{#224.143.2024}

Domingo. Aquele dia de dormir até mais tarde e não fazer nada. Dormir até mais tarde não aconteceu, muito pelo contrário. Afinal, todos os dias dos próximos meses o despertador toca às 7h da manhã para tomar o antibiótico em jejum. Hoje já não me recordo a que horas acordei para, de facto, tomar o antibiótico, sei que foi mais tarde do que era suposto, mas este não obriga a hora certa, só obriga ao jejum. E assim foi.

Uma hora depois, o pequeno almoço. E, mais uma vez, a constatação de não ter absolutamente nada para fazer…e é isso que me tem custado mais nos últimos meses. É ficar a ver o tempo passar sem ter nada para fazer. É verdade que nos últimos meses tenho tido diariamente a fisioterapia a meio da manhã. Que à hora de almoço está terminada. E o resto do dia? Tirando o Yoga à quinta feira ao final do dia e ao Sábado de manhã, nada

Tenho noção de que deveria encontrar alguma coisa para fazer. Mas não faço ideia do quê. Ler não é opção, ou porque estou em fase de visão dupla ou porque simplesmente não consigo concentrar-me para o fazer. Tenho um desafio que aceitei e que foi designado de projecto por Ele: escrever, à mão, uma carta. Mas não uma carta qualquer. Uma carta daquelas especiais que se escrevem para pessoas especiais. Uma carta de amor.

Não me lembro de alguma vez ter escrito uma carta declaradamente de amor. Sei que já escrevi muita coisa mais ou menos apaixonada, mas raras foram as que chegaram às mãos de alguém. Provavelmente por não serem, de facto, cartas. Apenas desabafos meus, registos de algo que sentia no momento e que não sei dizer se era amor ou outra coisa qualquer. Mas agora, neste momento, sei. Sei que é amor e que escrever essa carta faz todo o sentido.

Ainda não comecei a escrever no papel, mas na minha cabeça a carta todos os dias se desenvolve mais um bocadinho. Todos os dias há mais alguma coisa a acrescentar, a dizer, a querer deixar registado. Porque, e já lhe disse hoje, o que está escrito fica para sempre. Mas o que é dito de viva voz tem outro peso embora também fique para sempre guardado na memória…

Voltei para a cama depois do pequeno almoço. Nada para fazer, uma carta de amor para escrever e sem saber por onde ou mesmo como começar, corpo cansado sei lá do quê, voltei para a cama. Adormeci rapidamente e, como já começa a ser hábito, com o telemóvel na mão… Este é aquele escape de quem não quer ficar de braços cruzados a ver o tempo passar. Ou seja, é o meu escape. E o tempo passou e eu não me preocupei em simplesmente vê-lo passar. Fiz o que o meu corpo pediu: dormi.

Acordei com a gata a chamar por mim. Estávamos as duas sozinhas em casa. Não sei ao certo o que ela queria. Mas, ao acordar e pegar no telemóvel, vi que tinha uma mensagem de voz. Dele. E, mais uma vez digo, o que é dito de viva voz tem outro peso. E, nessa mensagem de voz, com o peso que uma mensagem de viva voz tem, lá estavam as palavras todas, as palavras certas. As palavras que eu queria tanto ouvir mesmo já as tendo sentido todas, todos os dias, a todas as horas…

Domingo é o dia de não fazer nada. E eu não fiz, de facto, grande coisa. Ao final da tarde ainda fui à rua beber um café, andar um pouco, apanhar ar, ver o céu azul, encontrar a Lua que olha por mim e que conhece todos os meus segredos e a quem peço que entregue um beijo meu a quem me desafia a escrever uma carta de amor e que está a 135km daqui ou à distância de um clique. Sim, Domingo é dia de não fazer nada e eu não fiz grande coisa. Apenas me apaixonei mais um bocadinho depois daquela mensagem de voz que esperava por mim quando acordei. E só isso já é tanto e tão bom.

A esta hora já tardia em que a noite começa a roçar a madrugada está mais do que na hora de ir descansar. Ir dormir. Amanhã é o último dia deste ciclo de fisioterapia, portanto é dia de acordar cedo e sair de casa cedo. Por isso dou o dia por terminado. Mas é um dia que termina com um sorriso no rosto porque o que é dito de viva voz, as palavras todas, as palavras certas, tudo isso tem outro peso. E esse peso é o do sorriso que trago no rosto e no olhar. E amanhã o sorriso continuará presente para quem o quiser ver. O resto? Logo se vê, como sempre.

{comentários}

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.