Último dia dos 45. Como previsto, não houve jantar. Mas houve melhor do que isso. Bastou uma mensagem a dizer “Não posso ir jantar contigo, mas vou levar-te a passear de manhã”… E levou!
E a conversa fluiu naturalmente. E tomou caminhos sensíveis. Como a saúde mental. A minha saúde mental. E o (mau) estado dela no meu momento mais crítico. A pergunta, que eu não esperava, foi feita. Ou a afirmação de uma preocupação. “Cheguei a pensar que te ias suicidar…”. Já não me lembro se foram exactamente estas palavras, esta a frase que foi proferida. Mas sim, questionou-me sobre o suicídio. E sim, respondi a verdade: que tinha considerado essa hipótese. Porque, naquela altura, era a única solução que eu via para uma dor que me consumia todos os dias de uma forma demasiado violenta e que teimava em não abrandar.
Nunca tive problemas ou tabus em falar sobre saúde mental, especialmente a minha. Que, mesmo quando frágil, ou especialmente quando frágil, era visível o seu estado. Só não o via quem não queria ver. E foram tantos os que desviaram o olhar.
Mas hoje, tantos anos depois, percebi que tinha alguém de olho em mim. E que hoje, simplesmente por estar presente quando mais ninguém quis estar, marcou a diferença com um passeio à beira mar, longe daqui. Dizem que o mar é sempre igual, é sempre o mesmo. Não é verdade. Aquele mar de hoje é outro.
Falou-se de mais para além da saúde mental. Falou-se de experiências. Caminhos. E o potencial que várias pessoas me apontam. Pessoas que não se conhecem entre si. E que me dizem exactamente o mesmo: tens que ir por aí. E ir por aí é só para quem, de uma forma ou de outra, é especial. E é isso que me apontam. Três pessoas que não se conhecem. E com quem, antes, nunca tinha falado sobre isto.
Mas hoje, para além de me apontarem novamente o caminho, deram-me também um mapa. E a confirmação de que a ponte está lá. Cabe-me a mim decidir se sigo o mapa e se me atrevo ou não a passar a ponte.
Estou muito tentada em conhecer esse caminho, seguir esse mapa. Mas, também o fiz saber, tenho medo de passar essa ponte. Mas sei que não estou sozinha. E sei que a decisão é unicamente minha. Mas, lá está, é algo que está em mim. Não há como fugir. Porque esse potencial existe em mim. E requer que o trabalhe.
Sei, mesmo não tendo ainda dado o primeiro passo, que exige muito trabalho. De auto-conhecimento para começar. E de tanto mais que ainda não sei, não conheço e nunca soube por onde seguir. Mas agora sei que é possível seguir um mapa. Ter um guia. Alguém que me dê a mão.
É curioso o caminho que uma conversa pode tomar numa esplanada à mesa de um almoço de pré-aniversário. Sempre ouvi dizer que tudo acontece quando tem que acontecer. Nunca antes. Nunca depois. E uma frase que retenho: “acontecerá quando estiveres pronta”. E outra frase que faz todo o sentido: “quando o aluno está pronto, o Mestre aparece”. E começo a acreditar que este é o momento. Por isso, sim, vou seguir esse mapa, conhecer um pouco mais desse caminho. E depois decidirei o que fazer com o que vier.
Sim, é o último dia dos 45. E sim, foi um dia muito bom. E muito especial. Não só pelo passeio. Mas especialmente pela partilha.
E sim, sou mesmo uma miúda de sorte. Só que, às vezes, esqueço-me disso…