Monthly Archives: April 2025

{#100.266.2025}

Daquilo que tenho andado a fugir o dia todo: dormir. Porquê, quando é isso que o meu corpo me está a exigir? Não me posso esquecer: foram 600ml de uma vez só de químicos que invadiram o meu corpo. A primeira dose foi muito tranquila? Foi. Porque foram 300ml em duas vezes. É, portanto, normal que, agora, o meu corpo reaja de outra forma. E nada como dar descanso ao corpo para recuperar. Para regenerar. Para voltar a reunir energia e força.

Prometi a mim mesma, há já mais de uma hora, que me ia deitar cedo. Já passa das 22h. Ainda não fui. Eu sei que ainda não é muito tarde nos relógios ditos normais. Mas no meu…aquele que é regido pelo meu corpo, neste momento vulnerável, fragilizado por uma agressão química de 600ml, já é tão tarde.

Dormir, é preciso. Mas esta noite preciso que ele me mexa no cabelo até eu adormecer, que me dê a mão, que se deite ao meu lado e tome conta do meu sono. E sei que ele o vai fazer.

Amanhã…a próxima meta, o próximo objectivo. É chegar lá. Melhor do que hoje.

…se estou assustada…? Não consigo escondê-lo. Mas faço questão de voltar aqui amanhã, nem que seja só para dizer que sobrevivi a esta noite assustadora…porque sim!, tenho medo! Mas acredito que vai correr tudo bem. Nem pode ser de outra forma…

…acho eu.

Até amanhã.

{#099.267.2025}

Com licença, vou só ali ao sofá. Hoje? Completamente esgotada. Totalmente

drained“.


Sim, estou absolutamente ezhorSa.
Mmmdi

..


O que se lê acima é o que acontece quando se adormece enquanto se faz uma publicação…juro que estava acordada quando escrevi a primeira frase. Tudo o resto? Pois…foi a dormir…

{#098.268.2025}

Não é fácil sentir-me segura o suficiente para deixar cair a armadura que me protege. Ou não era fácil. Não era até à chegada dele. Desde o primeiro dia que senti segurança suficiente para alargar, aos poucos, os laços e os nós que desde sempre me ajustaram as diversas partes da minha armadura. Tudo peças estrategicamente colocadas nos meus pontos mais sensíveis, muitos deles, tantos deles!, já anteriormente atacados, magoados, feridos, com cicatrizes ainda à espera de secar. Mas desde a resposta a um simples “Olá” numa qualquer rede social, resposta pronta dele, desde esse dia que, devagarinho, a minha armadura começou a ficar mais relaxada, mais larga, quase como se eu própria tivesse encolhido de tamanho quando na verdade, e muito, tanto!, por causa dele, cresci. E cresci muito, tanto! Ou então não cresci e apenas aprendi a sentir-me verdadeiramente segura com ele e deixei de me encolher. Enchi o peito de ar. Ergui a cabeça. Endireitei o peito e as costas. E permiti-me aliviar os laços e os nós que prendiam as peças da minha armadura…

Com ele aprendi que posso fazer tudo o que quiser, que sou capaz de fazer o que quiser e que dar um passo em frente é dar o passo certo.

Com ele permiti-me, ou fui-me permitindo, deixar cair a armadura. E descobri que é possível despertar uma conexão quase irreal mas que existe em nós, entre nós. Porque, sem rodeios, aceitamo-nos um ao outro tal como cada um de nós é. Partilhamos momentos intensos. Momentos inesquecíveis. Momentos indescritíveis que são só nossos, haja ou não intervenção de terceiros.

São momentos de vibração a um nível que não sei explicar. Ele também não sabe. Mas ambos sentimos. Ambos vibramos. Ambos vivemos esses momentos que são só nossos. Sem medos. Sem tabus. E acima de tudo sem armaduras. Na total vulnerabilidade que só uma extrema confiança permite.

E é essa extrema confiança que vamos crescendo um com o outro. Vamos experenciando momentos irrepetiveis. Vamos vivendo momentos únicos. De pura conexão. De entrega total. De partilha do segredo mais bem guardado: o Eu que pouca gente conhece. Que praticamente ninguém vê. Mas que, no nosso caso, imediatamente reconhecemos um no outro. Porque não vem de agora o que existe entre nós. Já vem de há muito tempo, muito lá para trás, de outro qualquer tempo na História. O primeiro encontro aconteceu há tanto tempo que não foi no nosso tempo. E foi muito lá para trás que nos fundimos de tal forma que o tempo foi passando e nós fomo-nos encontrando e reconhecendo e fundindo num só.

