As tatuagens são desenhos na pele que ficam para sempre. Como as cicatrizes. A diferença é que as tatuagens, por norma, são marcas positivas mesmo quando, por trás, possam ter uma história menos boa. Mas escolhemos desenhá-las na pele mesmo que a sua origem seja menos boa para recordar o que de bom essa história acabou por nos trazer. A minha primeira tatuagem é um desses casos: conta a história de uma gravidez que durou apenas 42 dias e ficou por ali porque não podia ser, não era para ser. O lado positivo? Confirma que estive grávida, mesmo que apenas por 42 dias, mas que foi tempo mais do que suficiente para sentir um amor imenso que não conhecia, que de certa forma tantos anos depois ainda sinto, por quem não chegou a nascer.
As cicatrizes, essas, são por norma involuntárias. Relembram dor. Sofrimento. Algum acidente. Algo que fisicamente nos feriu.
As cicatrizes, tal como as tatuagens que desenhamos na pele, também nos contam histórias. Mas nenhuma cicatriz conta uma história bonita. Bem, quase nenhuma. Mas todas elas, melhor ou pior, ficam na memória.
Na memória também temos cicatrizes e tatuagens. As cicatrizes são aquelas que não escolhemos. As experiências por que passámos e que deixaram marca negativa. E muitas dessas experiências deixam cicatrizes que fazem doer ao mínimo toque, não interessa quanto tempo já tenha passado.
As tatuagens na memória são aquelas marcas, aqueles desenhos que escolhemos recordar. Que nos levam de volta a determinado momento que, deliberadamente, não queremos esquecer. Porque foi um bom momento. Ou até mesmo muito bom momento. Não interessa que momento seja, interessa apenas ter valido a pena querer ter esse momento tatuado na memória para nos recordar que há momentos únicos. Especiais. Irrepetíveis. E, até, um pouco loucos.
Sou fã de tatuagens. Também gosto de cicatrizes, mas nessas só toco se me permitirem por saber que ainda podem causar dor. Mas as tatuagens são diferentes. E por isso mesmo tento, cada vez mais, desenhar na memória novas tatuagens. Com ele. Cada vez mais com ele. Sejam desenhos pequeninos, quase imperceptíveis mas com importância suficiente para desenhar na memória. Ou sejam momentos de pura loucura dos dois. Não interessa. São momentos para guardar na memória para poder revisitar as vezes que quiser. E são já tantas essas tatuagens na memória. Mas sempre com espaço para mais. Nossas!
Sim, há uma espécie de loucura entre nós. Daquela loucura saudável. Que desenha sorrisos patetas no rosto e ilumina o olhar. E é essa cúmplice na loucura, essa partilha da loucura, que pretendo manter por muito tempo. Porque, para nós, faz sentido. E não tem que fazer sentido para mais ninguém. Porque é algo nosso. Só nosso. E venha o que vier, aconteça o que acontecer, as tatuagens já lá estão desenhadas. Na minha memória. Na memória dele. E essas tatuagens são para sempre. É só revisitar a memória.
Venha o que vier. Aconteça o que acontecer. As tatuagens existem. E são para ficar guardadas na memória de cada um de nós.