Um dia demasiado cansado logo desde que o despertador tocou bem cedo é sinónimo de cansaço acumulado. E dou por mim a pensar o que é que fiz ontem para me deixar a mim e à minha mãe tão cansadas e simplesmente não me lembro…
Parei por breves instantes, respirei fundo e de forma consciente várias vezes para tentar realinhar a minha cabeça e a minha memória que, de vez em quando, faz umas pausas cada vez mais frequentes e cada vez mais longas. E nem eu gosto disso nem isso é bom sinal…
Mas respirar fundo e de forma consciente parece ter resultado e já me recordo que, sim!, o dia de ontem foi muito longo e esgotante. Física e emocionalmente. E o resultado apareceu já hoje: acordar tarde, chegar atrasada à fisioterapia, adormecer na marquesa enquanto esperava pelo fisioterapeuta para novos exercícios.
Depois da fisioterapia, uma corrida até ao Hospital para as análises mensais de controlo da função hepática por causa da toma, diária e em jejum!, desde Maio de antibiótico em forma de terapia preventiva da tuberculose latente que habita em mim. As alterações nos resultados das análises existem, felizmente de forma muito ligeira. E a toma do antibiótico termina no final de Fevereiro. Espero que as análises deste mês não tenham grande alteração de valores e que no final de Fevereiro já esteja limpa do bacilo que se alojou sabe-se lá quando e por alma de quem! Mas nunca é demais recordar: os números da tuberculose em Portugal não são falados, mas são assustadores. Façam o teste, não custa nada.
Entretanto a hora de almoço passou, depois da hora de ponta na sala de espera para a recolha de análises e eu não almocei. E a caminho de casa, entre um autocarro e outro, nada como entrar num supermercado, que não o Minipreço!, que é algo tão banal mas que há muitos meses que não fazia. E ver atentamente TODAS as prateleiras de todos os corredores!
Voltar para casa muito mais tarde do que o previsto, mas a tempo da Teleconsulta marcada onde me souberam ouvir, entender e aconselhar. E me relembraram da importância das gavetas arrumadas dos assuntos que nos doem e da necessidade de fazer o luto e abarcar o (re)nascimento. E eu ainda não arrumei os meus assuntos porque ainda nem assinei gavetas tenho. E é nesta altura que, pela primeira vez, finalmente!, alguém percebeu que existe em mim uma grande negação e o enorme desejo de acordar e voltar a estar tudo bem comigo. Negação que, claro, tem que ser combatida, trabalhada. Porque eu ainda preciso de processar, digerir e assumir perante mim mesma que este meu novo normal é real e agora é tempo de me adaptar à minha nova realidade. E, de uma vez, assumir a mudança e mudar o discurso de “porquê eu?” para “e porque não eu?”…
Há muito trabalho a fazer ainda. E, se calhar, este é o momento para começar a construir as minhas gavetas para ir arrumando os meus assuntos e permitir-me fazer o meu luto de mim própria.
E o facto de não conseguir chorar…finalmente!, alguém percebeu que o mais provável é um qualquer bloqueio que me impede de verter uma lágrima que seja! E é preciso desbloquear esse bloqueio, perceber de onde surgiu, enfrentá-lo, trabalhá-lo e resolvê-lo. Só nessa altura serei capaz de chorar novamente. Mas, lá está, tenho que começar por construir as minhas gavetas.
Mas sei que não o conseguirei sozinha. Que irei precisar de tempo e de pessoas. Daquelas que gostam de mim. Que encontram sempre forma de comunicar comigo.
E quando se está de castigo? Há sempre sinais de fumo… Mas a ausência é sentida.
