It’s OK not to be OK…
Sabes que não estás mesmo nada bem e a precisar de ajuda urgente quando:
Hoje foi dia de sair de casa logo depois do almoço, pouco depois das 14h. Apanhar o autocarro até ao centro da vila para beber um café ao Sol na esplanada. Ficar perto de duas horas na esplanada a saborear o Sol. E com a ideia fixa de aguentar o mal estar das pernas para ir até ao paredão ver o pôr do Sol na praia.
Apesar do desconforto nas pernas, estava tranquila, serena e até confiante de que iria conseguir atingir o objectivo de ir ao paredão. No entanto, já tenho vindo a perceber em mim há uns dias breves momentos de respostas e reacções mais impulsivas. Impacientes. Quase agressivas. Reacções em mim que não gosto. Porque essa não sou eu. Ou, se calhar, sou. Bem lá no fundo devo ser eu também…
Subir a rua em direcção ao Mar, ao pôr do Sol, foi um desafio. Porque subir custa. E ir contra a corrente de gente que seguia na direcção oposta também não foi tarefa fácil. E, a certa altura, dei por mim a pensar que todos aqueles que viravam as costas ao Sol que mergulhava a caminho do Mar estavam a perder um momento que, apesar de acontecer todos os dias sem excepção, é sempre bonito e sempre diferente e único.
Havia nuvens logo acima da linha do horizonte, o Sol apareceu fugaz num pequeno intervalo entre as nuvens ao mesmo tempo que eu cheguei ao paredão. E, como acontece sempre, todos os dias, éramos muitos, éramos tantos!, a assistir àquele momento que marca o final do dia e o início da noite. E cada um sentiu aquele momento à sua maneira.
O que ninguém esperava era o jogo de luz e cores que fizeram do céu, logo após o pôr do Sol, uma tela pintada a lápis de cor!, ou seriam lápis de cera?, ou pastel!, ou até pincéis e aquarelas ou gouache! Não sei! Só sei que o espectáculo de cores no céu é memorável. De repente, o céu estava cor de rosa! Lilás! As nuvens tinham cores diferentes do habitual. E todos aqueles que estávamos no paredão assistimos a um momento único e de rara beleza.
Não foi fácil deixar de olhar para aquelas cores no céu, mas com a chegada da noite também as mil e uma cores se despediram. E todo e qualquer registo fotográfico daqueles minutos em que o céu ficou com nuvens nitidamente cor de rosa não fazem justiça ao que os nossos olhos registaram e gravaram na memória…
Já de regresso a casa, a tranquilidade, a serenidade e a confiança do início da tarde começaram a dar sinais de se terem esfumado com as cores do final de dia. Não sei dizer exactamente o que aconteceu, o que estava (e estou!) a sentir. Só sei dizer que a noite não me é boa companheira. E, de repente, percebi que estava com medo… Medo de ficar sozinha comigo mesma…e há muito tempo, que se traduz em vários anos, que não tinha medo de mim mesma…
Tenho medo de como irei reagir quando me cair de vez a ficha de que isto não tem como ser revertido. O meu objectivo com a Fisioterapia não é apenas o de manter o que tenho, mas sim recuperar o que perdi, recuperar o irrecuperável. E foi o falar sobre o meu estado actual que me inquietou e até, de certa forma, me paralisou. Porque desde que cheguei a casa até ter alguma reacção como simplesmente tomar banho antes de jantar houve um período de duas horas em que nada aconteceu. Porque praticamente não me mexi de onde estava, não reagia a conversa, era como se eu não estivesse sequer dentro do meu corpo. Estava longe. Não faço ideia onde. Ou então estava à espera de acordar deste sonho mau para perceber que, afinal, nada se passa comigo.
Não posso continuar a brincar ao Faz de Conta. Faz de Conta que está tudo bem. Faz de Conta que EU estou bem. Não posso continuar a jogar esse jogo porque a maior prejudicada nesse jogo sou eu.
Fiz questão de partilhar com ele o que se estava a passar, o que estava a sentir e que não posso continuar a brincar ao Faz de Conta e que com ele seria impensável jogar esse jogo. Por muito que me custe, e custa horrores!, partilhar com ele quando não estou bem, não estaria a ser verdadeira, sincera, honesta com ele. E ou me aceita como estou ou sou ou lá o que é, ou não. Simplesmente não.
Ele respondeu. Eu ainda não abri para ler a resposta, só vi a notificação, mas faltou-me a coragem… A esta hora em que a noite já passou a madrugada já não vou ler. Preciso de descansar. Preciso de dormir. Fisioterapia de manhã cedo e tanta coisa para fazer e outra tanta para organizar na minha cabeça…e a tarde de hoje, a nível físico, foi um abuso que amanhã me vai cobrar o esforço…
O que eu sei é que voltei a ter medo de estar sozinha comigo mesma. E isso não é nada bom sinal…
