Em modo bolha de auto-isolamento. Depois de ter recebido ontem a medicação que me vai abalar o sistema imunitário, é importante resguardar-me o mais possível, especialmente nestes primeiros dias. 15 dias, talvez. Depois, vem a segunda dose da primeira toma e volto à bolha de auto-isolamento. Ou seja, lá para meados ou finais de Outubro volto devagarinho e com cuidado e todas as protecções e precauções à vida lá fora.
Por agora, vou tentar habituar-me a não sair. Não é fácil, mesmo para quem já saía pouco. Mas amanhã vou ter que sair de manhã. Ir ao Centro de Saúde renovar, mais uma vez, a baixa médica. E, com isto tudo, já passou um ano que iniciei este processo de estar de baixa. Ainda não tinha diagnóstico, ainda era só uma suspeita. Praticamente confirmada pela sabedoria e conhecimento do neurologista privado que primeiro analisou os meus exames.
Agora, um ano depois, é tempo de bolha de auto-isolamento. Portanto, é tempo de pensar em mim apenas. Para que o meu corpo recupere da agressão da bomba medicamentosa que tomou ontem e que repete daqui a 15 dias. O resto há-de vir depois. Sem pressa. Sem pressão. Um dia de cada vez. Devagar. Devagarinho.
Tenho a minha vida em hold. Há demasiado tempo. Ou não. Porque esse tempo foi todo ele para tratar de mim. E esse tempo nunca é demasiado.
Tem sido um ano duro e difícil de passar. Sempre a ver o tempo passar e, durante tanto tempo, a única coisa que via progredir era aquilo que me apanhou na curva e que eu não sabia lidar com. Não é que hoje já saiba. Continuo a não saber lidar com isto. Sei, sim, o peso da ansiedade da longa e lenta espera até receber nas minhas veias aquilo que pode travar a tal progressão que eu assisti, que eu vi, que eu senti, que eu vivi a uma velocidade assustadora.
Não sei quanto tempo é que a medicação que agora corre nas minhas veias demora até começar a trabalhar, a mostrar resultados da travagem na progressão. Não sei sequer se vai ser visível. Porque, já sei, não é medicação para tratar sintomas mas sim para travar o agravamento do que já existe.
Qualidade de vida. Sempre foi isto que ouvi de todos os médicos. É medicação para garantir qualidade de vida. Sei que não há tantos anos assim a medicação não estava tão desenvolvida como agora e facilmente a qualidade de vida era coisa que deixava de existir.
Eu confio nos médicos. Como tal, confio na Ciência. Porque, na Ciência, não é aceite o “acho que” como sendo o ponto final. Na Ciência, o “acho que” leva a experiências que confirmam se sim ou não. Eu já há muito tempo que digo que o “acho que” sem mais nada não me serve. Um “acho que” baseia-se muito em meras opiniões que, tantas vezes, apenas revelam desconhecimento, até mesmo ignorância. E a Ciência procura respostas, procura conhecimentos, procura e baseia-se em factos. E, por isso mesmo, eu confio na Ciência. E é à Ciência que recorro para ajudar o meu corpo em caso de necessidade. Como agora. Recorro à Ciência e agradeço a sua constante evolução. Porque há sempre coisas a questionar, nem que seja questionar como melhorar um resultado já existente e encontrado pela Ciência.
Continuo sem sentir qualquer efeito secundário da toma daquela bomba de medicação. E isso é muito bom. Talvez por não ser uma medicação meramente química mas sim uma medicação biológica. Já comecei o meu trabalho de casa que é saber mais sobre o que é a medicação biológica, de que é feita, como funciona, se é ou não mais agressiva que a medicação meramente química. Não sei. Não faço ideia. Mas só ter a palavra “biológica” no nome me deixa mais tranquila. Não sei porquê. Mas remete-me para algo mais natural. Que não deixa de ser manipulada. Mas soa-me a uma base mais natural. Tenho ainda muito que aprender. Procurar informação sobre. Porque eu quero saber. Tudo o que houver para saber sobre o que agora me corre nas veias. Assim como também ainda tenho tanto para aprender sobre isto que me apanhou na curva. Aprender para entender. Entender para, quem sabe, aceitar. Mas, aceitando ou não, aprender a lidar com isto, a enfrentar os desafios diários causados por isto e com que vou ter que lidar todos os dias até ao fim da vida.
O dia hoje foi todo ele demasiado preguiçoso. Sozinha a manhã toda. Um acordar cedo sem necessidade para adormecer umas horas depois ainda que por pouco tempo. O resto do dia? Foi dividido entre o cadeirão e o sofá, com prevalência no cadeirão, a ler as muitas reacções ao que escrevi ontem no grupo e a responder a cada uma das mensagens em forma de comentários. E foram muitos. E continuam a chegar.
Mas o meu corpo não pode ser negligenciado agora. O corpo pede-me sofá e eu dou-lhe longas horas de cadeirão. Como agora. Que já a noite começa a roçar a madrugada e eu devia dar-lhe não sofá mas sim cama. E ainda aqui estou a vomitar palavras no éter. Com ligações de continuidade talvez estranhas e quase sem sentido. Mas que refletem exactamente o que ritmo a que está a minha mente.
Amanhã é dia de acordar cedo e o corpo cobra-me cama. E eu teimo em protelar. Só mais 2 minutos. E não pode ser.
O meu corpo precisa de descanso. Para recuperar. Mesmo que eu não identifique qualquer efeito da agressão medicamentosa a que foi sujeito, o meu corpo precisa de descansar. E é isso que vou fazer agora. Dar o dia por terminado mesmo que a minha mente continue acelerada e com vontade de continuar a vomitar palavras no éter. Não posso…
Amanhã. Amanhã também é dia de vomitar palavras no éter. Por hoje já não faz sentido. Estou cansada. Física, mental, emocional e mentalmente cansada. E com vontade um momento de Yoga para desacelerar e voltar a estar só comigo. Mas não posso. O Professor Pedro não recomenda. Não ainda. Mas pelo menos a respiração posso controlar. Respirar fundo e de forma consciente. E, nesse momento, nada mais existe. Só eu. Por inteiro. E isso é o suficiente para eu desacelerar e reencontrar-me. Só comigo. Nesse momento só existo eu e a minha respiração. E é isso que eu preciso agora.
Amanhã? Logo se vê. É um dia de cada vez. Tem que ser um dia de cada vez. Sem pressa. Sem pressão. Especialmente auto-imposta. E é tudo devagar. Devagarinho. E está a ser muito devagarinho que hoje estou a tentar desligar esta vontade impetuosa de vomitar palavras no éter. E não pode ser…não posso continuar agora. Não assim. Amanhã…