Quinta feira, dia de Yoga. Sendo feriado, e com um Festival a gerar o caos nos trânsito (como se não fosse suficiente o tradicional trânsito rumo à praia em pleno Agosto…), a aula foi antecipada para as 9h. Nem que fosse às 8h como muitas vezes, na brincadeira, o professor Pedro sugere! Não, faltar ao Yoga não está nos meus planos. Mas, sendo feriado, o autocarro que agora preciso de apanhar para percorrer a vila até à outra ponta não tem horário para mim… Na aula de sábado, quando se marcaram as 9h da manhã para hoje, verifiquei de imediato o horário, vi que não havia autocarro, referi esse ponto na aula e de imediato se resolveu: quem me dá boleia em dias de aula de regresso a casa de imediato se ofereceu para me vir buscar. E assim foi.
Ontem à noite, por causa das dores nas pernas, ainda pensei em dispender de uns minutos para o Yoga: Viparita Karani, ou deitar-me no chão com as pernas na parede. Não aconteceu. Estava demasiado cansada, já era muito tarde, tinha muito sono e hoje era dia de acordar cedo. Todos os dias o despertador toca às 7h da manhã para tomar o antibiótico, a minha boleia estava prevista para as 8h40, só posso tomar o pequeno almoço uma hora depois do antibiótico, tinha ali uma boa janela temporal para pôr as pernas na parede 15 minutos.
Às 7h da manhã o despertador tocou, acordei, tomei o antibiótico e preparei tudo para aqueles 15 minutos que tinha prometido a mim mesma. Tapete estendido, encostado à parede, telemóvel prestes a começar a contar os 15 minutos. A custo, não nego, sentei-me no chão em cima do tapete, pus-me em posição para me deitar de costas no chão e levantar as pernas…
Ainda me deitei e foi ao deitar as costas no chão que percebi o quanto as costas me doíam! Não estive deitada mais do que três minutos. Dores impossíveis de aguentar, daquelas que só não me trouxeram lágrimas aos olhos porque eu não consigo chorar, mas que me puseram a transpirar como se tivesse feito uma aula completa.
Desfazer a postura, iniciar a compensação e as dores nas costas a dizerem-me “não!“… Ainda tentei a postura que a fisioterapeuta chama “do gatinho”, cujo nome original em sânscrito desconheço mas que em português é a postura do Gato-Vaca e que o professor Pedro garante ser uma óptima massagem para as costas. E é, de facto. Mas não foi o suficiente para acalmar as dores.
Sei que cheguei à aula muito aflita com dores. De imediato expliquei ao professor Pedro o que se passava e ele, também de imediato, encontrou a solução certa para mim. Não iria fazer nada da aula como as minhas colegas, mas com bolsters, blocos e algumas mantas teria o sítio certo para o exercício certo: alongar e relaxar as costas. E assim foi durante duas horas. De vez em quando ele vinha ver como eu me estava a sentir, ajustar a posição e relembrar-me de respirar. De forma profunda e consciente como em qualquer aula de Yoga, respiração que eu me habituei a levar sempre comigo para todo o lado.
Duas horas depois, desfazer a postura, com a ajuda dele, claro. Mas a verdade é que as dores de costas tinham passado, com excepção da lombar de que me estou sempre a queixar há muito tempo. E o que ficou combinado foi que as próximas aulas serão novamente para alongar e relaxar a coluna, com incidência na lombar, e também tratar pernas na mesma base que as costas.
Senti logo no primeiro dia, já há mais de um ano, que estava bem entregue ao professor Pedro. E já há muito tempo que o tinha confirmado. Hoje? Reforcei essa confirmação e a confiança que, desde o primeiro dia, depositei nele. As aulas são sempre um desafio, sejam mais ou menos suaves, mas sempre muito boas. E, desde o primeiro momento em que eu soube daquilo que, inicialmente, era só uma suspeita, ele está a par do que me apanhou na curva e vai-me acompanhando na progressão das minhas dificuldades. Está, inclusivamente, a preparar um plano de posturas para eu ir fazendo nas aulas quando não consigo fazer as outras. E o tratamento de hoje foi muito bom. Sábado lá estaremos novamente às 9h da manhã, novamente com boleia para lá e regresso. Até porque o próprio professor Pedro faz questão de garantir que eu tenho sempre transporte.
