Eu disse, esta tarde, que queria ir à rua. Dar uso às pernas que bem precisam de ser usadas e trabalhadas diariamente. Mas a verdade é que, claro, no sofá com duas mantas, uma gata e uma almofada térmica quentinha, só podia acontecer o que acabou por acontecer: adormeci. Que é o que agora mais faço porque estou cansada de nada.
Mas acabei por ir à rua. Espairecer um bocadinho, respirar ar fresco para me aliviar das alergias que tomaram conta do pessoal cá de casa. Mercearia e depois a esplanada do costume para comer uma tosta para o jantar. E, posso garantir, o serviço na esplanada do costume está cada vez melhor. Só que não…
Fui acompanhada pela minha mãe, claro. Conversámos, mas já não me lembro sobre o quê…
O frio estava agressivo e de repente lembramo-nos que estamos no final de Outubro! É normal que esteja frio. Mas nem por isso chateia menos.
Voltámos para casa e, para mim, ir dormir está fora de questão. Demasiado agitada, demasiado inquieta. Com tanta coisa a correr na minha cabeça. Não necessariamente coisas agradáveis. Claro que, mais uma vez, me sinto cansada. Quero obedecer ao que o meu corpo exige, mas a minha cabeça não deixa…
E para ajudar (só que não) vou consultar os resultados deste Sábado e confirmo: hoje dei uso às pernas. Foram 220 metros, 317 passos. Vergonhoso, portanto…
Tenho que combater isto. Não sei como, mas tenho. Não posso permitir que o sono, o frio, a chuva me façam parar no sofá todos os dias. Não. Eu PRECISO todos os dias de dar uso às pernas, mas mais do que 220 metros.
Estou perfeitamente consciente que a perda da mobilidade é uma realidade possível. Mas eu não a quero para mim. E tenho as ferramentas todas necessárias para combater isto. Tenho pernas mais ou menos cansadas e doridas mas funcionais! Tenho um parque de 14 hectares praticamente à porta de casa com o chão regular e perfeito para caminhar, trabalhar a marcha e o equilíbrio. Com um relvado imenso à espera que os meus pés descalços o pisem.
E, logo ao lado, tenho 3 km de um paredão junto à praia, onde posso respirar o ar do Mar que está logo ali.
Tenho tudo. Até uma bengala para me apoiar e a minha mãe para me acompanhar. E não o faço…por pura estupidez. E, talvez também, alguma falta de incentivo. Eu sei que o tal incentivo tem que partir de mim. E na minha cabeça ele está muito bem definido. Sei exactamente tudo o que posso e quero fazer. Mas não sei por onde começar nem onde e o que procurar…
Resumindo: não, não está fácil. Nem física nem mental e muito menos emocionalmente. Estou completamente na merda. E se o digo é porque, de facto, o sinto. E dizerem-me que este discurso não ajuda nada e que eu tenho que ser mais positiva ajuda ZERO!
É exactamente o mesmo que me dizerem que tenho que ser forte quando forte é tudo o que tenho sido nos últimos anos. Se não o fosse, tenho a certeza que hoje não estaria cá para contar a História. Que é a MINHA História. Que tem sido de luta desde que me conheço.
Por isso, não!, não tenho que ser mais positiva, mais forte, mudar o discurso que é um discurso de quem está cansada de tudo o que tem passado, tudo o que tem lutado e que, de repente, com a excepção da família, com a excepção dele que está sempre à distância de um clique que fica a 135km, está completamente sozinha.
Não procurei nada do que já passei. Decididamente não procurei isto que me apanhou na curva. E também decididamente não fiz nada para, quando mais preciso de quem diz que gosta de mim, não ter ninguém por perto, nem para beber um simples café!
Enfim…alguma coisa devo ter feito de errado. Só não sei o quê…
