Daily Archives: 08/10/2024

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Dia de toma da segunda meia-dose da medicação. Com hora de início marcada para as 8h, foi preciso sair de casa (boleia/Uber às 7h30 à porta de casa), acordar às 6h depois de adormecer depois da 1h da manhã, foi o chamado dormir a correr. Mas valeu a pena. Pelo antes de dormir. Pelo acordar. Por causa dele que, apesar da distância, se fez presente. Como está sempre, nem que seja só à distância de um clique.

Chegar ao Hospital cedo, ter tempo para um café e um cigarro, respirar fundo e avançar. Esperar ser chamada deixa-me sempre agitada, meio nervosa, quem sabe se ansiosa, mesmo sabendo o que me espera e que vai ser tranquilo.

Entrei, percebi que o cadeirão ao pé da janela estava livre, bati palminhas de contente porque aquela é, de facto, uma janela para o Mundo. É ali o único lugar naquele piso da Radiologia que consigo ter acesso à Internet. E é com acesso à Internet que não fico sozinha num processo que, já de si, é solitário.

Instalei-me no cadeirão, colocaram todo o material que tinha que colocaral, deram-me o Ben-u-Ron de prevenção e começou a medicação a entrar-me nas veias.

Não tardou muito que adormecesse, não só pelo efeito do anti-histamínico que, já se sabe, dá sono, mas também pela noite dormida a correr. Dormi pouco mais de uma hora até o telefone tocar. Chamada curta. Continuamos a conversa amanhã, provavelmente. Era só para saber o resultado da consulta de ontem. Assim já posso falar também do dia da toma da medicação.

Não me lembro se voltei a adormecer. Sei, sim, que o dia foi passando tranquilo. Não levei kit de sobrevivência, já sabia que não ia precisar de mais nada além do telemóvel, do powerbank, da garrafa de água e do meu polvinho de tecido para um bocadinho de conforto. Música sempre presente nos phones, excepto quando foi preciso ligar o powerbank. Nesse tempo, a televisão. Em canal de cabo. Canal de séries que vou acompanhando. Por isso, perfeito!

E, sem dar pelas 6 horas passarem, chegou o período de observação pós administração da medicação. Foi uma hora que pareceram 5 minutos.

Cá fora, já a minha mãe à minha espera. Casa de banho. Primeiro autocarro. Segundo autocarro. Mercearia. E casa! Finalmente em casa! Não fiz rigorosamente nada o dia todo para além de estar semi-deitada no cadeirão a receber medicação. Não andei, o dia todo, mais do que 980 metros. Podia jurar que teriam sido ainda menos. Mas não interessa. O que interessa é que, de alguma forma, o cansaço está comigo sempre. Fadiga? É possível que seja. E, claro, faz parte desta coisa que me apanhou na curva.

A ideia, quando cheguei a casa às 18h, seria esticar-me no sofá e relaxar e descansar. Não aconteceu. Instalei-me no cadeirão e fiquei a saborear a presença dele, com momentos de partilha cúmplice. Mais uma (ou várias, como quiserem) tatuagem na memória.

Ele não tem mesmo noção, por muito que tantas vezes lhe diga, o quanto gosto dele. E, todos os dias, gosto mais um bocadinho. E quanto mais vou (re)conhecendo, mais gosto e mais sentido me faz o que temos, mesmo que, até ver, só o tenhamos à distância de um clique. Mas sabemos que estamos lá um para o outro, sempre. Assim como ele me disse, logo desde o início e em que tudo ainda era uma suspeita, que o caminho seria feito a dois, pelos dois, de mão dada. E que, se o caminho se tornasse mais difícil, ele levava-me ao colo. E que o importante é que nunca iria sair do meu lado por causa disto. E a verdade é que o caminho tem sido sempre feito a dois. Não sabe ele é a quantidade de vezes que já me levou ao colo nos dias mais doridos… Mas, mais de um ano depois, continua a fazer o caminho comigo. Continua do meu lado, ao meu lado. Continua a fazer parte daquela equação em que 2 dá 1. Ele+Eu=NÓS. Nós que, mesmo sendo plural, somos só um. Entenda quem quiser. Porque não vou explicar. Eu sei. Ele sabe. Mais ninguém precisa de saber.

Agora, a esta hora, eu já devia estar a dar ao meu corpo o que ele precisa: descanso. Para recuperar da agressão da medicação hoje. E amanhã regressar à minha bolha de auto-isolamento pelo menos por mais 15 dias, talvez um bocadinho mais, logo se vê.

Por isso, sim!, o dia foi longo. Intenso. Cheio de tanta coisa. Especialmente a dois. A medicação volta a ser tomada em Abril. Até lá há muito trabalho a fazer, ela faz o dela, eu faço o meu, que ainda tenho que definir, passar para o papel e, devagarinho, começar a tratar (melhor) de mim. E, já sei, ele vai ser um apoio muito importante como tem sido desde o primeiro dia, 5 de Junho de 2023. Uma data que não esqueço.

Dou o dia por terminado. Estou cansada. Vou enroscar e aninhar como todas as noites faço com ele. E esconder-me, aconchegar-me, proteger-me e ser acolhida naquele abraço completo dele. Amanhã? Sem horários, sem programa, sem nada que não seja permitir ao meu corpo descansar, recuperar e fortalecer-se. E ele sempre presente. Como sempre.

O resto? É só isso mesmo: o resto. Logo se vê.