O tempo pode dar as voltas que der. Mas eu e ele acabaremos sempre por nos reencontrar. Pela vibração. Pela conexão. Pelas partilhas. Por nos reconhecermos sem dúvidas, sem medos, sem tabus. E sempre sem armaduras. Porque não precisamos de nos proteger um do outro. Porque somos um só. Eu e ele. Ele e eu. Quando dois são apenas um, completo. Inteiro.

O nosso momento de hoje…pura conexão. Extremo entendimento. Aceitação do outro tal como é. Sem medos. Sem tabus. Simplesmente ser. Eu. Ele. E confirmar que o caminho mais longo é o que nos pertence. E, por ser o mais longo, pode até ser o mais difícil. Mas seguimos o caminho de mão dada. Como desde o primeiro dia.

Não há volta a dar. Eu sou dele. Ele é meu. Somos os dois um só…

{#097.269.2025}

Disto de passar umas quantas horas no Hospital de Dia de Neurologia:
na mochila, levei comigo 2 livros que, sendo de aforismos, queria começar a ler, interiorizar e aplicar nos meus dias em breve; 2 cadernos, um para apontamentos do que preciso de fazer, dos emails que preciso de enviar, a lista de queixas, dores, sinais e sintomas que quero levar à médica de família, e outro, obviamente cor de rosa, que quero dedicar exclusivamente à carta, ou às cartas!, que lhe quero escrever e que já queria ter começado há tanto tempo; um powerbank carregado a 100%; um polvinho azul de tecido que já me acompanhou na primeira toma da medicação há 6 meses, que me aconchega e com quem aninho e enrosco no cadeirão do bunker do Hospital de Dia onde ninguém me pode ir acompanhar e que, na falta do meu polvinho giro-giraço-girassol de carne osso, me faz sentir mais segura; um Tupperware com uma Brownie fabulosa do café com a esplanada das mesas infinitas; garrafa de água.

Estava preparada, como há 6 meses, para as várias horas que iria passar ali com a medicação a ser-me servida directamente numa veia bailarina que se fez difícil de apanhar e se escondeu nas profundezas do meu braço esquerdo.

De tudo isto que levei comigo na mochila, só usei, na verdade, 2 coisas: o polvinho azul de tecido que tirei da mochila assim que me aconcheguei no cadeirão e o powerbank que tirei da mochila segundos antes de adormecer sem ter tido tempo de o ligar ao telemóvel. Claro que o telemóvel ficou sem bateria até que acordei algum tempo depois e, aí sim, consegui pô-lo a carregar. Mas ligar efectivamente o telemóvel só o fiz mais tarde, porque assim que o liguei ao powerbank voltei a adormecer…

Não sei ao certo quanto tempo dormi. Sei, sim, que acordei apenas poucos minutos antes da enfermeira me dizer “pronto, já está. Por hoje já acabou.” Foi rápido. Não em número de horas, que foram muito perto de 6. Mas, a dormir profundamente como eu dormi, tudo passa muito rápido.

Até ver, nada de efeitos secundários depois de 600ml de químicos entrarem no meu corpo. Pode ser que o único efeito secundário seja o mesmo de há 6 meses: dormir o dia seguinte todo. Se for isso, não me chateia.

{#096.270.2025}

Mochila arrumada para amanhã (mas com a certeza de que me estou a esquecer de alguma coisa, só não sei o quê…). Para variar, levo aquilo que se pode quase chamar de “casa às costas”. A saber:

  • 2 livros: “Yoga-Sutra (Aforismos de Yoga)“, de Patañjali, e “Meditações e Aforismos“, de Goethe – porque não tenho muita paciência, neste momento, para romances, mas tenho sempre disponibilidade para coisas que fazem pensar. E estes dois livros vão-me dar muito para pensar, absorver e vivenciar ;
  • 2 cadernos: o dos escritos do dia a dia, cuja capa diz muito sobre mim ao dizer “I’ll do it my way”, porque tem sido sempre assim nos meus últimos 48 anos (que serão, também, os primeiros 48 anos de muitos, espero eu) e o caderno novo de capa cor de rosa (claro que sim!) onde quero escrever, por exemplo, a carta (daquelas ridículas aos olhos do poeta) que me foi pedida por ele há tanto tempo e que ainda não consegui começar…;
  • powerbank carregado a 100%;
  • o meu polvinho azul de tecido que me acompanhou há 6 meses nesta mesma aventura, em que me aconcheguei naquelas longas horas no cadeirão do bunker do Hospital de Dia, mesmo sabendo que, à distância de um clique, outro polvinho, que é ele, vai estar de mão dada comigo como tem estado desde o primeiro dia.

