Às 19h15 o Sol (ainda) bate directamente na minha janela. Sei que já não vai demorar muito tempo até deixar de o fazer e só lá para finais de Março volta aqui. Hoje reclamo que, a esta hora, o Sol ainda está quente e não consigo estar muito tempo tempo no cadeirão por causa disso a menos que baixe as cortinas. E mesmo assim… Sei que lhe vou sentir a falta naqueles 6 meses em que não bater aqui, mas também sei que, sendo eu, tenho que reclamar porque sim, porque não e ainda porque também…
Tirando isso, hoje estou num daqueles dias em que me apetece (muito) conversar. Ao fim de uma hora na esplanada com a minha mãe, em plena hora de jantar (jantar esse que, por minha causa, só aconteceu lá pelas 22h), dizia eu que ao fim de uma hora de esplanada com a minha mãe, não sei como é que ela (ainda) não me disse “cala-te um bocadinho”. Quero dizer, sei! É minha mãe!
Mas, lamento, não só me apetece (muito) conversar como PRECISO de o fazer. Tenho alguma coisa de jeito para dizer? Não, nem por isso. Mas, cada vez mais, sinto uma enorme necessidade de conversar. Ou, por outras palavras, COMUNICAR. Se tenho com quem conversar de viva voz? Tenho a minha mãe. E muito raramente uma ou outra pessoa. Talvez por isso o tente fazer por escrito. Ajuda. Mas serve para alguma coisa? Só se for para tirar de dentro de mim a pressão que trago cá dentro.
Se houver por aí alguém que queira conversar de viva voz, mesmo que eu não tenha nada de jeito para dizer, sintam-se à vontade de ligar. Qualquer Messenger ou Instagram tem a função de fazer chamadas de voz, nem precisam de ter o meu número de telemóvel. Eu tenho é que deitar tudo cá para fora, mesmo que esse tudo seja…nada!
Entretanto, sexta feira na sala de espera deprimida do Hospital Garcia de Orta, a sala de espera da consulta externa dos serviços de Psicologia e Psiquiatria.
A Depressão é, de facto, um lugar escuro. Mas não é obrigatório que, visto por fora, o doente deprimido tenha que apresentar um ar escuro, triste, pesado. Também faz parte, é verdade. Mas também é possível um doente deprimido apresentar-se na consulta com uma “máscara”, aquela máscara cheia de brilho e cor que transparece sorrisos e tenta abafar risos. Tanto os sorrisos e os risos que a tal máscara transparece nada mais são do que armas espontâneas de defesa contra a escuridão que carrega. São uma espécie de camuflagem que permite a integração no ambiente que o rodeia. Por isso, quando um doente deprimido entra no consultório do psicólogo a rir e a fazer piadas, não quer necessariamente dizer que “está muito animada hoje”, como me disse o psicólogo na sexta feira.
É preciso tempo, muito tempo, e disponibilidade para permitir que o doente deprimido se sinta seguro para deixar cair a máscara.
Sim, a Depressão tem cura. Mas deixar cair a máscara é dos passos mais difíceis quando se inicia o caminho da cura com alguém que acabou de entrar na nossa vida e (ainda) não nos conhece. Por isso, sim!, dêem-me tempo para me permitir deixar cair a máscara. Só depois disso é que me vai ser possível encontrar o caminho no mapa para a cura.
Mas pedir ajuda não é vergonha nenhuma. Por isso, se precisares de sair da escuridão, respira fundo e PEDE ajuda. Há muita luz e cor lá fora. E ajuda para encontrar o caminho.