Daily Archives: 09/02/2025

{#040.326.2025}

Tinha prometido a mim mesma que hoje não saía de casa o dia todo para poupar ao máximo as minhas pernas e seguir o conselho do Fisioterapeuta: pouco ou nenhum esforço, isto para recuperar o melhor possível para enfrentar mais uma semana de deslocações e tratamentos que implicam sempre um esforço que nem sempre as minhas pernas aguentam tranquilas. Basta lembrar-me como foi chegar a casa na quarta feira quando, ao finalmente entrar no meu quarto, as minhas pernas cederam e dei por mim a ficar de joelhos no chão agarrada à minha mãe e apoiada à cama…

Mas, claro, tive que sair de casa… Tinha uma carta importante e urgente para escrever e que tem que ser enviada amanhã por correio registado com aviso de recepção. E, já percebi, em casa não consigo escrever no papel. Não sei explicar porquê, até porque não faz sentido. Mas em casa sinto-me presa e a sufocar. Quase como se me faltasse espaço e ar para me expandir na escrita em papel…

Sei que não faz sentido. É parvo, até. Se for para escrevi à mão em papel preciso de me sentir livre, com espaço e sei lá o que mais. Sei que, neste momento, só me sinto capaz de o fazer na esplanada das mesas infinitas. Que tem um espaço imenso e onde consigo respirar fundo, pegar na esferográfica e pôr no papel ideias, vontades, coisas que posso e (ainda) consigo fazer. E escrever cartas. Aquela que vai amanhã para o correio e aquela que, ridícula como descreveu o poeta, está prometida há demasiado tempo e que não consigo concretizar por esta absurda falta de espaço e sensação de sufoco que me prendem.

Todos os dias tenho vontade de ir à esplanada das mesas infinitas e ficar por lá sem pressa e sem pressão, simplesmente estar e deixar a tinta correr no papel. Mas ir até lá sozinha, neste momento, é um risco. Diz o Google Maps que estou a 350 metros de distância e que o percurso a pé é feito em 5 minutos. Nos 350 metros não ponho qualquer questão, mas os 5 minutos só são aplicáveis a quem não tem dificuldades na marcha, porque eu, e já confirmei!, demoro 25 a 30 minutos…

Quero muito voltar a fazer esse percurso sozinha. Sei que consigo. Com muito cuidado e extrema atenção, nem que demore 1 hora!, consigo fazer esse percurso sozinha. Mas tenho medo, claro. A minha mãe já se ofereceu para me acompanhar até lá, deixar-me ficar o tempo que eu quiser e ir buscar-me quando lhe ligar. Mas custa-me. Custa-me estar tão dependente da minha mãe e custa-me vê-la assim de um lado para o outro conforme o que eu quero ou preciso. Levar-me até à paragem do autocarro de manhã e ir buscar-me no regresso já me custa o suficiente…

E eu que tinha prometido a mim mesma não sair de casa hoje, acabei por ir para a esplanada das mesas infinitas onde acabei por ficar duas horas na companhia da minha mãe e escrevemos em conjunto a carta importante para enviar amanhã. Foram 350 metros para cada lado. 700 metros no total. E 350 metros de cada vez não implica demasiado esforço. Faz-se bem. Devagar, devagarinho e o caminho faz-se.

Provavelmente terá sido a humidade a, mais uma vez, me atacar as pernas, porque ao regressar a casa as dores já estavam de novo instaladas. E acreditei que a água quente do banho me iria aliviar as dores…até perceber que a água quente do banho me atacou com muita força os joelhos que deixei de sentir tão firmes como deveriam estar. E as pernas continuaram a doer. Muito. Sair do banho só aconteceu com ajuda. Caminhar da casa de banho até ao meu quarto, que fica na porta ao lado, aconteceu agarrada às ombreiras das portas e apoiada na parede. E ir do meu quarto para a sala só apoiada à minha mãe…

Estou farta de estar assim. Quero muito acreditar que a Fisioterapia é só o início de um trabalho que me devolva a autonomia, a independência. Mesmo que tenha que ser acompanhada pela bengala. Mas quero voltar a poder dizer “vou ali” e ir sem ser um estorvo para ninguém. Que é o que sinto que sou neste momento. E não quero continuar a ser.

Voltar a ser como era já sei que não vai acontecer. Mas quero alcançar o melhor de mim para, apesar do diagnóstico, ser capaz de “ir ali” sozinha e sem precisar do apoio constante de ninguém…

Amanhã, segunda feira, é dia de Fisioterapia. E tentar conversar com o Fisioterapeuta sobre este meu objectivo de conquistar maior autonomia. E digo que vou tentar porque já sei que me fecho na minha bolha e não partilho o que quero…

Mas, para já, por agora!, está na hora de ir dormir. Descansar as pernas, o corpo e tentar desacelerar a cabeça para conseguir efectivamente preparar-me para mais uma semana de trabalho e esforço para conseguir conquistar o meu objectivo…

Depois? Depois logo se vê.