As máscaras FFP2, uma bordeaux e uma roxa (porque, vindo de mim, só podiam ser coloridas!), já estão de lado, a caixa dos óculos será arrumada amanhã e não faço ideia do que é mas sei que me estou a esquecer de alguma coisa…

Passa das 23h30m. Aquela coisa de ir dormir cedo falhou redondamente, claro! Mas ainda tive a oportunidade do telefonema das 21h em que me foi servido um aforismo para guardar, absorver e vivenciar: “Tudo é mutável dentro do Todo” (acho que não me engano…).

Agora? É ir dormir a correr! E amanhã será o que tiver que ser, sabendo que será o melhor para mim.

Boa noite a quem fica e até amanhã.

{#095.271.2025}

Sábado, e como habitualmente o dia começou cedo para mais uma aula de Yoga. Aquele momento em que me ponho à prova perante mim mesma. E onde sei que, se hoje não consigo alcançar a permanência numa postura, todas as vezes que me for proposta irei alcançar mais um bocadinho até conseguir a permanência na posição correcta e completa. Mas sempre sem pressa, sempre sem pressão, minha ou do Professor Pedro. E devagar vamos avançando na prática, eu guiada por ele.

Não fazer absolutamente nada o resto do dia e querer dar descanso ao corpo no sofá. Não saí do cadeirão… Não foi exactamente o que tinha pensado, mas também foi não fazer nada, que era o que se pretendia.

Agora, à hora em que a noite já roça a madrugada, continuo a adiar a saída do cadeirão em direcção à cama. Tento enganar-me a mim mesma dizendo-me que estou tranquila quanto a segunda feira. Mas não estou totalmente…

Não vou insistir em ficar no cadeirão. Estou cansada. A ansiedade começa a apertar. Amanhã é dia de preparar tudo para segunda feira e quero fazê-lo com calma, sem pressa. E, para isso, é preciso ir descansar. Domingo é o único dia da semana sem despertador, por isso…à hora que acordar, acordei. O resto? Logo se vê…mas, em primeiro lugar, eu. Depois logo se vê…

{#094.272.2025}

Que dia tão estranho o de hoje…

Sair do banho de manhã e ter uma inundação na casa de banho que por pouco não chegou ao quarto, à cozinha, à sala e às escadas…

Apanhar a água numa espécie de contra-relógio porque havia um autocarro para apanhar. E lá fora chovia. Muito.

Sair de casa. Já não chovia quando saímos. Mas a grande chuvada de momentos antes tinha sido mais forte do que tínhamos percebido e, como sempre, o nosso bloco de prédios foi transformado numa ilha da qual foi difícil conseguir sair.

Mas saímos. E apanhámos o autocarro a horas.

Fisioterapia terminada, foi voltar para casa. E, em casa, ficar a ver o tempo passar.

Canalizador para tratar da casa de banho, sair de casa para apanhar ar e beber um café. E perceber que o que tinha prometido a mim mesma, dar descanso ao corpo, não foi cumprido. Mais uma vez…

Queria deitar-me cedo. Noutro fuso horário qualquer ainda é cedo. E lembro-me sempre que “menos uma hora nos Açores” faz com que não seja assim tão tarde.

Amanhã? Sair de casa cedo para o Yoga. E depois? Logo se vê…

{#093.273.2025}

Exausta. Quando devia estar a tratar melhor do meu corpo. A prepará-lo para, tranquilamente, daqui a 4 dias voltar a bombardeá-lo com medicação para os próximos 6 meses. E, desta vez, pela primeira vez, uma dose completa de 600ml de químicos para tentar travar a progressão disto que me apanhou na curva.

Adormecer à tarde e acordar quase 5 horas depois é sinal de que preciso de me reorganizar para não abusar do meu corpo e levá-lo quase ao limite.

