Daily Archives: 08/12/2024

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[pouco depois das 17h…]:

Está uma luz linda lá fora. Tenho acompanhado esta luz, hoje tão bonita, o dia todo pela minha janela. A vontade de ir à rua sentir esta luz, sentir o calor desta luz num dia que, ainda sendo Outono, está frio como um Domingo de Inverno, é uma vontade enorme de quem pouco sai de casa. Mas o efeito sonoro da força do vento nas minhas janelas traduz-se facilmente num sinal de aviso: o risco de queda com o forte vento que está lá fora é grande. E real.

Facilmente poderia preparar-me para enfrentar o frio. Roupa quente, o poderoso casacão de Inverno, seria o suficiente para enfrentar o frio. E apetecia-me muito ir até à esplanada de Domingo para beber um café e apanhar um bocadinho de ar e espairecer um pouco para organizar as ideias confusas que se atropelam na minha cabeça. Aproveitar esta luz bonita que está quase a dar lugar à noite. Tudo isto seria fácil de alcançar.

Mas o vento, que se traduz em aviso de risco grande e real de queda, diz-me que estou mais segura em casa. Porque, para uma queda por falta de equilíbrio acentuado pela força do vento, não tenho como me preparar. Porque o risco é, de facto, grande e real. E os resultados de uma queda podem trazer consequências grandes para as quais não estou preparada nem sequer mentalizada. E, sinceramente, uma queda no meio da rua, ou seja lá onde for, já agora!, é coisa que não me apetece nem um bocadinho.

A esta hora a luz lá fora já mudou. O Sol já se despediu por hoje. E eu já recolhi ao sofá, aqueci as almofadas térmicas e já tenho, em cima de mim, a manta quentinha. Só me falta a gata para me sentir completamente aconchegada, mas não faço ideia onde é que ela anda e, mesmo que a chame, ela não me liga nenhuma.

Amanhã logo se vê como estará a luz lá fora. E, se o vento continuar como está, não arrisco sequer um café na esplanada do costume que fica já ali.

Enfim…nunca pensei que, um dia, até o vento me iria condicionar as saídas de casa por risco grande e real de queda

[às 2h25m da manhã…]

Imediatamente após ter escrito o texto acima, já quente pela manta e pelas almofadas térmicas, enroscada no sofá, adormeci… Das coisas que mais me chateiam neste meu novo normal é esta facilidade, ou será necessidade?, que tenho para adormecer à tarde, mesmo quando dormi até muito tarde e acordei a horas que não registo em lado nenhum.

Acordar muito tarde também está directamente ligado ao facto de, todas as noites, ir dormir tarde. Muito tarde. Demasiado tarde! Ontem, por exemplo, já passava das 3h da manhã. Mas ontem…ontem foi noite de expôr fragilidades, principalmente a insegurança de sempre. Foi noite de me questionar. E, ao mesmo tempo, não conseguir sequer imaginar o outro cenário possível. Sim, o meu papel não é o mais desejável, para ninguém e decididamente não para mim. Que sempre disse que nunca iria querer desempenhar. Mas do qual, neste momento, não consigo sequer pensar em abrir mão. Nem quero. Porque há muito mais do que esse papel no meio disto. Que eu não me atrevo a chamar de “coisa” porque é muito mais do que simplesmente isso. Chamo de contexto. Apelidado por ele de peculiar. Porque é, de facto, um contexto peculiar.

Sei exactamente o que fez despertar em mim esse questionamento, essa insegurança, no fundo a fragilidade originada por nada mais do que medo. O medo da perda. O medo da perda do melhor que me aconteceu, que me acontece todos os dias. Que, em 18 meses, fez de mim alguém mais forte para lidar com as adversidades, especialmente aquelas, e têm sido tantas!, provocadas por aquilo que me apanhou na curva. Porque se há alguém, para além da minha mãe, que me tem acompanhado todos os dias, incluindo os dias menos bons ou até mesmo maus, tem sido ele. E todo este medo, toda esta insegurança, tudo aquilo que me vergou ontem à noite foi precisamente por causa dele, por causa de nós.

Mas, até naquele meu momento de maior fragilidade, insegurança e medo de ontem à noite, ele esteve presente. À distância de um clique, mas presente. E não sei se ele percebeu mas, enquanto conversámos sobre o que me estava a fragilizar, enquanto conversámos sobre nós, eu senti-me aconchegada no seu abraço, tal e qual como se ele estivesse aqui comigo fisicamente…

Há mais de 2 anos que digo que preciso de chorar e simplesmente não o consigo fazer. Mas ontem chorei. Foi um chorar estranho, mas chorei. Sem lágrimas quase nenhumas a caírem pelo meu rosto, mas chorei. Ainda me lembro de como ficava quando conseguia chorar: a respiração difícil, as expressões do meu rosto, o aperto no peito, o querer falar e ser difícil fazê-lo sem denunciar o choro. E tudo isso aconteceu ontem à noite. Mas sem lágrimas a caírem pelo meu rosto…

Foi estranho. Foi difícil. Foi doloroso. Quase aflitivo. Mas apesar da ausência de lágrimas, chorei. E, do outro lado, à distância de um clique, não tive ninguém a fugir do assunto, a fazer de conta que não se passava nada. Não. Do outro lado, à distância de um clique, estava ele. Que me acolheu tal como estava, que questionou, que ouviu, que, no fundo, conversou sobre o que se estava a passar. E, mais uma vez, ele confirmou aquilo que eu já sabia: com ele já sei que não só posso como devo conversar. E foi a conversar que ele me confirmou: isto que existe entre nós já não se trata só de eu e ele, mas sim de NÓS.

Talvez ele não saiba, ou não tenha noção, da importância que tem para mim ser ele a dizer que se trata de NÓS. Reforça ainda mais a certeza que eu tenho de que somos duas metades de uma peça única. Que pertencemos um ao outro, somos a metade que falta a cada um e que não sabíamos que faltava.

Não é um assunto de eu e ele. Esse universo já não existe. É um assunto de nós. Nosso. Em que dois fazem um só. É o NÓS!

…mas não posso negar que o silêncio dele hoje o dia todo me assusta…mas não quero, às 3h30m da manhã, sozinha, ter medo e muito menos deixar que esse medo tome conta de mim. Amanhã. Amanhã ele vai voltar a estar à distância de um clique. Como está todos os dias. Não pode não estar…

Amanhã. Agora tenho que tratar de mim. Não só por mim, não por causa dele. Mas por nós. Para nós. É hora de dar o dia por terminado. Que, apesar de tudo, foi longo. E, já à noite, foi estranho. Não me perguntem porquê, não tenho uma resposta para dar. Estou cansada. De nada, como sempre, mas estou cansada. E a precisar de voltar ao horário normal de ir dormir. Já não digo ir dormir cedo, mas pelo menos ir dormir antes da chegada da madrugada. Insisto em ir pela noite dentro e esqueço-me que as horas de sono são essenciais ao meu novo normal. E isso começa pela hora de ir dormir. Por isso, por hoje já chega. Não quero que as ideias confusas na minha cabeça despertem e me mantenham acordada por muito mais tempo. Amanhã? Logo se vê como será…