Ainda funciona, todos os dias úteis, com recolha sempre às 10h30 em ponto a única caixa de correio que substitui os velhinhos (e lindos!) marcos do correio aqui do bairro. Todos os dias a vejo, quando olho para ela, oiço-a a dizer-me “estou à espera que envies mais dos teus postais!”. E eu sei que ela tem razão. Eu é que não estou lá grande coisa para escrever e enviar coisas bonitas para ninguém. Mas sei que ela tem razão…e eu tenho que me reencontrar por aí algures para voltar a fazer coisas bonitas. Como enviar postais.
Hoje o dia não é dos melhores. A manhã começou com uma fantástica aula de Yoga que me afastou da (minha) realidade durante 2 horas. E foi também de manhã que percebi que ainda há pessoas que não conhecemos com o coração do lado certo. Como o condutor do Uber que me levou de manhã até ao Yoga e que, quando chegámos, se prontificou a sair do carro para me ajudar a sair com as mil tralhas que levava comigo. Agradeci, sorri e disse-lhe “não é preciso, eu consigo”.
E, no caminho de regresso a casa, depois da meia boleia, quando atravessei a avenida nos semáforos, a custo, onde ainda me apoiei no pilar antes de avançar para a segunda metade que faltava atravessar, ouvir uma voz “precisa de ajuda para atravessar?”. Era o motorista do autocarro que estava parado no sinal, pronto a sair do autocarro para me ajudar com um sorriso no rosto. Sorri de volta, agradeci e disse que não era preciso só para, logo de seguida, avançar ainda com o sinal verde para mim.
Estas coisas parecem pequeninas. Mas não são. São enormes. Eu insisto em fazer o máximo de coisas possíveis sem ter ajuda. É, claro, uma parte de orgulho a responder por mim e outra parte a não querer desistir de mim.
Mas, às duas pessoas que me aconchegaram esta manhã, só posso mesmo sorrir de volta e dizer “obrigada!”.
E não, o resto do dia não foi fácil e às 22h50 continuava a não ser…
Agora, já de volta a casa, o último sítio onde quero estar, e já depois da meia noite continua a não ser fácil. A cabeça num turbilhão de pensamentos menos bons, vozes que não se calam e ainda se riem de mim e do (mau) estado em que estou e que eu não consigo calar. Já cá as tive antes e foi preciso muito trabalho e muito tempo para as silenciar com a ajuda fundamental do terapeuta fofinho. Agora já não há a presença semanal do terapeuta fofinho. Há um novo psicólogo que vi uma vez há já largas semanas e que voltarei a ver na próxima semana. Tive oportunidade de, na altura, lhe dizer, que tinha muita coisa para trabalhar com ele. Riu-se na altura. Mas nem ele imagina o que trago comigo e que preciso de ajuda para aguentar, arrumar, ultrapassar, resolver, o que lhe quiserem chamar. Mas que, numa só palavra, posso dizer que é para resolver.
Já sei, tenho que serenar, acalmar a cabeça, bater com o pé no chão, afastar de mim todos estes pensamentos menos bons. Mas é fácil? Não. Não é. Porque esses pensamentos reflectem a minha realidade actual. Aquilo que me apanhou na curva e já me trouxe tanta coisa menos boa e em tão pouco tempo. E eu não sei lidar com isto! Não sei o que sentir. Não sei o que esperar. Mas sei que todos os dias são um bocadinho piores que o dia anterior. Seja nas dores, seja na falta de equilíbrio. E hoje foi dia de comunicar à minha mãe o que tenho tentado não comunicar a mim mesma: já uso bengala de apoio à esquerda, é verdade, mas começo a sentir cada vez mais necessidade de ter, em simultâneo, outra bengala de apoio à direita. Porque não dá mais para fingir que não tenho dificuldade em caminhar só com um apoio. E eu não quero nada disto! Mas esta é a minha realidade, que teimo em não querer aceitar!
Por isso, sim!, o novo psicólogo vai ter algum trabalho comigo. E não pode ser uma consulta a cada dois meses. Porque, se for assim, eu não vou conseguir aguentar…
Eu sei que sou muito mais do que isto. Mas está tão difícil de conseguir ser esse tal “muito mais”…
A pergunta que mais repeti esta noite à minha mãe foi “o que é que eu faço à minha vida?”. Ela, claro, não me soube responder. E eu também não…