Monthly Archives: November 2024

{#314.053.2024}

Entesopatia no joelho esquerdo? Check ✔️

E o que é a Entesopatia? Bem…vamos decompor a palavra para percebermos melhor.

Ora então, diz-nos o Priberam:

  • patia

elemento de composição

  1. Exprime a noção de doença ou sofrimento (ex.: frenopatia; psicopatia).

Ou seja, o sufixo patia sugere-nos que se trata de uma doença. Já o início da palavra, ENTESO, sugere o óbvio! Uma Entesopatia é uma doença dos TESOS! Daqueles que, de cada vez que vão à farmácia, ficam ainda mais tesos! A contar os tostões todos. Ou os cêntimos, vá! Já não se usam tostões.

Portanto, confirmo: depois do Burnout no ano passado, do diagnóstico que me apanhou na curva no início deste ano, da falta de equilíbrio a caminhar, só me faltava mesmo agora andar coxa do joelho esquerdo por, sabe-se lá como!, ter a doença dos tesos! Se algum dia me encontrarem no Metro com uma latinha, não se esqueçam de deixar uma moedinha. Obrigada desde já!

[Agora falando mais a sério, uma Entesopatia é uma inflamação daquilo que liga os tendões aos ligamentos ou aos ossos, já não sei nem me apetece ir procurar outra vez. O que sei é que dói para caracinhas. O que não sei é como é que isto apareceu. Tratamento? Gelo, Diclofenac (vulgo Voltaren) em pomada e repouso. O que, sendo num joelho e ter que trabalhar a marcha e o equilíbrio na fisioterapia é para rir. Mas também sempre ouvi dizer que mais vale rir que chorar! E, seja como for, ando há praticamente 2 anos a dizer que não consigo chorar, por isso siga! É rir para não enlouquecer, pronto!]

{#313.054.2024}

Esta tarde o telefone tocou. Era aquela chamada que nunca sabemos, tirando as datas de aniversário, quando vai acontecer, mas que realmente acontece.

“Quero saber de ti, o que é que se passa contigo?”

Esta é uma daquelas amizades que existem há mais de 20 anos, que começou a nível profissional com ela a ensinar e eu a aprender. E posso dizer que muito do que sei hoje (se não praticamente tudo) a nível de seguro automóvel o devo a ela. E, arrisco dizer, o clique entre as duas foi imediato.

Entretanto, cada uma seguiu o seu rumo profissional e o seu caminho. Mas, mais uma vez, as redes sociais nos trouxeram de volta, embora nunca se tenha perdido totalmente o contacto.

Não é daqueles telefonemas que acontecem todos os dias, todas as semanas ou todos os meses. Nem tem que ser para que a amizade, carinho e preocupação que temos uma pela outra se mantenha firme. Houvessem mais amizades assim…

A pergunta bateu cá dentro. Falámos sobre como estou, sobre o que se passa comigo. Como se ela não soubesse, como se ela não lesse o que escrevo.

E fica uma pergunta no ar: “mas porquê?“. Seguida de uma afirmação “não consigo compreender…!”.

Nem eu, Fernanda. Nem eu. Mas a verdade é que a Fernanda, e não seria de esperar outra coisa vinda de si, foi a única a fazer aquilo que mais ninguém faz: ligou e quis saber. O que se passa comigo. Como estou. Porque é que está a acontecer comigo aquilo que nenhuma de nós entende.

E ficou a pergunta no ar: custa assim tanto enviar uma mensagem que demora 30 segundos a ser enviada?

Quem souber que responda. Mas não me venham, mais uma vez, com promessas que nunca se quiseram cumprir nem dizer coisas só por dizer. “Havemos de ir beber café” é uma dessas coisas. Quando começa com “havemos de“, já sei que não irá acontecer. É dizer por dizer. Para ficar bem na fotografia? Não sei.

Mas, lá está: não sei, Fernanda. E também eu não entendo, mesmo que todos os dias pergunte “porquê?“… Acho que nunca saberemos a resposta a isso.

E à outra questão também não devemos ter resposta: “custa assim tanto enviar uma mensagem que demora 30 segundos a enviar?”

