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Tenho (tantas) saudades dos meus dois (meio-)irmãos mais novos…e só hoje me caiu a ficha de que os perdi. A vida fez o favor de nos afastar. E os problemas que o meu/nosso pai criou, e que prejudicou tanta gente, incluindo eu e um deles, veio cortar a ligação (ténue pela distância geográfica mas forte pela ligação desde o primeiro momento) que existia.

Se há alguém que não teve culpa de nada, fomos nós, os filhos. Os 4 filhos. Todos eles (muito) prejudicados por quem nos devia ter protegido. E foi preciso o meu/nosso pai morrer para me pôr a mexer no sentido de os informar e, de alguma forma, saber deles e recuperar o tempo perdido que a distância ditou. Sei que, sem dúvida, também eu me devia ter mexido mais cedo. Mas a vida acontece todos os dias e acabamos por ir deixando coisas para trás. E, de facto, nesse ponto é verdade que tenho alguma culpa da distância. Mas agora quero muito encurtar essa distância, quero recuperar o tempo perdido, quero conhecer quem eles são aos 21 e aos 38 anos.

Já sei que um deles, aos 38 anos, não quer sequer ficar com o meu contacto. Não quer qualquer aproximação. Cortou-me da sua vida da mesma forma que eu cortei o meu/nosso pai da minha. Aquele bebé que me surgiu de surpresa uns dias antes de eu ter 9 anos e por quem me apaixonei de imediato. Que fui vendo crescer. Que me ensinou a mexer no ICQ e no MIrc por telefone e que passou a fazer parte dos meus contactos online durante algum tempo. A quem apareci, de surpresa e a convite da mãe dele, na festa dos 18 anos. Que tantas vezes e tanta gente nos tomou por gémeos apesar dos 9 anos de diferença, principalmente na sua fase de cabelo comprido.

Que me apresentou, de forma completamente inesperada, o meu/nosso irmão há 21 anos atrás. Irmão esse com quem consegui falar para comunicar o que já sabia. Que me pareceu ter recebido bem o meu telefonema, mas que não posso garantir que assim tenha sido. A quem disse para guardar o meu contacto e que não faço ideia se o terá feito ou não. Que o deixei à vontade para ligar quando e SE quiser. Mas que eu duvido que ligue.

A perda do meu pai eu já tinha assumido há muito tempo. Mas a perda dos meus irmãos nunca me tinha ocorrido…até que, mais uma vez, a realidade fez o seu trabalho. E só hoje, ao partilhar toda esta história com ele, me caiu a ficha dos 38 anos e levantei a dúvida dos 21. E foi nesse momento, nesse momento, que percebi as saudades que sinto de ambos. E, percebo agora enquanto escrevo, que existia uma barreira entre nós, que de alguma forma contribuiu e muito para essa distância: o meu/nosso pai.

Mas agora essa barreira já não existe. Faz-me sentido a tentativa de recuperar o tempo perdido, se é que alguma vez esse tempo perdido possa ser recuperado. Mas quero voltar a conhecê-los! Saber quem são! O que fazem! Onde estão!

Infelizmente parece-me que só a mim faz sentido. E, não nego, isso dói. Muito! Mais uma herança dolorosa de quem me deixou para trás há tanto tempo. E eu só quero ter os meus dois (meio-)irmãos de volta.

São meus irmãos! De mães diferentes, todos eles! E depois? Não deixam de ser meus irmãos!

A vontade é de chorar. Não pela perda de quem me deixou para trás há tanto tempo, mas pela perda da presença destes meus dois irmãos na minha vida. Mas, e apesar de doer demasiado, se é essa a sua vontade, só tenho que aceitar e respeitar. Por MUITO que me custe, por MUITO que me seja doloroso. Aceitar e respeitar.

Mantenho a esperança que a curiosidade dos 21 anos ainda exista, que resistam ainda memórias que o deixem com vontade de guardar o meu contacto, pelo menos isso.

E espero que, um dia, não sei quando sabendo que não tem que ser já amanhã, os possa abraçar a ambos. E dizer-lhes pessoalmente que tenho muitas saudades deles

…e se não choro é unicamente porque não consigo chorar

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