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Hoje, 30 dias depois, fechou-se uma porta, fechou-se um capítulo. E, claro, se era para haver uma despedida (e eu senti que tinha que, de alguma forma, despedir-me), tinha que ser por escrito. E assim foi.

Depois de algum tempo em pé, sozinha, em frente ao caixão, peguei no caderno que carrego todos os dias na minha mochila, peguei na esferográfica e deixei sair a despedida que não sei se necessária, se merecida, se o que for. Apenas sei que foi sentida. Cada palavra.

Agradeci porque com ele aprendi O QUE NÃO quero ser, aprendi QUEM NÃO quero ser.

Lembrei-me tanto de todos os que me disseram que tinha que perdoar. “Não por ele. Por ti!” E a voz do Rui a ecoar cá dentro “Perdoa! Solta e deixa ir! Por ti! Release and let go!”

Achei que não o conseguiria fazer por não saber como. E disse isso mesmo no que escrevi. “Ainda não conheço o caminho para o perdão.”

E continuei a agradecer as (poucas) coisas boas que retenho na memória. A ida para os escuteiros será, provavelmente, a memória mais importante. Porque uma vez escuteira, sempre escuteira. Faz muito parte de quem sou, do que sou.

Escrevi a custo. Mas foram duas páginas com as palavras que senti, cada uma delas. As últimas. Que sei que já não ouviu, mas que de alguma forma a mensagem vai chegar a quem já cá não está.

A chamada carta de despedida foi colocada dentro do caixão. Era esse, desde o primeiro momento, o seu destino.

Voltei para junto do caixão. Sozinha. E ali fiquei até ser levado para a cremação. A vê-lo ir. O caixão a passar aquela porta. E, finalmente, o fechar da porta. Que eu tanto precisava!

Logo de seguida, aquele ombro e aquele abraço de quem é P de Presença. E, de mim, nem uma lágrima apesar do nó na garganta. Porque continuo a não conseguir chorar…
Mas fechou-se a porta, terminou o capítulo. Acabou tudo ali.

Pode tanta coisa ter corrido mal, podem as boas memórias ser escassas. Mas, independentemente de tudo isso, era o MEU pai…ausente, distante, mas O meu PAI.

Um dia talvez chore esta despedida. Mas sei que, se acontecer, não estarei sozinha para limpar as lágrimas.

E, no final, consegui perdoar. Não por ele. Mas por mim! E repito para mim: release and let go.

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