E, se não souberem sequer o que dizer, podem sempre começar com um simples “Olá.” Dizem que não custa nada. E faz bem. Aos dois lados…

{#312.055.2024}

Há muito tempo que deixei de fazer planos. Já sei que acaba sempre por acontecer alguma coisa que impede que os planos se realizem. Mas não deixo de programar coisas. E, depois do dia fisicamente puxado de ontem, com fisioterapia de manhã cedo e Yoga ao final do dia, novamente fisioterapia hoje cedo, só havia um programa possível para a tarde: sofásana, aquela postura de Yoga que, na verdade, não existe mas que eu tenho adoptado como a minha favorita. Para ajudar, tinha recomendações da fisioterapia: gelo no joelho e almofada térmica quentinha na lombar. Assim um misto de frio e quente estranho, mas necessário.

Depois do almoço ainda tive energia para vir ao Jardim da Depressão beber um café, fumar um cigarro e pisgar-me daqui para o sofá. E, ao chegar ao sofá, quase não tive tempo de pôr o gelo no joelho e a almofada na lombar. E, se bem me lembro (mas não garanto), nem cheguei a pôr os óculos para ler as legendas na televisão. Foi kaput imediato.

Mas antes de tudo isso ainda consegui comentar uma publicação de uma rapariga escocesa, doente crónica e no espectro do autismo, que publicou um poema com o qual eu me identifiquei na totalidade. E, em resposta ao meu comentário, chegaram-me respostas a assegurar-me aquilo que os meus amigos não me asseguram: que não estou sozinha! Porque existe uma enorme comunidade online de doentes crónicos, com Esclerose Múltipla como eu ou não, que se apoiam mutuamente. Porque se entendem uns aos outros. Porque se ACEITAM uns aos outros, tal como estão e TODOS se recordam que são MUITO MAIS do que a doença que carregam.

Curiosamente (ou não…), tem sido nessa comunidade online espalhada pelos quatro cantos do Mundo e composta por pessoas que eu NÃO CONHEÇO que tenho encontrado mais apoio. Raramente interajo com as publicações, mas reconheço-me em cada dificuldade, cada dor, cada cansaço extremo, cada partilha, cada palavra.

Como não ter nas redes sociais o garante da minha saúde mental se é nas redes sociais que ENCONTRO apoio? E esse apoio pode ser um simples post, uma simples resposta a um comentário, mesmo que seja a dizer-me que também passaram pelo afastamento e abandono dos amigos e que a responsabilidade não é nossa

{#311.056.2024}

A melhor forma de apaziguar os meus monstros e os meus demónios que me acompanham diariamente e se fazem mais presentes à noite assumindo o papel de vozes negativas e intrusivas a ecoar na minha cabeça é, sem dúvida, moer o corpo…

Fisioterapia de certa forma intensa logo de manhã, um início de tarde estranho e cansativo, uma caminhada inesperada e feita a muito custo porque um autocarro não apareceu seguida de uma aula de Yoga que, como acontece sempre, foi desafiante.

Dói-me o corpo, especialmente as pernas. E o joelho que piora todos os dias. Mas esta noite não há ecos na minha cabeça.

E soube muito bem terem-me dito “fazes bem em manter uma espécie de diário digital, ajuda-te”. E sim, o escrever no éter, especialmente no blog e, mais recentemente, no Instagram, é a minha ferramenta terapêutica de eleição. O que escrevo pode até nem interessar a ninguém. Mas é o meu momento de reflexão e, tantas vezes, o meu momento de catarse.

Por isso, sim!, irei continuar a fazê-lo.

{#310.057.2024}

De que me serve um psicólogo que se ri de escárnio quando lhe digo que as redes sociais têm sido o garante da minha saúde mental quando estou mal?

De que me serve um psicólogo em que as consultas acontecem com intervalos de mês e meio quando eu preciso de ajuda para ontem e de forma mais regular e menos espaçada?

De que me serve um psicólogo que dá consultas de 30 minutos em que eu posso falar durante 10 minutos e mesmo assim ele não ouve, ou não quer ouvir!, o que lhe digo e os restantes 20 minutos são para preencher testes de avaliação solicitados pelo psiquiatra que entretanto se ausentou do Hospital com regresso previsto para daqui a dois anos e não me deixou com substituto atribuído?

