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Setembro, dia 1, Domingo.

Sempre encarei Setembro como o mês do início de um novo ciclo. Março é o meu mês da renovação, Setembro é o meu mês do início de um novo ciclo. Uma espécie de passagem de ano antecipada. É uma coisa que vem dos tempos de escola, quando era em Setembro que se dava início a um novo ano lectivo. Os tempos de escola passaram, terminaram há muitos anos, ficaram lá atrás, noutros tempos, noutra vida. Mas o início de um novo ciclo, ou de um novo ano, ficou.

Não houve festa de passagem de ano, nunca há, embora ontem à meia noite tenha havido fogo de artifício vindo dos bares de praia para, ainda que com alguns dias de antecedência, darem o Verão por terminado. À meia noite terminou, para os bares de praia, o Verão. À meia noite, e com o fogo de artifício, chegou Setembro, o mês do meu ano novo.

É em Setembro, algures lá pelo meio do mês, que completo um ano de baixa médica. Porque, na altura e mesmo só tendo trabalhado um mês e meio depois de três meses de baixa, não só ouvi mas senti que o meu corpo não aguentava mais os horários, os percursos, a pressão das mais de 50 chamadas diárias. O meu corpo estava no limite. E, nos primeiros três meses de baixa inicial, eu jurava que o meu problema era um Burnout. Que os três meses tinham sido suficientes para descansar e recuperar corpo e mente.

Nada disso aconteceu. Nem o corpo nem a mente recuperaram. E, a meio de Setembro, o meu corpo cedeu. E eu parei. E, até ver, indefinidamente. Porque não era Burnout. Ou, pelo menos, não era só Burnout. Era algo mais. Que ainda hoje não consigo, por muito que me seja necessário escrevê-lo para aceitar, não consigo escrever o nome disto que me apanhou na curva. Não consigo. Porque ainda hoje não aceito, não compreendo, não entendo o “porquê eu?” que, já sei, não tem resposta. Ainda hoje não aceito as dificuldades e limitações que se têm desenvolvido a uma velocidade, para mim, assustadora.

Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não.

Estou farta disto? Muito. Estou cansada. Estou frustrada. Estou triste. Estou revoltada. Estou magoada. Estou, acima de tudo, assustada!

Quero chorar e continuo a não conseguir. Preciso de o fazer. Não para resolver nada!, mas para aliviar este peso que carrego em cima de mim, o peso no peito, o nó na garganta, o nó que me revolve o estômago! Eu preciso mesmo muito de chorar e NÃO CONSIGO!

E depois recordo as palavras da médica de família depois da consulta com o psiquiatra que deixou no meu processo: “está melhor da Depressão”. Não, não está! Não, não estou! Estou a afundar-me a uma velocidade que me assusta, que eu conheço tão bem o processo por já ter passado por ele antes!

E eu sou a primeira a dizer: eu preciso de ajuda. Urgente. Tenho psiquiatra? Tenho, mas que acha que eu estou melhor da Depressão porque, pelos vistos, não ouviu metade do que lhe disse. Tenho psicólogo? Tenho, mas que só vi 1 vez no mês de Julho e que se riu quando eu lhe disse que tenho muito trabalho para ele. Porque tenho! Não é só isto que me apanhou na curva que me leva até ele. É possível que tenha sido isso que levou o psiquiatra a encaminhar-me para a consulta de Psicologia, mas tenho tanto mais para trabalhar, arrumar, resolver…

Tenho consulta com o psicólogo quase dois meses depois esta sexta feira de manhã. Nem vou saber por onde começar por ter tanta coisa em cima de mim. Mas vou-lhe dizer que preciso de ajuda. Da ajuda dele. Não faço ideia de quando voltarei a ter consulta, mas preciso muito de ajuda. Porque não sei a quem mais posso pedir ajuda. Não sei. Só sei que PRECISO de ajuda porque eu sozinha não vou conseguir aguentar tudo por muito mais tempo. E esse tudo é tanto

A minha vontade? É sair daqui, ir para um sítio qualquer longe daqui, no meio do nada, onde NINGUÉM me conheça. Um sítio onde ninguém me faça perguntas. Não me critiquem. Não me julguem. Não me cobrem.

Sim, isso seria isolar-me ainda mais do que já o faço. Mas eu preciso de me afastar desta realidade, deste ambiente que me limita os movimentos, que me prende, que não me deixa respirar, onde há sempre alguém à espera de alguma coisa vinda de mim que eu não posso dar! Porque me pedem, me exigem, me cobram!, um estado positivo que eu não tenho e, neste momento, não consigo ter!

Preciso de tempo para mim. Mas também preciso de espaço para mim! Para trabalhar em mim tudo aquilo que, mental e/ou emocionalmente me está agora a falhar. E eu sei que tenho todo o direito a estar assim! E a querer isolar-me do Mundo. E fechar-me sobre mim mesma e simplesmente sentir tudo o que tenho que sentir, tudo o que tenho para sentir. Sentir tudo o que já sinto, e é tanto e tão confuso, mas que sinto, tenho que sentir porque está cá dentro, preciso de sentir para saber como processar o que sinto.

Respiro fundo. Respiração profunda e consciente. Lambo as feridas. Mas continuo perdida, sem saber onde estou para poder reencontrar-me. E é por isso que preciso de me afastar. De me isolar. De me fechar para o Mundo. De onde vêm de todos os lados exigências e cobranças do que eu não posso dar neste momento: o melhor de mim.

Sim, preciso de ajuda. Preciso muito de ajuda. Urgente. Porque sozinha não vou conseguir voltar a ser EU…

Setembro, início de novo ciclo. Mas, apesar de ser um novo ciclo, mantenho um velho hábito: viver no Mundo do Faz de Conta. Faz de conta que está tudo bem. Faz de conta que eu estou bem. Faz de conta, simplesmente. E eu já sou especialista nesse jogo. Porque, todos os dias, faço de conta que está tudo bem…mas não está.

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