Daily Archives: 05/11/2024

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Das coisas que eu teimo em não aprender a fazer: ser mais gentil e positiva COMIGO MESMA!

Na semana passada liguei à Maria, que tinha feito 76 anos uns dias antes e que eu, que só sei datas de aniversário por causa do Facebook e não me lembro quando foi a última vez que lá fui, deixei passar. Dei por mim a puxar por ela, a animá-la, e a ouvir da boca dela “eu gostava tanto de ser tão positiva como a Catarina”. E eu, que pensava mas não dizia, repetia na minha cabeça “mas eu não sou nada positiva“.

Há umas semanas, comecei a conversar com uma pessoa no Instagram, que vive na Índia e que só hoje soube que não tem sequer 30 anos e cujo nome ainda nem sei. Uma miúda, portanto! Ela foi apanhada na curva pela mesma coisa que eu. Mas o que me levou a comentar uma publicação dela foram os ataques de pânico que ela também tem. Com 30 anos de experiência em ataques de pânico e crises de ansiedade dei-lhe o meu exemplo de que é possível sobreviver e até ultrapassar os ataques de pânico.

A partir daí, temos conversado. Contei-lhe as minhas experiências mais marcantes e que superei com mestria no que diz respeito aos ataques de pânico e dei-lhe algumas dicas de como os enfrentar para poder superar.
Hoje falámos de trabalho. O meu que é óptimo para fritar a pipoca e o dela que, na Índia rural, é assustador.
No final da longa conversa de hoje agradeceu-me. Pelas “kind words“, por ser uma “beautiful soul” e por ser “so full of positivity“.

Não sei se sou tudo isso que ela me disse…

Comentei esta conversa com a minha mãe, que também assistiu à conversa que tive com a Maria. E no final, diz-me: “já viste que tu és assim com toda a gente, puxas por todos, és positiva nos problemas dos outros…fazes isso por toda a gente menos por TI?”

O pior é que, como sempre, a minha mãe, que me conhece melhor do que ninguém incluindo eu própria, tem razão. Tem TODA a razão.

Sou gentil e positiva com todos, para todos. Menos comigo. Menos para mim.

Como é que se muda esse chip? Não faço ideia. Só sei que é fácil para qualquer pessoa lidar comigo. Menos para mim. Tenho dito várias vezes que não é fácil ser eu. E não é. E ser positiva e gentil comigo mesma não acontece…e devia!

Este canto da varanda, onde se encontra o meu cadeirão, foi há uns largos meses baptizado, meio a brincar, de Jardim das Leguminosas. Ambos, eu e ele, sabemos que o que ali se encontra não são Leguminosas mas sim Suculentas. Na altura, rimo-nos os dois com a gafe, mas o nome ficou.

De há umas semanas para cá eu, na minha cabeça, chamo-lhe muitas vezes Jardim das Buganvílias, sabendo que seria sempre impossível ter um jardim desses no interior de uma varanda fechada, mas que é o meu sonho.

O cadeirão no Jardim das Leguminosas é onde passo o dia todo, excepto quando adormeço no sofá. São tantas as horas que aqui passo que já pondero em rebaptizar o Jardim. Tem todas as condições para se chamar Jardim da Depressão. Porque é aqui que a sinto tomar conta de mim e com cada vez mais força. E, por mais que peça ajuda, não a tenho.

Aqui neste canto a única coisa que vive realmente são as Suculentas de quem a minha mãe trata todos os dias. Porque eu, como a foto, estou cada vez mais esbatida e a perder a cor e o brilho. E os riscos na foto não são os riscos no corpo…ainda.

É impressionante o silêncio que se ouve quando eu digo “não me sinto bem, preciso de ajuda”. Porque é isso que se ouve cá em casa: silêncio. Ensurdecedor

Hoje li num cartoon:
Como é que se reconhece um verdadeiro amigo?“, perguntou a Raposa.
Espera pela escuridão“, respondeu a Lua, “e vê qual é a Estrela que ainda brilha.”

O meu céu está absolutamente escuro. A única Estrela que ainda brilha é ele, mas ele está tão longe. De resto…o meu céu está absolutamente escuro.

…e só não reconhece um pedido de ajuda quem não quer…

É nestas alturas que faz falta à minha mãe ter um telemóvel. Porque, já que aparenta não me ouvir, podia ser que me lesse