Escrevi ontem aqui no blog que a minha vontade é desaparecer daqui, ir para um sítio qualquer no meio do nada, onde NINGUÉM me conheça, onde não me façam perguntas, onde não me exijam estar aquilo que não consigo estar: bem. Porque, de facto, não o estou. E tenho todo o direito a não o estar.
Só preciso de um sítio longe daqui, no meio do nada mas com árvores à minha volta. Não me perguntem o porquê da necessidade de ter árvores à volta, não o sei explicar. Mas sinto-lhes a falta por perto.
Já sei que desaparecer daqui para um sítio qualquer longe daqui no meio do nada não vai acontecer. Por isso, a alternativa que encontro é fechar-me ainda mais na minha concha. Não procurar nada nem ninguém. Deixar os dias correr e riscá-los do calendário um atrás do outro. A única pessoa que me faz sentido ter presente comigo é ele. Mas, diz-nos a vida e as suas rasteiras, não pode ser. E não é a distância de 135 km, que não é nada, o maior obstáculo. Se calhar é só a pessoa certa no momento errado. E quem somos nós para controlar os momentos certos ou errados? Se calhar este não é, de todo, o nosso momento. Embora já o seja de certa forma. Porque é real. Existe. Só (ainda) não é físico. É tudo à distância de um clique. Mas não foi essa distância de um clique que impediu ou dificultou tudo o que já temos hoje. Que, para uns, é tão pouco a roçar o nada, mas que, para nós, é tanto a roçar o tudo.
E, neste momento, é só disso que preciso: o tanto a roçar o tudo que temos. Que me aconchega todos os dias, em todos os momentos, sejam bons ou maus dias e/ou momentos. Que me conforta quando tudo o que procuro é o conforto do que me faz sentir bem. Que vê em mim mais do que eu mesma vejo. Que acredita mais nas minhas capacidades do que eu mesma arrisco acreditar. E está tão certo em ver e em acreditar em mim mais do que eu mesma. Porque, aos poucos, os meus dias dão-lhe razão. Às vezes nem eu sei muito bem como, mas a verdade é que dão. E o último ano, mas mais especificamente as últimas semanas, têm sido exemplo disso. E, acredito, é por isso que, ao fim de mais de um ano, ele não desistiu de mim. E já disse, várias vezes, que não vai desistir, venha o que vier.
E é só disso que eu preciso: ter, ao meu lado, alguém que, desde o início me disse “fazemos o caminho de mão dada. E, se ficar muito difícil, levo-te ao colo”. É este conforto, esta segurança, este sentimento que partilhamos. É isto. Nada mais do que isto. Que existe. É real. É intenso. É profundo. É recíproco. É quase vital! É só disto que eu preciso para, todos os dias, ter força e coragem e vontade para sair da cama e enfrentar o Mundo. Enfrentar os meus demónios. Os meus monstros. Os meus medos. A minha realidade! É só disto que eu preciso. E tenho! Nele! E é por ele que todos os dias dou um passo de cada vez para enfrentar tudo o que ele sabe que eu consigo superar. E faço-o porque ele sabe que eu sou capaz. E só por isso não merece que eu faça o mínimo de sobrevivência. Ele merece que eu continue a ser EU mesma, que sou tão mais do que tudo o que me caiu em cima nos últimos meses. Ele sabe que eu sou tão mais do que aquilo que por vezes demonstro, que tento esconder gato com o rabo de fora. Ele sabe que eu sou tão mais que tudo isso. Eu também sei. Mas, em momentos de fraqueza e maior desânimo, acabo por me esquecer. Mas lá está ele, ao meu lado, para me relembrar quem sou, o que sou, o que consigo ser!
Sim, é das pessoas mais importantes que tenho. Acima dele, só a minha mãe e os meus sobrinhos. Mas família é um patamar diferente que não é possível comparar com mais ninguém. Por isso, tirando o patamar Família, ele está bem lá em cima no grau de importância, destacado das restantes pessoas importantes que tenho e que são poucas, muito poucas.
Sim, continuo com vontade de desaparecer daqui para um sítio qualquer longe e no meio do nada. E ele, não podendo ir comigo, não deixaria nunca de estar sempre presente à distância de um clique. Continuo com vontade de me isolar do Mundo e de quem me exige e me cobra. Isolar-me de volta para a minha concha já que não tenho para onde ir, nem como ir. Por isso, e mesmo sem sair de onde estou, cada vez me isolo mais na minha concha. Mas com ele sempre comigo. De mão dada comigo desde o meu primeiro momento de dificuldade. Ele sempre comigo porque, e se calhar nem ele sabe, é ele que me impede de desistir de mim mesma.
Fecho-me na minha concha numa última tentativa de o Mundo se esquecer de mim por uns dias. Para me dar tempo. Para me dar espaço. Para que, nesse tempo e nesse espaço, eu me volte a reencontrar, eu me volte a conhecer nesta nova versão de mim mesma. E para que eu mesma me aceite como estou. Não como sou, porque serei sempre EU. Mas como estou: com as dificuldades e limitações que vieram para ficar.
Dêem-me tempo. Dêem-me espaço. Eu preciso de mim mesma, independentemente de qualquer outra ajuda externa que tenha ou ainda venha a ter. EU preciso de MIM mesma. E, por isso mesmo, isolo-me na minha concha para tratar de mim, para cuidar de mim, para me reencontrar no que sou, para me conhecer no que estou. E, ao interior da minha concha onde me escondo, onde me isolo, onde me procuro, só ele terá acesso. Sempre.