O que é que me encanta, cativa, me faz gostar tanto das papoilas de Janeiro que, em Fevereiro, resistem cheias de cor e vida?
A resiliência. Não apenas a resistência de quem enfrenta o frio gélido de Janeiro, o vento, a chuva, todas as agressões que não pode controlar. Mas a forma como se fazem regressar ao seu máximo esplendor no Verão depois de tantas agressões no Inverno.
Tenho que aprender a ser papoila de Janeiro. Sempre me considerei resiliente, mas o último ano tem-me posto à prova como nunca. E eu tenho tentado resistir a todas as agressões de um Inverno que, para mim, começou em Junho de 2023…
Dia de regresso à Fisioterapia. E, hoje, sozinha. Companhia até entrar no autocarro cedo de manhã. Companhia desde a saída do autocarro no regresso a casa. Todo o restante caminho sozinha. E não é um caminho fácil. Chão não muito irregular, é verdade, mas com demasiadas texturas, demasiados tipos de solo que atrapalham o caminhar em segurança, incluindo os carris do Metro de superfície de Almada que, quer queira que não, sou obrigada a atravessar.
A parte mais difícil vem depois. Aquela inclinação até chegar à entrada do prédio da Fisioterapia…acompanhada já não é fácil. Sozinha é uma aventura. E, já percebi, de um risco de queda bastante elevado. Mas não quero obrigar ninguém a ir comigo até à Fisioterapia para ficar quase 2 horas à minha espera só por causa de uma inclinação. E, quando digo “alguém”, refiro-me obviamente à minha mãe. Que também começou a fazer Fisioterapia na mesma clínica mas que, agora que terminou o ciclo de tratamentos, está à espera de vaga para recomeçar. Eu, doente neurológica, já não preciso de esperar entre ciclos, posso começar de imediato. Mas, desta vez, pedi uma semana de descanso. Porque os exercícios podem parecer muito simples. Para os outros talvez sejam. Mas não para mim. E, mesmo tendo estado de fora só uma semana, o regresso provou-me que não posso parar.
Foi um regresso duro. Em que só a muito custo consegui fazer os exercícios todos. E quando envolveu a perna esquerda, voltei a comprovar o mau estado em que está. Pesa 3 toneladas. Erguê-la requer um esforço enorme para conseguir completar os exercícios. A nível sensibilidade não sei como está, mas nos exames hospitalares de há um ano a percentagem de falta de sensibilidade já denotava limitações. E é, de facto, na perna esquerda que sinto maiores dificuldades para tudo…
O frio não ajuda. E senti os seus efeitos no regresso a casa. Dificuldade em caminhar, mesmo em casa, já é habitual. Mas hoje senti a ausência de força nas pernas sempre que me desloquei em casa. E isso nunca tinha sentido, com maior ou menor esforço das pernas, nunca tinha sentido a força a abandonar-me…
Amanhã repete-se a manhã: companhia até à paragem do autocarro de manhã, prosseguir sozinha até à clínica, fazer os exercícios, voltar sozinha até à paragem do autocarro ao pé de casa, companhia até casa. Depois vai ser almoçar, descansar a cabeça que continua entregue a uma caixa de som e vibração ininterrupta, esticar-me, aquecer e relaxar no sofá até serem horas de sair para o Yoga que, a partir de amanhã, acontece às quartas feiras em vez das quintas.
Quero conseguir descansar o suficiente para ir mais cedo. A tempo de um café enquanto vejo o pôr do Sol na praia. Se vou conseguir? Não sei. O que sei é que não me posso esquecer da resiliência das papoilas de Janeiro que resistem em Fevereiro e se voltam a erguer no Verão. Eu sempre disse que, quando crescer, quero ser uma árvore. Hoje altero o desejo. Hoje digo que, quando crescer, quero muito (tanto!) ser uma papoila de Janeiro!

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