Já decidi, há muitos anos!, que quando crescer quero ser uma árvore. Mas não uma árvore qualquer. Posso até ser retorcida, não demasiado alta ou de tronco largo. Não é isso que me interessa. Interessa-me, sim, ser uma árvore diferente. Porque diferente já sou, nunca poderia ser mais uma árvore igual às outras.
Mas quero ser uma árvore. Diferente. Única. E posso até estar, como já estou, na realidade, sozinha num qualquer lugar. De maior ou menor destaque, não interessa. E tão pouco me importa se estou em lugar de passagem onde, de vez em quando, alguém pare para me olhar. E realmente ver.
O que eu quero é ser uma árvore quando crescer. Seja lá isso quando ou como for. Não quero saber. O que quero mesmo é ser uma árvore. Como ela. Que via diariamente quando saía do autocarro depois do trabalho naquela paragem onde, agora, só muito raramente saio. Mas, sempre que saía do autocarro e passava por ela, parava sempre. Todos os dias depois do trabalho tirava aqueles breves momentos para olhá-la. E vê-la.
Muitos anos antes de a ver pela primeira vez já tinha decidido que quero ser uma árvore quando crescer. E quando a conheci, reconheci-me nela… Sozinha, isolada, morta, mas de pé!
Quando crescer quero ser uma árvore. Como ela. E continuar a fazer o que já faço: ser diferente, estar sozinha, já morta tantas vezes embora renascida. E sempre de pé!
É à noite que os ecos na minha cabeça fazem mais barulho. E hoje estão particularmente barulhentos. Talvez, mas só talvez, quando for uma árvore já não os oiça. Mas, mesmo depois de morta, irei manter-me como ela: diferente, sozinha, mas de pé!