Há uns dias, no Instagram, comentei uma publicação, de uma amiga que veio da blogosfera lá pelos idos de 2003 e permanece até hoje, sobre uma t-shirt que ela comprou e que eu andava há meses a namorar e que já constava da minha wishlist desde a primeira vez que a vi. Achava piada ao boneco, um animal astronauta, mas foi a frase que me prendeu: “Houston, I have so many problems”.
Falámos um pouco sobre a t-shirt e a loja online de onde veio. Já tínhamos falado anteriormente sobre meias. Sim!, meias! Daquelas giras, originais e diferentes vindas da mesma loja de onde eu também já comprei umas quantas com obras de arte de Van Gogh, Klimt, Münch e Da Vinci. Chegámos ambas à conclusão que a loja é uma perdição e que o meu problema é ter nascido pobre e não herdeira e que estar de baixa médica há mais de um ano a receber 70% do meu salário (mínimo) me obrigava a planear muito bem todas as despesas e, claro, compras online seriam “para quando der”.
Falámos nessa altura e ficámos por aí sobre o assunto. Até que, passados alguns dias, ela me envia uma mensagem: “fica atenta à caixa de correio. Ainda vai demorar uns dias, mas considera um Natal antecipado”, seguido de um link para seguir uma encomenda. Fiquei sem saber muito bem como reagir na altura, não estava mesmo nada à espera de uma mensagem dessas, muito menos de receber uma encomenda da tal loja.
Os dias foram passando e eu, volta e meia, lá ia espreitar por onde andava a encomenda e, ao mesmo tempo, pensava “a rapariga é doida! De certeza que resolveu enviar-me os patos que eu adorei!”. Os patos são, oh espanto!, meias! Que fazem uns patos muito engraçados e que também estão na minha wishlist.
Esta manhã, nova mensagem dela: “vai chegar hoje! Entrega prevista entre as 9h45 e as 12h45!” E, confesso, houve um bocadinho daquela ansiedade boa de saber que algo bom está a chegar aliada à ansiedade da curiosidade!
Foi quando a minha mãe chegou da fisioterapia que me trouxe, da caixa de correio deprimida, duas coisas: um envelope com uma carta e um pacote! A carta? Mais uma convocatória da Segurança Social para Junta Médica. Já estava à espera, nada de extraordinário, mas dispensava porque ali tanto posso ser atendida por seres humanos como por autênticos calhaus! E calhaus não me apetece, sinceramente. O pacote era o tal que eu sabia que ia chegar mas que era demasiado volumoso para ser um simples par de meias. Não sendo as meias dos patos então é que não sabia mesmo o que poderia ser…
Não consegui abrir logo o pacote. Estava a saber-me bem saber que tinha ali uma surpresa para mim. Que não fazia a mais pequena ideia do que esperar. Fui até ao cadeirão beber um café e fumar um cigarro e o pacote ali ao meu lado a olhar para mim à espera de ser aberto…
Dei por mim a sentir-me como uma criança de 5 anos sentada ao lado da árvore de Natal à espera de autorização para abrir as prendas, tal era a ansiedade (da boa) aliada à curiosidade! E há muito tempo que não me sentia assim: entusiasmada! E quis preservar esse entusiasmo por mais um bocadinho. Estava mesmo a saber-me muito bem!
Respirei fundo e disse: “bora lá!” Peguei no pacote, rasguei o plástico, meti a mão lá dentro para tirar o que lá vinha e, assim que espreitei ao mesmo tempo que a minha mão agarrava no conteúdo soltei uma gargalhada como há muito tempo não soltava e comecei a rir sozinha! A rir muito! Porque mesmo antes de tirar o conteúdo já tinha conseguido ver o que era! E ri! Ri muito! E disse à minha mãe “aquela miúda é doida!” E continuei a rir! Já estava muito contente por ter chegado a encomenda, mas depois de ver que era “A” t-shirt de que tínhamos falado, que eu lhe tinha dito que era a minha cara só pela mensagem que tinha impressa, só consegui rir! Rir muito! Rir tanto! Porque estava realmente surpreendida e FELIZ! A t-shirt é linda e ainda vinha acompanhada com uma bolsa a fazer conjunto com a mesma mensagem: “Houston, I have so many problems!”.
Não foi só a t-shirt que me deixou feliz. Foi também o gesto de quem ma ofereceu depois daquilo a que normalmente se chama de conversa banal. Informei-a, assim que o pacote me chegou às mãos, de que já estava comigo. Mas ainda demorei quase uma hora para o abrir. E, depois de aberto e ainda a rir, agradeci mil vezes na mesma mensagem e continuei a rir. Disse-lhe que tinha adorado, claro, como não?! Uma t-shirt que é a minha cara! Que me fez ganhar o dia! Ao que ele me responde: “é só uma coisinha pequena para animar um bocadito mais os dias”. Com’assim, uma “coisinha pequena”? Só pelo gesto, pelo carinho, pela amizade, pela preocupação de me animar um bocadinho é uma coisa GIGANTE! E a verdade é que o ânimo deu uma volta de 180 graus para muito melhor!
…e a esta hora, em que a noite começa a roçar a madrugada, ainda estou incrédula, a rir e extremamente agradecida. Pela t-shirt, claro, mas acima de tudo pelo gesto! Inesperado. E inesquecível! E dou por mim a perguntar a mim mesma o que é que eu fiz para merecer tanto?! Mas depois penso logo a seguir “eu também mereço que me aconteçam coisas boas!” E, no caso dela, só é pena morar na outra ponta do país. Porque se fosse daqui de perto saía rapidamente um abraço gigante mal a encontrasse. E, o mais engraçado nisto tudo, é que nos conhecemos há 21 anos, já partilhámos histórias, já partilhámos experiências, já nos inspirámos uma à outra, temos acompanhado o que cada uma decide depositar no éter. Mas nunca nos vimos ao vivo!
Amizades via Internet. Ainda há quem desconfie desse tipo de relações, aproximações, o que lhe quiserem chamar. Mas depois há exemplos como este que, mais uma vez, me diz: sim!, é possível o que começa na Internet de forma tão ligeira e simples como o nosso caso em que líamos o blog uma da outra, tornar-se em algo forte e verdadeiro.
E hoje, só por causa de uma conversa banal que se transformou num gesto gigante, o dia foi bom! Muito bom, até! E, mais uma vez, digo: eu sou uma miúda de sorte!