De que me serve um psicólogo que, ao me receber na consulta estando eu de máscara onde só o meu olhar está disponível, não consegue ver o que, na véspera!, e nas mesmas circunstâncias, ou seja de máscara!, até o neurologista percebe e diz, do nada, “essa depressão não vai muito bem, pois não?”.

De que me serve esta ajuda que não ajuda em absolutamente nada?!

Há uns anos, um até então chamado amigo que entretanto deixou de me falar sabe Deus porquê, criticou a minha forma de estar nas redes sociais. Que me expunha demasiado. Especialmente nos meus momentos maus. Como agora. Chegou a dizer-me que eu escrevia demais. E eu respondi, publiquei e agora repito: não se preocupem se escrevo “demais”. Preocupem-se no dia em que deixar de escrever!

É que, enquanto escrevo, é sinal que ainda tenho forças para pedir ajuda. E, ao expôr dentro do limite que eu mesma traço!, é isso que estou a fazer: a pedir ajuda! A tentar não me perder. Não me afogar naquelas lágrimas que teimam em não cair mas que me sufocam!

Alternativa a este psicólogo? Já estou a procurar opções. E a falta imensa que me faz o terapeuta fofinho nestas horas!

A depressão, claro, está confortavelmente instalada e em franco crescimento. E eu já cá estive antes e não gostei.

E o meu céu continua escuro. Cada vez mais escuro. E a solidão é um bicho que rói e corrói por dentro e, ao mesmo tempo, tem um peso insuportável.

Falta-me a luz-guia para eu reencontrar o meu caminho de volta. E durante 8 anos essa luz-guia foi o terapeuta fofinho. Que já não me acompanha. E que tanta falta me faz…

Amanhã? Continuo a fazer de conta que está tudo bem quando for para a fisioterapia de manhã e para o Yoga ao final do dia. Afinal, se sou boa em alguma coisa é em fazer de conta

{#309.058.2024}

Das coisas que eu teimo em não aprender a fazer: ser mais gentil e positiva COMIGO MESMA!

Na semana passada liguei à Maria, que tinha feito 76 anos uns dias antes e que eu, que só sei datas de aniversário por causa do Facebook e não me lembro quando foi a última vez que lá fui, deixei passar. Dei por mim a puxar por ela, a animá-la, e a ouvir da boca dela “eu gostava tanto de ser tão positiva como a Catarina”. E eu, que pensava mas não dizia, repetia na minha cabeça “mas eu não sou nada positiva“.

Há umas semanas, comecei a conversar com uma pessoa no Instagram, que vive na Índia e que só hoje soube que não tem sequer 30 anos e cujo nome ainda nem sei. Uma miúda, portanto! Ela foi apanhada na curva pela mesma coisa que eu. Mas o que me levou a comentar uma publicação dela foram os ataques de pânico que ela também tem. Com 30 anos de experiência em ataques de pânico e crises de ansiedade dei-lhe o meu exemplo de que é possível sobreviver e até ultrapassar os ataques de pânico.

A partir daí, temos conversado. Contei-lhe as minhas experiências mais marcantes e que superei com mestria no que diz respeito aos ataques de pânico e dei-lhe algumas dicas de como os enfrentar para poder superar.
Hoje falámos de trabalho. O meu que é óptimo para fritar a pipoca e o dela que, na Índia rural, é assustador.
No final da longa conversa de hoje agradeceu-me. Pelas “kind words“, por ser uma “beautiful soul” e por ser “so full of positivity“.

Não sei se sou tudo isso que ela me disse…

Comentei esta conversa com a minha mãe, que também assistiu à conversa que tive com a Maria. E no final, diz-me: “já viste que tu és assim com toda a gente, puxas por todos, és positiva nos problemas dos outros…fazes isso por toda a gente menos por TI?”

O pior é que, como sempre, a minha mãe, que me conhece melhor do que ninguém incluindo eu própria, tem razão. Tem TODA a razão.

Sou gentil e positiva com todos, para todos. Menos comigo. Menos para mim.

Como é que se muda esse chip? Não faço ideia. Só sei que é fácil para qualquer pessoa lidar comigo. Menos para mim. Tenho dito várias vezes que não é fácil ser eu. E não é. E ser positiva e gentil comigo mesma não acontece…e devia!

