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Hoje, como ontem, fechada na minha concha, isolada do Mundo, de tudo e de todos por opção e necessidade. Todos menos ele, claro.

Há quem me diga para descansar. E eu descanso. Não sei do que é que estou cansada quando não faço nada, mas até isso cansa. Por isso, descanso.

Todos os dias acordo relativamente cedo, sem propósito ou objectivo que não seja ver o tempo passar. Tomo o pequeno almoço. Bebo o meu café. E sinto o regresso violento e forte do sono que foi interrompido ali umas duas horas antes sem necessidade. E não é possível resistir a esse sono forte e violento que toma conta de mim. Nem o café o consegue vencer…

Volto a dormir. Mais 3 horas? 4 horas? Não sei, mas são as horas que o meu corpo me exige. Para descansar não sei do quê…

Depois do almoço, novamente o café e novamente aquela sonolência sempre presente, mas nem sempre tão forte e violenta. Mas há dias, ou tardes!, em que não lhe consigo resistir. E o sofá sabe tão bem como me aconchegar…

Se esta tarde dormi depois do almoço? Muito sinceramente, é coisa de que já não me lembro. Sei que enrosquei no sofá, desligada do Mundo, isolada de tudo e de todos menos dele, mas não me lembro mesmo do que aconteceu esta tarde…

Sei, sim, que não saí nem tive vontade de sair de casa. E cada vez tenho menos vontade. Faz-me falta retomar a fisioterapia, não só porque preciso mesmo muito de trabalhar o equilíbrio com orientação de um fisioterapeuta, mas também porque me faz sair de casa, porque me obriga a dar uso às pernas, a cansar o corpo de forma que justifique o cansaço que sinto todos os dias e que, neste momento em que não saio de casa, só vejo ser possível se for um cansaço mental. Não vejo outra explicação…

Ainda estamos no Verão, é verdade, mas o vento forte, a Nortada feia que insiste em não ir embora faz arrefecer os dias. Dentro de casa é preciso manta para não arrefecer quando me enrosco no sofá. Mas, mais perto do final do dia, o Sol bate directo na janela e a casa aquece um pouco. E, com ela, já percebi que aqueço eu também. Um aquecer estranho em que mais parece que o meu corpo inteiro começa a destilar por causa de um calor absurdo que não aguento. Mesmo que só eu sinta esse calor. Mesmo que, da janela, entre ar frio, é um calor que eu não consigo aguentar, que parece fazer o meu corpo destilar, mas ao mesmo tempo sem transpirar… Não sei que raio de calor é este, mas sei que não são afrontamentos. Ainda não cheguei a essa fase. Mas, pelo que já fui lendo, é a ausência de auto-regulação da temperatura corporal e também faz parte disto que me apanhou na curva…

E foi esse calor insuportável que me fez sair de casa depois de jantar para ir beber um café ao único café que estava aberto hoje às 9h da noite. Porque a esplanada do costume está de férias, o café ao lado fecha às 20h, o restaurante com esplanada no jardim encerra às quartas feiras, a esplanada alternativa em frente ao parque fecha às 19h, o café mais próximo fecha antes das 18h e sobra aquele lá ao fundo, ao pé da paragem do autocarro, que não sendo demasiado longe, porque não é!, está a 17 minutos de distância no meu acelerado passo devagar, devagarinho…

Café com esplanada, onde pude beber um café, fumar um cigarro, arrefecer este calor absurdo com o vento e, às 21h48, ser convidada a sair porque o café fecha às 22h…

Novamente 17 minutos para voltar, devagar, devagarinho. Envergonhar quem acabou de estacionar o carro atravessado em cima do passeio até ficar a 10cm da parede do prédio, eu querer passar, não poder, recusar-me a ir pela estrada, o dono do carro sair do carro, ver-me, ouvir o que não gostou, voltar a entrar no carro, afastá-lo da parede para eu poder passar juntamente com a minha mãe, o meu necessário apoio à direita, para voltar a avançar até à parede para que quem vier depois tenha que seguir pela estrada… Não dá para perceber esta gente que quer ter o carro estacionado dentro de casa.

Chegar a casa, finalmente. Naquela estranha mistura de tenho calor mas também tenho frio… E olhos embaçados. Tal e qual como se, de repente, os meus olhos ficassem embaciados. Já não bastava a visão dupla? Tudo isto faz parte daquilo que me apanhou na curva. E eu estou farta…

Dizem-me para descansar. E é isso que tenho feito. Na minha concha, isolada do Mundo e de tudo e de todos. Não quero saber. O Mundo, pelos vistos, também não quer saber de mim. A minha única ligação directa com alguém é com ele. Sempre com ele. O único que ainda me aconchega. Que, sei-o, se sente frustrado por não poder fazer nada para me ajudar. Já lhe disse, ele já sabe, basta que ele esteja , à distância de um clique. Sabê-lo , especialmente nos dias menos bons, é a melhor forma de me ajudar. Porque ele estando , à distância de um clique, significa que não desiste de mim, apesar disto que me apanhou na curva e tudo o resto que me tem caído em cima nas últimas semanas e que ele tem acompanhado de perto porque não lhe escondo nada.

Tudo isto é uma treta. Para não dizer logo que é uma merda! E não, hoje não foi um dia muito bom. Nem muito mau, na verdade. Foi só mais um dia igual aos outros, a ver o tempo passar. E eu não gosto de ver o tempo passar sem nada a acontecer…mas a verdade é que nada acontece!

A medicação que tarda. A consulta com o especialista daqui a um mês. O funeral que não acontece. A fisioterapia que não recomeça. A única coisa que ainda me dá esperança de ver alguma coisa a acontecer em breve é a consulta com o psicólogo daqui a 2 dias. E se eu preciso dessa consulta…

Mas agora a noite já começa a roçar a madrugada. É tempo de tentar desligar a cabeça mais uma vez. Voltar a dormir tarde porque agora a luta que travo todos os dias comigo mesma não me deixa ir dormir mais cedo como fazia antes disto. Sei que não me faz bem nenhum ir dormir tarde. Mas não consigo desligar a cabeça cedo…

Amanhã? Logo se vê como corre. Sei que vou ter que sair de casa porque é dia de Yoga, e ainda bem que é! Não me apetece ver ninguém, ouvir ninguém, falar com ninguém. Mas a prática em si é-me demasiado importante para me ajudar a sentir melhor. E só por isso é que amanhã saio de casa e me volto a ligar um bocadinho ao Mundo. Mas só mesmo ao Mundo que se resume às aulas de Yoga. Porque, de resto, estou na minha concha e, quando assim é, não estou para ninguém. Excepto para ele.

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