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Ontem à noite, numa inesperada conversa de raparigas com desabafos de ambas as partes, quando falei do que me apanhou na curva e do que preciso de fazer para recuperar o recuperável e manter o que ainda vou tendo, do outro lado disseram-me (e com muita razão!) “a Catarina está a precisar de um abanão!”. Estou, eu sei. Não tenho dúvidas nenhumas disso. O que eu não estava a contar era que esse abanão chegasse às 5h11m da madrugada com uma magnitude de 5.3 na escala de Richter!

Foi um senhor tremor de Terra! Daquelas coisas que eu mais pavor tenho! Que me acordou sobressaltada, assustada e que me levou a ter a única reacção que poderia ter: chamar pela minha mãe! A minha mãe que estava à janela, na varanda, com tantos outros vizinhos e todos a tentar entender que som horrível foi aquele que os acordou.

A minha mãe não sentiu nada a abanar ou a tremer, mas ouviu o som da Terra em actividade e que, quem já ouviu, diz ser horrível e verdadeiramente assustador.

Três horas depois do susto, sem sinais de réplicas nem alerta de Tsunami apesar da proximidade do Mar, voltei a dormir. Não sem antes pintar o pior cenário na minha cabeça e concluir: eu não tenho como sair daqui num estado de urgência…não tenho como nem consigo!

Acordei poucas horas depois para confirmar o que já sabia: ao fim de semana nada mexe, nada acontece, nada funciona. Mas, logo após o almoço começou o telemóvel a tocar: agência funerária a informar que já havia autorização do Ministério Público para a cremação desejada, a advogada do meu pai de férias na Suécia e que só regressa a Portugal amanhã à tarde a querer saber o que se passou e a informar-nos do que nem suspeitávamos, os advogados da Associação que, por sua iniciativa e conta, vão avançar com o processo crime que é mais do que correcto neste caso.

Era preciso e urgente enviar um email. Um simples email. Mas com recibo de leitura. Que o Gmail não tem… Um pedido de ajuda online, uma resposta concreta e, três horas depois, conseguimos enviar o email. Agora, mais uma vez, é esperar. E eu só quero que este filme termine. Rapidamente! Vi o estado da minha mãe no fim de semana. O estado físico de um corpo de 72 anos que gritou para parar a bem. Porque, caso contrário, não duvido que o corpo acabaria por ceder e parar à força. O desgaste psicológico foi muito forte durante toda a semana e reflectiu-se, claro, no corpo físico.

Descansou bastante no Sábado e no Domingo, recuperou. Mas hoje, segunda feira, depois de dois dias em que nada mexe, nada acontece, nada funciona, recomeçou a pressão…e eu, claro, tenho medo por ela.

Foi um dia de tal forma estranho que só agora, largamente depois das 23h, consigo ter um bocadinho de tempo SÓ para mim. Aquele meu momento de esplanada para desligar e mudar o chip na esplanada do costume só está a acontecer agora… E, mais uma vez, a minha vontade é a de ter um colo e um abraço e conseguir chorar.

Hoje nem para ele consegui ter tempo. Hoje nem para nós consegui ter tempo. E o que eu precisava TANTO dele agora. O que eu precisava TANTO de nós agora…

Dia tão confuso que demorou a passar e que passou tão depressa! Não gosto de dias assim. Mas também não gosto de telenovelas e menos ainda de filmes de terror surreal sem data prevista para terminar…

Só quero fechar um capítulo. Fechar a porta e deitar a chave fora de uma vez. Está difícil de acontecer. Mas, quando finalmente acontecer, só peço tempo e espaço para mim e para a minha mãe. Especialmente para ela. Para respirar. Para descansar. Para recuperar.

Agora é hora de desistir da esplanada do costume e voltar para casa. Vim sozinha. Volto sozinha. E aposto que, quando entrar em casa, a minha mãe já terá adormecido. Portanto continuarei sozinha até acordar novamente amanhã, seja a que horas for. Só não quero ser novamente acordada à força de abanões, sejam eles de que magnitude forem…

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