Hoje (já) é quinta feira. Na segunda feira tenho que estar bem. Descansada. Repousada. Recuperada. E preparada para mais um dia passado no bunker do Hospital de Dia. A receber químicos que não sei se estão a fazer o trabalho que lhes compete. Mas espero realmente que sim. Eu não pedi nada disto. Não procurei nada disto. Mas isto apanhou-me na curva e trouxe-me toda uma nova realidade. E, com ela, um novo normal cheio de novas rotinas. E eu só posso acreditar que tudo o que esse novo normal me trouxe é para me ajudar. E se não for para me deixar melhor, que sirva então para que eu não fique pior. E só isso já é um ganho tremendo.

Claro que, a esta hora em que já é muito tarde, eu já devia estar a dormir. Não estou, como sempre. Mas sexta feira, sábado e domingo vão ter que ser suficientes para me fazer descansar. E para me deixarem bem para segunda.

E claro que mesmo a 4 dias de distância já me estou a preocupar. Vai correr tudo bem? Vai ser tranquilo como foram as duas primeiras meias doses há 6 meses e que agora será uma dose inteira? Vou ter algum efeito secundário? Não tive nada há 6 meses a não ser dormir o dia seguinte inteiro…

Não sei…não quero preocupar-me nem stressar-me nem nada que me inquiete. Mas conheço tão bem o funcionamento da minha cabeça…

Dormir, é preciso! E rapidamente! Amanhã, dia de acordar cedo, mais uma sessão de fisioterapia. Onde só volto lá para quarta ou quinta feira depois do descanso obrigatório pós-medicação. Obrigatório porque eu assim entendo que o seja. Dar tempo ao meu corpo para se recuperar do ataque químico.

Sei que quando regressar à fisioterapia serei recebida de braços abertos e com sorrisos por parte de todos. E saber isso faz-me tão bem. Sei que a clínica será a minha segunda casa daqui para a frente e ali terei sempre uma espécie de segunda família à minha espera com o mesmo objectivo que eu: não ficar pior. E só isso já é suficiente para, de alguma forma, ficar melhor.

Mas, agora, é dormir! Rapidamente! Porque o corpo não só precisa como exige que descanse. E é isso que vou fazer.

Amanhã? Logo se vê. Mas, por hoje, já posso dar o dia por terminado.

{#092.274.2025}

Digo tantas vezes que não tenho tempo para perder Tempo. E não deixa de ser verdade. Não gosto que me façam perder Tempo. E continuo a achar que o Tempo é o bem mais precioso que qualquer um de nós tem, depois da vida, obviamente. Porque o Tempo não é reembolsável e todo o Tempo que temos é o agora. Porque o que já passou não é possível recuperar. E quem é que sabe se daqui a 5 minutos ainda cá estamos…?

No meu momento actual, e não sei até quando, tenho mais tempo livre em mãos. As manhãs são preenchidas com a fisioterapia, mas após as 11h o dia está completamente livre…mas continuo a sentir que não tenho tempo para fazer tudo o que quero! Mesmo que esse tudo seja apenas uma coisa que tenha pensado para determinado dia. O tempo que tenho livre, e é muito tempo!, não me chega para tudo. E também não me chega para nada

Faço as noites esticar para ter mais tempo para fazer o que quero. Deito-me muito mais tarde do que o recomendado quando o que preciso mesmo é de dormir as 8 horas mínimas necessárias. Mas nem assim consigo ter tempo para fazer tudo o que quero…

…nem para descansar e recuperar o corpo eu consigo ter tempo…

Amanhã. Amanhã logo se vê. Vou ter que encontrar tempo para o que quero fazer. Mas, neste momento, o que preciso mesmo é de ir descansar…amanhã depois logo se vê…

{#091.275.2025}

Dia demasiado longo, intenso, esgotante.

Hospital de manhã.

Fisioterapia.

Hospital à tarde.

…e, na minha cabeça, uma palavra a ecoar demasiado perto de mim. Porque em mim.

D I S F A G I A

…ou a dificuldade para engolir…

…que, em mim, existe. É real. Assustadora. Preocupante.

…e eu estou tão farta disto…queria fugir e esconder-me. No meu esconderijo favorito: o abraço dele. E, por um momento, fazer de conta que está tudo bem. Que nada se passa comigo. Que este diagnóstico complexo e sem retorno nunca existiu. Mas não posso…porque a realidade vai estar sempre presente. Mesmo que eu não queira. E não quero…