Este canto da varanda, onde se encontra o meu cadeirão, foi há uns largos meses baptizado, meio a brincar, de Jardim das Leguminosas. Ambos, eu e ele, sabemos que o que ali se encontra não são Leguminosas mas sim Suculentas. Na altura, rimo-nos os dois com a gafe, mas o nome ficou.

De há umas semanas para cá eu, na minha cabeça, chamo-lhe muitas vezes Jardim das Buganvílias, sabendo que seria sempre impossível ter um jardim desses no interior de uma varanda fechada, mas que é o meu sonho.

O cadeirão no Jardim das Leguminosas é onde passo o dia todo, excepto quando adormeço no sofá. São tantas as horas que aqui passo que já pondero em rebaptizar o Jardim. Tem todas as condições para se chamar Jardim da Depressão. Porque é aqui que a sinto tomar conta de mim e com cada vez mais força. E, por mais que peça ajuda, não a tenho.

Aqui neste canto a única coisa que vive realmente são as Suculentas de quem a minha mãe trata todos os dias. Porque eu, como a foto, estou cada vez mais esbatida e a perder a cor e o brilho. E os riscos na foto não são os riscos no corpo…ainda.

É impressionante o silêncio que se ouve quando eu digo “não me sinto bem, preciso de ajuda”. Porque é isso que se ouve cá em casa: silêncio. Ensurdecedor

Hoje li num cartoon:
Como é que se reconhece um verdadeiro amigo?“, perguntou a Raposa.
Espera pela escuridão“, respondeu a Lua, “e vê qual é a Estrela que ainda brilha.”

O meu céu está absolutamente escuro. A única Estrela que ainda brilha é ele, mas ele está tão longe. De resto…o meu céu está absolutamente escuro.

…e só não reconhece um pedido de ajuda quem não quer…

É nestas alturas que faz falta à minha mãe ter um telemóvel. Porque, já que aparenta não me ouvir, podia ser que me lesse

{#308.059.2024}

É preciso desmistificar o poder do café. Ou será que, a partir de um determinado número de cafés bebidos ao longo da vida, já não funciona? Já não dá aquele kick para me manter acordada? Ou apenas mais desperta? Com um bocadinho mais de energia para, sequer, dar um passo?

É que, por aqui, beber café ou beber água tem exactamente o mesmo efeito: hidrata mas não dá mais energia.

Depois lembro-me daquela coisa que me apanhou na curva, cujo nome me recuso a verbalizar oralmente ou por escrito, não por vergonha mas apenas porque ainda não a aceitei…e com essa coisa vem a fadiga. Incapacitante? Tem sido.

Por isso, desmistifique-se o poder do café. Porque, pelo menos comigo, já não funciona.

E se eu queria estar neste estado incapaz de fazer grande coisa durante o dia? Não, não queria. Nem quero! E por favor, alguém com mais experiência nisto que me diga como voltar a ter um bocadinho mais de energia, por favor! Porque eu não aguento isto…muito menos sei o que posso (ou não) fazer…

{#307.060.2024}

Hoje? Não posso dizer que estou cansada. Porque, na verdade, é muito mais do que apenas cansada. Nem posso dizer que estou muito cansada. Porque, na verdade, estou exausta. Completamente esgotada.

Ontem fui dormir muito tarde, é verdade. Não me lembro se foi às 2h da manhã ou às 3h da manhã. Só sei que foi demasiado tarde. E também sei que me esqueço destas coisas simples que, é certo, não são muito importantes. Mas são simplesmente apagadas da minha memória com imensa facilidade, o que não devia acontecer. Não a esta velocidade…

Seja lá a que horas for que eu tenha ido dormir, a verdade é que acordei às 9h da manhã. Para nada. Não havia nada programado para hoje. Mas, já percebi, tenho um novo despertador. Mas este não dá para acertar a hora do alarme. É ele próprio que decide a que horas preciso mesmo de acordar. É um despertador biológico que tanto me deixa dormir até ao meio dia como me acorda cedo ou, na pior das hipóteses, a meio da noite. Até quando adormeço no sofá é este despertador que, tantas vezes, me acorda. É a minha bexiga! Que enche demais e me faz acordar. Ou que eu não consigo esvaziar na totalidade, também acontece. E funcionar já é muito bom. Dia 1 de Junho, mais uma voltinha às urgências do Hospital porque não quis funcionar. E, ao fim de 14 horas sem funcionar, na Linha SNS24 recomendaram, e bem!, uma passagem nas urgências. E assim foi.

