mas o que vai cá dentro só é visível com tempo e trabalho. E, ali, o tempo é contado ao segundo. E o aparentar estar tão animada nada mais é do que uma espécie de bóia de salvação. Salvação do quê? De mim mesma. Do que trago cá dentro.

Na primeira consulta, o psicólogo usava máscara cirúrgica por causa dos surtos activos que havia naquela altura. Hoje, já tinha decidido, ia pedir-lhe para retirar a máscara nem que fosse por 10 segundos só para poder associar uma cara a um nome, a um especialista que me segue e que me irá ajudar a trabalhar e arrumar o caos que carrego comigo. Mas, assim que me chamou para a consulta, percebi que esse pedido não ia ser necessário: hoje não trazia máscara cirúrgica. E, no final da consulta, percebi que quem estava a usar máscara hoje era eu. Não uma máscara cirúrgica, apenas uma cara sorridente e animada que em pouco ou nada corresponde ao que trago cá dentro…

Não, eu não estou bem. Já me conheço o suficiente para saber que por fora posso estar perfeitamente bem disposta, mas cá dentro está tanta coisa desfeita, a doer e a sangrar. Por isso, não é estranho que a primeira coisa que tenha dito quando iniciámos a consulta tenha sido “sinto-me completamente perdida”. Tentei explicar o porquê. Falei-lhe no mapa que tenho na cabeça onde tudo está baralhado e não existe o pino a informar “você está aqui”.

Falámos disto que me apanhou na curva. Disse-lhe que ainda estou na fase da não aceitação. Que continuo à espera da medicação. Que as dificuldades e limitações são cada vez mais evidentes. Mas não soube pedir ajuda. Não directamente. Provavelmente porque ainda não aceitei isto.

Voltamos a ter consulta no final de Outubro. Outra vez tanto tempo de intervalo… Um mês e meio é muito tempo para quem precisa tanto de orientação, ajuda, chamem-lhe o que quiserem. É muito tempo…

Mas, já sei, terei que viver um dia de cada vez até chegar à data da consulta e não adianta contar o tempo que falta, não será por isso que a consulta vai chegar mais depressa…

Páro. Respiro fundo. Respiração profunda e consciente. Lambo as feridas. E logo se vê como vou aguentar este mês e meio até à próxima consulta…

Por agora, que já é bem mais tarde do que eu queria para ir dormir, dou o dia por terminado mas com a cabeça num turbilhão. Amanhã, Sábado, é dia de acordar cedo, é dia de Yoga. Que é o que me tem realmente ajudado a desligar do Mundo por um bocado. Depois? Quando voltar para casa? Ou volto para a cama ou refugio-me no sofá. Longe do Mundo, de tudo e de todos. E, se adormecer, é da forma que não vejo o tempo passar…