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Já foi há muito tempo, mas ainda me lembro de quando estava a aprender a atar os atacadores. Lembro-me da confusão que fazia na minha cabeça todas aquelas voltas que tinha que dar para formar um laço e, finalmente, conseguir dar um nó para prender o laço e terminar com outro nó para evitar que todo o trabalho se desfizesse. Lembro-me, também, daquele momento da transição do “ainda não consegui” para o “já está!”. E, quando finalmente cheguei ao “já está!”, lembro-me tão bem do orgulho que senti naquele momento. Vejo na minha cabeça esse momento em que acabei de atar os atacadores com sucesso, me levantei do chão do local de trabalho da minha mãe, soltei um sorriso largo carregado daquele orgulho da infância quando passamos a ser um bocadinho mais crescidos. Levantei-me do chão, enchi orgulhosamente o peito de ar e, de sorriso imenso no rosto, dei a mão à minha mãe e seguimos juntas para atravessar a estrada e seguir o nosso caminho.

A minha memória lembra-me, frequentemente, de coisas aparentemente pequeninas e sem importância. Como aconteceu agora com este episódio que aconteceu há mais de 40 anos. Num tempo distante, numa realidade distante, numa vida distante.

E quando, passados tantos anos desde essa aprendizagem de algo que todos acabamos por dar por garantido, a dificuldade para atar os atacadores surge é normal que com ela venha a frustração. E a revolta. E o facto de ficar zangada. Muito zangada!

Sei exactamente quais são todos os movimentos que tenho que dar para que os atacadores fiquem justos e não desfaçam o nó. Mas as minhas mãos…as minhas mãos já se atrapalham, os dedos baralham-se e os atacadores passam a ser um desafio diário que me dão vontade de deitar tudo ao ar e barafustar! Barafustar muito!

A parte cognitiva pode até não estar nem vir a ser afectada. Mas a motricidade…então a motricidade fina deixa-me profundamente zangada! Mas aceito o desafio e repito o ritual dos atacadores as vezes que forem precisas até ter a certeza que ficam bem apertados!

E tudo o resto que, agora, assumo como sendo um desafio, enfrento de cabeça erguida! E, aos poucos, voltarei a largar um sorriso grande e encherei o peito de orgulho!

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