Daily Archives: 29/03/2017

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Não será o último pensamento do dia. Outros, tantos!, virão ainda antes de adormecer. Mas é um pensamento recorrente de final de dia: hoje não foi assim tão mau. 

Medo? Claro. Como não? Medo de voltar àqueles outros dias que, afinal, nem foram há tanto tempo assim. Medo das surpresas do carrossel comboio fantasma montanha russa que não precisa de moedas. Medo, no fundo, do que desconheço porque ainda não chegou, porque amanhã ainda é longe e não é agora. Medo, sempre medo. O medo. De ser cedo, demasiado cedo ainda. De não estar preparada. De não estar pronta ainda. De não ser ainda tempo. Tempo de não sei bem o quê ao certo. Só sei que ainda é cedo. Muito cedo. 

Ou será apenas medo de aceitar que é possível ter dias bons? Que também tenho direito a eles? Que também os mereço? Que, apesar de tudo, também são meus para os sentir como são: bons. Bons só porque sim. 

Hoje não foi assim tão mau. É uma forma receosa de assumir que hoje foi um dia bom. Que não quero verbalizar com medo que o feitiço se quebre. Porque já o tinha dito antes e afinal voltei a entrar na feira popular sem comprar bilhete e que me levou rapidamente ao carrossel. Esse mesmo. O tal carrossel comboio fantasma montanha russa que não precisa de moedas. Não sei se a viagem já terminou. Desconfio que não. Acredito, ou faço por querer acreditar, que as moedas que não são precisas acabaram por se esgotar e o carrossel comboio fantasma montanha russa já só desliza pela inércia de tanto tempo em movimento. Mas e se não for nada disso? E se for só mais um daqueles troços ilusórios que antecedem mais uma queda vertiginosa seguida de mais umas quantas curvas apertadas para rodopiar no eixo roubando-me novamente o Norte, tirando-me novamente o chão…? 

Hoje não foi assim tão mau. Quero acreditar que sim, que vai continuar a ser assim, não tão mau. Mas não verbalizo, não quero, não consigo verbalizar!, que foi um dia bom. E que também tenho direito e também mereço dias desses. 

Último pensamento do dia: hoje não foi assim tão mau… 

{do eco} 

Acção -> Reacção. 

Só que não. Só que não… Claro que não! 

Pior que falar com uma parede. Porque até a parede devolve o eco. 

É como se falasse com um Buraco Negro. Que engole tudo à sua volta sem devolver eco ou reacção. Quem sabe um dia passe a Buraco Branco e vomite o que tem guardado. Não deverá ser bonito. Mas é preferível uma Reacção a um absoluto vazio de tudo.