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Dia de eleições. Não podía faltar, claro. O meu voto vale tanto como o de outra pessoa qualquer, mais rica ou mais pobre, não há qualquer diferença. O voto de um tem exactamente o mesmo valor que o voto do outro. E, com mais ou menos dificuldade, fui. E fiz valer o que vigésimo quinto dia do quarto mês do ano de 1974 me deu, servido por Capitães decididos a mudar o que estava errado. E graças a esses Capitães, homens de imensa coragem, foi-me possível 51 anos depois, e mais uma vez, deixar clara a minha posição, aquilo que considero ser o certo para lutar contra o que está mal e alcançar o que é mais correcto e justo.

Foi-me fisicamente doloroso. Penoso. Mas fui. E votei. Ao contrário de tantos que não se deram ao trabalho de levantar o rabo do sofá.

E, ao início da noite, as primeiras projecções trouxeram uma sombra. Composta por ódio, oportunismo, tantas coisas negativas que não quero apontar mais nenhuma. É uma sombra que nunca pensei ver de perto, no meu país, que me habituei a ver luminoso. A ver livre. E que, por muitos defeitos que possa ter, não precisa, não pode!, voltar atrás no tempo!

E os números que se foram apresentando e confirmando ao longo da noite trouxeram-me dois sentimentos que dispensava:

  • Vergonha alheia pela quantidade de gente que não se deu mesmo ao trabalho de levantar o rabo do sofá. São, por norma, os que mais barulho fazem para reclamar do que está mal, do que é decidido por aqueles escolhidos por terceiros. E, para mim, quem não se dá ao trabalho de levantar o rabo do sofá para decidir sobre o próprio futuro não tem o direito a reclamar…
  • Ainda vergonha alheia também por todos aqueles milhares que colocaram uma cruz no quadrado errado. Uns demasiado novos para, sequer, já terem nascido antes de 1974. Outros, que vêm de há mais tempo, que experimentaram aquele tempo não tão longínquo assim, parecem ter perdido a memória e agora escolheram remar para trás. Como se, atrás, é que fosse bom. Não era!
  • Medo. Muito medo. Vivemos tempos estranhos. Não só por cá. É global. E agora, depois destas eleições e da aproximação dessa sombra já tão demasiadamente visível por cá, é o medo que se apresenta legitimamente. Mas não vou permitir que o medo me domine. E o que puder fazer para dissipar essa sombra, farei…

Decidi que, só por hoje!, não quero saber! Números, posições, reacções, não quero saber! Hoje não! Amanhã o problema vai continuar presente. Nessa altura irei tomar conhecimento dos resultados finais. Hoje não. Só por hoje não quero saber.

…nunca esperei ver o meu país a, devagar, começar a voltar para trás. E no entanto…

Triste. Muito triste com o dia de hoje. Mas com a noção de que cumpri com a minha obrigação: mesmo a muito custo, fiz valer o meu voto!

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