Sim, é verdade que, até hoje, sobrevivi a 100% dos meus piores dias…
Hoje? Com consulta com o neurologista a acontecer amanhã de manhã, a primeira desde o internamento em Fevereiro, onde se vai confirmar aquilo que ele já me confirmou por telefone (o diagnóstico), onde se vai falar das lesões que eu já sei que existem mas ainda não sei quantas nem em que áreas do cérebro e se também existem na coluna, onde se vai falar do tratamento que já começou e que recebo a segunda meia-dose da medicação na terça feira, em que se vai falar de futuro e enterrar o passado porque já não volto a ser quem era, com isto tudo, não posso dizer que “só” estou nervosa. Não. Eu não estou “só” nervosa. Eu estou apavorada.
Não é exagero. Tenho muito medo do que vou ouvir amanhã. E tenho tantas perguntas para fazer que nem eu sei quais são.
Por isso, vamos tentar manter os objectivos de sobrevivência a dias maus nos 100%? Dizem que tentar não custa. Mas, com o pavor que sinto neste momento, com a vontade de chorar que não me larga e que não se realiza, tentar é uma árdua tarefa.
Porque, sim!, estou a p a v o r a d a!
Mas depois há quem tenha aquela capacidade de me fazer sentir segura e mais serena, mais tranquila. Que desde o início me disse que faríamos o caminho juntos e de mão dada e que se se tornasse mais difícil me levava ao colo, mas que nunca deixaria de fazer o caminho comigo, ao meu lado.
E, mesmo à distância de um clique, só ouvir a voz dele me trouxe de volta à Terra e me serenou, me tranquilizou. Me fez voltar a respirar.
Sim, continuo com medo. Continuo com uma lista imensa de coisas que quero falar por escrever. Perdi o rumo às horas. E o sono já aperta e não me ajuda a pensar com clareza no que quero falar, por isso a lista será feita amanhã de manhã ao pequeno almoço.
Agora, e depois de mais um momento de partilha de nem-sei-o-que-lhe-chamar-mas-que-é-sempre-uma-partilha-inesquecível, mais uma tatuagem na memória, dou o dia por terminado. Um dia impaciente. Um dia nervoso e ansioso. Um dia de pavor. Um dia em que, mais uma vez, ele teve um papel fundamental. Acho até que nem ele tem bem a noção da diferença que fez ouvi-lo hoje.
A distância é real. O Mas existe. Mas ele, de uma forma ou de outra, está sempre comigo. Está sempre presente.
Até agora, quando eu finalmente me for deitar, é nele que vou aninhar e enroscar. De uma forma só nossa. Que não tem que fazer sentido para mais ninguém. Mas que, desde o primeiro dia, para nós faz. Todo o sentido. Mesmo a 135km de distância, que é o mesmo que dizer à distância de um clique.
E amanhã? Logo se vê como corre a consulta. Logo se vê o que vou ouvir. Logo se vê o que vou saber. Logo se vê o que vou descobrir. E eu ainda tenho tanto para aprender, descobrir, saber.
Agora é hora de tratar de mim e ir descansar. Dormir tranquila. E segura porque acolhida e aconchegada num abraço à distância de um clique.