Felizmente esse episódio, até à data, não se repetiu na totalidade, mas a dificuldade em esvaziar a bexiga existe, está cá. E, às vezes, é realmente complicado esvaziar na totalidade. Por isso é que me acorda tantas vezes a meio da noite ou, como hoje, demasiado cedo depois de ir dormir demasiado tarde.

A verdade é que, ainda antes do almoço, arrisquei ir sozinha à rua, tentar (re)conquistar um pouco mais de autonomia. E já a essa hora me sentia exausta. De quê? Para variar, de nada

Voltei para casa 300 e poucos metros depois, completamente exausta, absolutamente esgotada. Porque, dizer apenas que estou cansada ou até mesmo muito cansada, não é suficiente.

Acabei, obviamente, por adormecer no sofá. Mais tarde do que gostaria. E, mais uma vez, as horas não são claras…passava pouco das 16h? Ou já passava largamente das 17h? Não sei. Que já passava das 16h eu sei porque foi quando ele iniciou o serviço hoje e ainda conversámos. Muito tempo? Pouco tempo? Não faço ideia. Não me lembro… A única coisa que sei, porque assim mo disseram, foi que adormeci com o telemóvel em cima da barriga. Muito provavelmente à espera de nova mensagem dele

Fui acordada para jantar já depois das 20h. Mas a sensação de não ter um mínimo de energia continua…

Já sei que esta estupidez de cansaço é a tão falada fadiga, mais um sintoma clínico e claro desta coisa que me apanhou na curva. Tenho que aprender a gerir a minha energia… Ontem de manhã, foi dia de Yoga, portanto o ideal teria sido descansar à tarde. E não me lembro se o fiz… Lembro-me, claro, que, já tarde, me dediquei à escrita. Longa. Demorada. Isto depois de o acompanhar até terminar o turno à meia noite. Portanto, aqui está tudo errado: gastar energia de manhã sem recuperar à tarde e esgotar a restante à noite? Só podia resultar num dia de hoje como resultou…

Tudo isto faz parte desta coisa que me apanhou na curva e que eu ainda estou a conhecer. Ainda estou na fase do querer fazer tanta coisa e não conseguir fazer nada porque não soube gerir a minha energia. Nem sei, sequer, se é possível fazer essa gestão. O que sei é que o meu corpo é que manda agora! Seja para me acordar a meio da noite ou de manhã cedo com a bexiga cheia ou seja para me obrigar a parar e a recuperar energias.

Tudo isto é, ainda, novo para mim. E eu ainda não aprendi, nem aceitei!, a dizer “não posso/não consigo“… Porque essa não sou eu. Ou, nesta nova vida que agora enfrento e é a minha nova realidade, essa não era eu.

Não está a ser fácil lidar com tudo isto. Gerir tudo isto. Felizmente, para além da minha mãe, tenho-o a ele que caminha comigo, ao meu lado, do meu lado, sempre de mão dada comigo. Desde o primeiro dia. Ele não sabe, mas já me tem trazido ao colo várias vezes. Tal como me disse que faria se/quando o caminho se tornasse mais difícil…

Agora está mais do que na hora de dar o dia por terminado. Não aguento muito mais acordada. E para amanhã há planos. Convém descansar. Não vou conseguir fazer-lhe companhia até ao final do turno. Mas, já sei, acabaremos sempre por enroscar, com os dedos dele no meu cabelo e uma mão a percorrer-me as costas. Até eu adormecer.

{#306.061.2024}

Sábado e o regresso a alguma normalidade na rotina. Dia 21 de Setembro, Sábado, foi a última aula de Yoga antes da infusão do medicamento pelo qual tinha esperado tanto tempo e que, depois de o receber, me deixou completamente sem sistema imunitário e me levou a uma bolha de auto-isolamento nos primeiros 15 dias, em que pouco saí de casa.