Enfim…eu sabia que o Yoga me ia fazer bem. Mas nunca pensei que dali iria nascer uma rede de apoio daquelas que eu preciso tanto. Mas a rede está lá. E eu sou tão grata por ela.
Depois do Yoga foi chegar a casa, almoçar e aterrar no sofá. Sozinha em casa depois do almoço, sem rigorosamente nada para fazer, cansada sei lá eu do quê, rapidamente adormeci. De óculos, claro, provavelmente para ver melhor os sonhos. Mas a verdade é que durante três horas não estive acessível para ninguém. E o acordar foi muito estranho ao ponto de pensar que já estava a acordar amanhã. E, a primeira dúvida que tive ao acordar, a primeira pergunta que quis fazer: já tomei o antibiótico? Percebi pouco depois que, afinal, ainda era hoje, quinta feira, feriado.
E, no telemóvel, mensagens dele à minha espera. E acordar com mensagens dele, seja logo de manhã cedo como hoje com mensagens que ainda eram de ontem à noite, “hoje vou tomar conta do teu sono” para me deixar saber que estava de serviço e me aconchegar antes de adormecer mas que já só vi esta manhã, ou seja acordar à tarde e saber que também ele apagou no sofá, ou foi fazer uma caminhada, ou outra coisa qualquer, não importa, sabe sempre tão bem.
Assim como também sabe bem ler a poesia que sai daquela alma que reconheci de outras vidas, de outros tempos, sabe-se lá como, aquela poesia, aquelas palavras onde, de vez em quando, me encontro. E hoje…hoje não só me soube bem ler, como me encontrei nas palavras, como me reconheci como destinatária daquela mensagem que me confirmou o que eu já sabia: meu por inteiro.
Por momentos a respiração falhou-me, o ar faltou-me. Li. Reli. Voltei a ler. Não sei quantas vezes o fiz. Mas não é importante o número de vezes que li, reli e voltei a ler. O importante é que, a cada nova leitura, a respiração falhava-me, o ar faltava-me e tudo o resto se confirmava e reforçava.
E só me saía uma palavra para tentar descrever o que aquelas palavras provocaram em mim: FODA-SE! Porque não encontro nenhuma palavra bonita que tenha tanto impacto ou demonstre tanta força como esta. Desta forma. Toda em maiúsculas. Com o respectivo ponto de exclamação! Porque…FODA-SE! Já o leio há mais de um ano, já me encontrei nas palavras dele algumas vezes, mas nunca me tinha falhado a respiração com as palavras dele, nunca o ar me tinha faltado ao lê-lo. Nunca nada do que ele tinha escrito até hoje tinha tido o impacto que teve hoje.
Assusta quando a respiração nos falha? Assusta. Assusta quando nos falta o ar? Claro que sim. Mas não assusta ler aquelas palavras, que tanta gente acha que simplesmente nascem da alma de um poeta, mais ou menos inquieto, sabendo a quem se destinam porque está lá tudo o que é preciso saber.
“Teu por inteiro“. E eu sei que sim. E é por saber que sim que volto ao poema todas as vezes que sentir a tua falta, todas as vezes que sentir saudades tuas. E é também por saber que sim que o meu sorriso está sempre presente desde há mais de um ano e os meus olhos brilham de outra forma. Mesmo nos meus momentos mais difíceis. Porque contigo aí eu sei, desde muito cedo, que não me vais deixar cair e o caminho vai ser feito de mão dada contigo. Sempre. E é também por isso, mas nunca exclusivamente por isso, que te amo de uma forma e com uma força e uma intensidade que não sei, não consigo!, explicar. Até porque isto que sinto não é para ser explicado. Apenas sentido. Vivido. Por mim. E, claro, por ti.
O resto não interessa. Porque o resto é só isso mesmo: o resto.
Amo-te. E também eu sou tua por inteiro.