Sábado é dia de acordar cedo. O Yoga espera por mim às 10h do outro lado da vila. Ontem, e sabendo que hoje tinha que acordar cedo e tendo já programado apanhar o autocarro das 9h e pouco, que leva 7 minutos a chegar ao destino, consegui pela primeira vez em muito tempo ir para a cama antes da meia noite. Isso, obviamente, não significa que tenha conseguido acordar tão cedo como gostaria. Aquele autocarro das 9h e pouco ter-me-ia permitido, com tempo e calma, beber o meu café de frente para o Mar, respirar aquele ar logo de manhã cedo, e chegar a horas à aula. Não aconteceu, claro…
Despachei-me à pressa, e não gosto nada de começar o dia nesse ritmo stressado e stressante, saí de casa já depois do horário do autocarro seguinte e que me seria sempre muito difícil de conseguir apanhar a horas mesmo que me tivesse despachado nem que fosse 10 minutos antes. Chamei um Uber ao mesmo tempo que via o tempo passar e sem veículos disponíveis… Mensagem para o Professor Pedro a avisar que estava à espera de um Uber, que na altura já estava confirmado, e que iria chegar em cima da hora. Mas que, não contrário de quinta feira, ia efectivamente estar presente na aula!
Este sábado a aula programada era Yoda Pradipika, “mais focada na respiração e com mais permanência nas posturas seguindo um conceito mais clássico“. Esta descrição do Professor Pedro deixou-me muito curiosa e interessada na aula, não poderia de modo algum faltar à aula.
O Uber confirmado entretanto cancelou a viagem e o tempo, claro, não pára nem espera por ninguém. A app sugeriu outro que estava por perto, mas de outro escalão. Mais caro, mas mais perto? Claro que sim! Em 2 minutos estava à minha porta e em 5 minutos chegámos ao destino. Faltava precisamente 1 minuto para as 10h. E acho que nunca subi aquelas escadas até ao primeiro piso, até à nossa sala, tão depressa como hoje! Não interessa, o importante é que estava lá! Onde queria estar! Onde precisava de estar!
E a aula foi, mais uma vez, algo de muito especial e muito bom. Mais uma vez percebi que, apesar das minhas dificuldades e limitações, ali há espaço para crescer. E a parte física não é, de todo, a mais importante. E sempre que vou a uma aula sinto que consegui crescer mais um bocadinho. Que me encontrei mais um bocadinho. Porque ali paramos, respiramos e crescemos. Não encontro maneira de explicar o que se passa naquele período dedicado à aula, que é um período dedicado a mim. Mas, no final da aula, mais concretamente no regressar a casa percebo sempre que alguma coisa aconteceu comigo, alguma coisa aconteceu em mim.
Não me peçam para explicar o que é que aconteceu, o que é que acontece em cada aula, não o saberia explicar. Sei, sim, que me sinto, e acredito que estou!, muito diferente de quem era há um ano e meio quando me inscrevi nas aulas. Na altura estava perdida, mas ainda longe de pensar que estava doente. Sabia, sim, que o Yoga me iria ajudar a acalmar a cabeça, que me iria ajudar a acalmar, a desacelerar. Não fazia ideia era que a diferença que eu já sabia que iria acontecer fosse tão grande.
O processo de suspeita das doença começou logo a seguir. E todo o processo levou muito tempo. Mas o Yoga estava lá. Nos dias mais ansiosos, nos mais assustadores, na aceleração da progressão…o Yoga sempre lá. O parar para respirar. Inspiração profunda e consciente. E aprender que nesse momento os pensamentos sobre o que se passa lá fora até podem passar pela nossa cabeça, mas não são para ficar. Esse é o momento em que só existo eu e a minha respiração. Mais nada. E, a cada postura, é a respiração que me permite chegar um bocadinho mais longe. E, como tenho dito ao Professor Pedro desde a primeira aula “hoje não chego lá, mas continuando a prática todos os dias vou conseguir mais um bocadinho e um dia chego lá“.
E assim tem sido. E fico sempre tão contente quando consigo alcançar as posturas que de início conseguia fazer e que a progressão disto que me apanhou na curva me tentou roubar ao diminuir o meu equilíbrio. Sim, porque o equilíbrio continua muito mau, mas o meu trabalho na aula também é tentar melhorar o equilíbrio. E tenho conseguido! Voltei a alcançar as posturas que tantas vezes me deitaram ao chão. Voltei a desafiar a minha falta de equilíbrio e ganhei o desafio.
Há, nas aulas de Yoga, um grande trabalho físico, claro que sim. Só assim conseguimos alcançar e manter as posturas que trabalham o nosso corpo, o nosso fluxo energético. Mas também há um grande e intenso trabalho mental. E eu noto a influência desse trabalho em mim. Especialmente naqueles dias em que me sinto profundamente deprimida e/ou completamente perdida. É aqui que o trabalho mental do Yoga mostra resultados muito positivos. Porque me tem ajudado a pensar com mais calma, mais clareza, a priorizar o que é mais importante: eu.
“Tu tens alcançado coisas que nem tu imaginas“, disse-me o Professor Pedro há umas semanas. E hoje disse-me “estás melhor, a vários níveis! A nível físico, claro. Com mais força anímica. Estás muito melhor!“. E isto acontece porque há muito trabalho a ser feito. Físico em todas as aulas às quais detesto faltar!, e mental todos os dias cá fora.
Cada vez mais sinto um interesse maior sobre o Yoga. Não para me dedicar a 100% à parte física, mas para entender mais e melhor a parte teórica. Ou, se lhe quiserem chamar, a parte filosófica do Yoga. Entender melhor o pensamento. Para além disso, entender melhor como funciona a nível físico, o que é que influencia, o de é que actua, o que é que altera, no fundo como é que faz fluir o nosso fluxo energético.
Não posso deixar de pensar que sim!, sou uma miúda cheia de sorte por, por puro acaso e porque na altura era o sítio mais perto, ter encontrado esta turma e, sem dúvida, este Professor que são, desde o primeiro dia, um suporte imprescindível no meu processo de crescimento interior.
Voltar da aula de Yoga Pradipika foi duro, como é sempre voltar de uma aula de Yoga. Porque, por minha vontade, as aulas teriam uma duração muito maior. E aconteceriam todos os dias! Ou quase todos, vá. Também é preciso dar descanso ao corpo. Mas, sim!, sendo possível a prática ser mais do que apenas dois dias por semana, eu estaria lá. Não sendo possível, trabalho a teoria em casa, encontro um tempo para o trabalho mental e continuo a respirar fundo e de forma consciente sempre que precisar ou só porque sim.