Veio Outubro e o isolamento ainda era necessário, o período mais crítico ainda decorria e tanto a enfermeira como o médico me disseram para esperar mais um pouco, evitar locais com muita gente, centros de saúde, hospitais, centros comerciais, transportes públicos e máscara sempre quando em contacto com os outros.

Adiei o regresso à Fisioterapia que não faço desde Agosto e tanta falta me está a fazer para trabalhar o equilíbrio. Segui o conselho do neurologista: “nem pense em desistir do Yoga!”. Não desisti mas, claro, adiei. Até hoje!

Dei por mim ontem à noite a arrumar as coisas para levar para a aula e a roupa para vestir e não me lembrava onde estavam…eu sei que esta coisa que me apanhou na curva também compromete o funcionamento cognitivo e esquecer alguma coisa faz parte. Mas fez-me alguma confusão ontem à noite não me lembrar do básico que tinha que preparar. Mas também é verdade que, também ontem ao final do dia, não me lembrava de nada do que fiz durante a semana…e mesmo agora que penso nisso há coisas que simplesmente me estão em branco. E não gosto de sentir isso…

Mas hoje foi o dia tão esperado do regresso! E soube tão bem! Não só pela aula em si que me veio confirmar que um mês parada não me fez bem nenhum fisicamente, mas também pela recepção das minhas colegas. Sorrisos de boas vindas quando me viam, abraços, beijinhos enviados pelo ar porque uma delas estava constipada e, mesmo eu estando de máscara, uma constipação não é nada bem vinda.

Depois da aula, boleia de regresso a casa, como sempre. Mas hoje não com a boleia do costume. Hoje com o Professor Pedro que, desde o início disto tudo, tem sido um enorme apoio. Ao chegarmos junto à esplanada do costume disse-lhe que ia ficar por aí porque ainda ia beber um café antes de voltar para casa. “Então vou beber um café contigo!” E foi.

Conversámos. Sobre esta coisa que me apanhou na curva, sobre as aulas e a forma como ele planeia cada aula e que raramente cumpre na totalidade porque deixa a energia fluir e faz os ajustes necessários na altura. Resumindo, tive aquilo que há tanto tempo precisava: uma conversa normal.

E nesta manhã percebi: afinal, até existo! Para um grupo restrito. Que ficou honestamente contente por me receber de volta. Que me acolheu tão bem.

Nenhum deles conseguiu ver o meu sorriso por baixo da máscara à chegada, mas ele estava cá. O Professor Pedro ainda teve oportunidade de o ver quando tirei a máscara na esplanada.

Nenhum deles, desde o Professor Pedro a qualquer uma das minhas colegas, tem a noção do quanto esta manhã me foi tão importante e do bem que me fez.

Voltei para casa com outro ânimo, claro. Moída e com o sono habitual. Mas mais leve. Porque, afinal, existo! E pertenço! Pertenço a um grupo que me recebeu bem em Maio do ano passado quando iniciei esta viagem no Yoga com este Professor. E que, com o passar do tempo, me viram a abrir cada vez mais para o grupo e que, com a evolução desta coisa que me apanhou na curva, souberam acolher-me sempre prontas a ajudar com coisas tão pequenas como “deixa que eu levo!”, fosse o tapete ou a mochila. Para elas, o importante sempre foi ajudar nas mínimas coisas. Sempre lhes agradeci, claro que sim. Mas elas não fazem ideia do quanto lhes sou grata por tudo. E ao Professor Pedro também. Psicólogo de formação, sabe ouvir de outra forma.

Foi uma manhã muito boa. Foi uma manhã muito feliz. Já tinha saudades desta rotina de Sábado de manhã e quinta feira ao final do dia. Só tenho pena de não ser possível haver mais aulas durante a semana. Mas tenho exercícios para fazer em casa indicados pelo Professor Pedro e que, sei, me vão ajudar com o equilíbrio. Só tenho que deixar de ser preguiçosa e começar a mexer-me em casa! Manter as caminhadas para fortalecer as pernas, trabalhar a marcha e o equilíbrio no parque e, de volta a casa, fazer o que foi indicado para, em simultâneo, fortalecer as pernas, alongar o corpo e trabalhar o equilíbrio.

