Gosto de livros. Em papel. Os digitais não me seduzem minimamente. Falta-lhes o toque. A textura. Até o cheiro!
E gosto (muito) de livros em 2• mão. Em feiras de velharias a única coisa que me interessa são os livros (e os botões, vá, mas isso são outros 500) e na já extinta Feira da Chincha em Cacilhas fiz belíssimas aquisições de livros em 2• mão. 1984, por exemplo, foi uma delas.
Hoje não fui a nenhuma feira de velharias nem a nenhum alfarrabista. Não sei se fui eu que encontrei Vitorino Nemésio sozinho ali em cima de uma caixa de electricidade ou se foi ele que, sabendo que eu ia passar por ali, ficou à minha espera. Bem, na verdade o Universo deve ter alguma coisa a haver com isso, porque na realidade eu ia fazer o meu caminho no passeio oposto, mas ao passar junto à passadeira que nem era suposto atravessar um rapaz no seu carro acelerado travou bruscamente e fez-me sinal para passar. Agradeci e atravessei a estrada. Afinal, o passeio oposto por onde eu tinha pensado ir ia dar exactamente ao mesmo sítio, só tendo que usar a passadeira mais à frente.
Atravessei conforme o jovem condutor me fez sinal para fazer e, poucos, muito poucos passos mais à frente, lá estava a caixa de electricidade e Vitorino Nemésio à minha espera.
“Limite de Idade”, assim se chama o livro. Uma edição da Editorial Estúdios Cor. Ainda não consegui perceber de que ano é esta edição, sei que a primeira foi em 1972. E esta, que de acordo com o carimbo que consta no interior foi oferta, não deve andar muito longe de 1972.
É um livro de poesia. E, pelo que já li pelo Google, dedica-se, mas não exclusivamente, ao humor negro. Tem tudo para ser bom, portanto!
E, pelo que já folheei, a minha visão dupla quase constante, não vai atrapalhar a leitura. Por isso, este encontro inesperado, veio na hora certa para me iluminar os dias. E, sendo um livro de poesia, é para ir lendo. Sem pressa. Exactamente naquele registo em que me encontro agora: sem pressa.
Aquela travagem brusca daquele jovem condutor junto à passadeira que eu nem ia atravessar, afinal, trouxe alguma coisa boa. E, mesmo não fazendo ideia de quem era o condutor, só lhe tenho a repetir o que lhe disse antes: obrigada!