Daily Archives: 06/10/2022

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Dia de caixa de correio animada. Dois postais que me encheram as medidas. Sendo que um deles não tinha a certeza que viesse a caminho. Mas veio. Demorou muito tempo a chegar. Mas o que importa é que foi enviado. Quando eu cheguei a duvidar que fosse sequer lembrado.

Nunca perco a esperança quando sei que há postais a caminho. Por muito tempo que demorem, acredito sempre que chegam ao destino, que chegam até mim. E um postal, com muito ou pouco texto, é sempre especial. Porque é tempo dispendido, dedicado a outro. E o tempo não é reembolsável.

Vejo muitas vezes o tempo como um investimento. Especialmente quando envolve outras pessoas. Por isso é que não gosto quando me fazem perder tempo. E eu não tenho tempo para perder Tempo. E se há relativamente pouco tempo houve uma tempestade perfeita que me fez perder tempo, hoje olho para trás e vejo que cinco anos de um porto de abrigo têm sido o melhor investimento que podia ter feito.

Quando esta história começou, há praticamente cinco anos (faz cinco anos dentro de poucos dias…), foi com medo que embarquei. Claro que foi, afinal não sabia o que me esperava do outro lado. Não sabia quem estava do outro lado. Nem sabia que podia ser uma das melhores pessoas que conheço.

Depois veio tudo o resto. Aquele “já foste”, logo no primeiro dia, deixou-me completamente do avesso até ganhar coragem para admitir para o outro lado o que trago comigo, cá dentro, em mim. E aí novamente o medo. Que tudo mudasse e que perdesse aquilo que já tinha conquistado: um amigo. Nada mudou, nada se perdeu. Nem mesmo quando, há poucos meses, recebi aquele murro no estômago que me derrubou como nunca pensei ser possível… Mas foi. Aconteceu. Doeu. Muito. Mas nem aí perdi aquele que vejo como porto de abrigo. Nada que uma conversa não tivesse resolvido. E que acabou por, de certa forma, até fortalecer o que já existia…

É verdade que, em consequência desse murro no estômago, decidi afastar-me. Não impôr a minha presença. Dar espaço e deixar a amizade seguir o seu rumo. Sem saber, na altura, que o outro lado também levou um murro no estômago. Pensei mil coisas. Que a minha ausência não era notada, não era percebida. Estava enganada. Fiquei a saber há muito poucos dias o quanto estava enganada. E hoje quero ser eu porto de abrigo, se quiserem que o seja.

E o postal que não sabia se tinha sido enviado, o que cheguei a acreditar não ter sido lembrado, veio pouco tempo antes desse murro no estômago que o outro lado recebeu. Mas chegou na altura certa. Numa altura em que existe uma nova proximidade. Uma nova disponibilidade. E uma vontade, minha, de inversão de papéis: quero ser eu, dentro do que posso ser, porto de abrigo.

Sim, um postal é algo especial. Pode ser algo muito simples. E ao mesmo tempo ser tão forte. Porque, já o disse, é tempo investido de alguém para alguém. E nesse gesto tão simples vejo que o investimento dos últimos cinco anos não foi desperdiçado. E é também por isso que continuo a preferir o porto de abrigo, que pode nem levar a lado nenhum, a uma tempestade perfeita com alto potencial destrutivo.

É com um sorriso no rosto (e no olhar!) que hoje termino o dia. Porque, às vezes, basta um simples postal para me aconchegar. Como hoje.