Claro que, à tarde, quando fiquei sozinha em casa, não aguentei e sucumbi ao óbvio: o sono! Assim que me deitei no sofá, com as mantas e a almofada térmica quentinha, ainda tentei manter a conversa com ele. Mas adormeci instantaneamente.

Agora? A noite já roça a madrugada, mas a cama ainda está longe. Porque na minha cabeça está em loop a conversa desta noite com ele. Sobre o facto de eu ser DAS letras, não necessariamente DE Letras, e de ter percebido hoje que escrever, principalmente no éter, é uma espécie de caminho para a imortalidade. Porque “Uma vez na Net, para sempre na Net”. E, lá mais para a frente no tempo, e até já acontece hoje em dia, alguém vai dar um desses tropeções na Internet e acabará, sabe-se lá como ou porquê, vir aqui parar. Como quem me lê na Suécia. E eu não conheço ninguém na Suécia. E vai ficar a saber que por aqui passou alguém que viveu, sofreu, chorou, deu a volta por cima, recuperou, mas que acima de tudo se permitiu sentir. E nunca teve qualquer receio em deixar registado tudo o que sentiu, bom ou mau.

Foi uma conversa com ele com um enorme poder de introspecção. Acho que nem ele se apercebeu disso. Mas a mim deixou-me com a conversa em loop na minha cabeça. Porque eu sempre fui de escrever. Sempre gostei de o fazer, mas não de escrever histórias inventadas. Não. O meu registo de escrita é um registo muito de “Diário“. Que, pelo menos nestes últimos 10 anos, começou como um desafio num momento muito mau e em que eu precisava de reagir. E, de facto, esse desafio que era para durar 100 dias e que eu sempre duvidei que fosse sequer conseguir chegar ao décimo dia, tornou-se uma importante ferramenta terapêutica que me ajudou a superar os piores dos piores dos piores dias que já passei e, afinal, já são mais de 10 anos de escrita diária sem excepção.

A conversa com ele continua aqui em loop na minha cabeça. E, já sei, irá manter-se durante algum tempo. Porque as palavras dele, que também me lê, me fizeram encaixar algumas coisas que já me têm dito sobre o que escrevo. Todas no mesmo sentido das palavras dele. Mas hoje encaixaram de outra forma. E tocaram cá dentro pela primeira vez…

Mas a madrugada insiste em chegar. Está frio. Estou cansada. Moída. Embora com a cabeça a mil e a querer continuar a escrever sobre sabe-se lá o quê agora, os olhos começam a pesar. Por isso, por hoje não vou continuar. Também não há muito mais para dizer sobre hoje. Mas aquela conversa com ele sobre a minha escrita…

Amanhã. Amanhã é outro dia. Agora é preciso descansar. Aquecer. E dormir. Enroscar-me nele, mesmo que ele esteja e não aqui. Não interessa. E depois amanhã logo se vê. Por hoje posso dizer: hoje foi um dia muito feliz.

{#305.062.2024}

Diz o Priberam:

saudade

|au|ou|a-u|

(sau·da·de)


nome feminino

1. Lembrança grata de pessoa ausente, de um momento passado, ou de alguma coisa de que alguém se vê privado.

2. Pesar, mágoa que essa privação causa.

“saudade”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/saudade.

(…)

Não houve mágoa. Talvez algum pesar. Decididamente houve uma lembrança grata de pessoa ausente: ele.

Na realidade, não tão ausente assim, apenas mais indisponível. E apenas hoje. Amanhã estará disponível novamente à distância de um clique, como está sempre desde o primeiro dia. É verdade que há dias menos disponíveis, como o dia de hoje.
E depois há aquilo que o Priberam define lá em cima: saudade.

Porque, sim!, ele faz-me falta e sim!, há sempre algum pesar na sua ausência. Mágoa nunca. Mas lembrança grata? Sempre!

E há também uma espécie de Síndrome de Abstinência. E esse é o que custa mais. É quando existe uma quebra num vício. E ele não é um vício, mas anda lá muito perto.

E hoje pesou. E só pelo peso de hoje, apenas um dia, não quero pensar quando, seja por que motivo for, for mais tempo…

Sim!, tenho saudades dele. Muitas. E pergunto: falta muito para amanhã?