Daily Archives: 27/12/2024

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É possível sentir a cabeça muito cansada sem ter havido esforço mental, cognitivo ou até emocional? Sentir a cabeça extremamente confusa, baralhada e perdida no calendário? Sentir que já não sabes o que fizeste ontem à tarde mesmo que te digam que não fizeste nada? E no dia anterior, sabes o que fizeste? E no início da semana? Onde é que foste? Quem é que viste? Com quem é que falaste? Sabes, de alguma forma, que foste a algum sítio fazer alguma coisa com, talvez, alguma importância. Mas fazer o quê? Onde? Em que dia e em que horário?

Por muito que sinta que hoje é sábado à noite, já sei que não é, já me lembrei que ainda é sexta feira. Sei, porque me lembro, que ontem de manhã houve Yoga, houve conversa e café ao Sol na esplanada, praia logo a seguir enquanto fazia tempo para o autocarro, mas não sei o que aconteceu à tarde até sair para comprar tabaco e beber um café. Sei que, na véspera de Natal, à tarde, fui sozinha de autocarro até à praia ver o pôr do Sol, mas não sei o que fiz de manhã, sabendo que fiz alguma coisa que não me recordo. E a véspera de Natal, percebi agora ao rebobinar as ideias, aconteceu na terça feira. Mas não sei o que fiz durante o dia de Natal até sair para dar um bocadinho de uso às pernas e beber café ao fim do dia. E mesmo depois disso não sei o que se passou.

E só esta tarde percebi, porque mo recordaram, que este ano termina já na próxima semana. E eu ia jurar que seria lá para quinta feira até abrir o calendário e ver que, afinal, termina na terça…

Confusa. Baralhada. Perdida, até. E continuo zangada. Comigo. Apenas e só comigo. Porque na minha cabeça tenho uma tabela de Excel cheia de células apagadas, em branco. E não, sentir isto não é bom. Porque não são apenas as células de memória. São também as células de palavras, de nomes de coisas, que desaparecem ou se confundem enquanto tento uma conversa, enquanto tento tão simplesmente falar normalmente, sendo que é cada vez menos normal o meu discurso e mais normal o desaparecimento ou troca de células com informação que acaba aplicada erradamente. E, até a escrever, as células de informação parecem perder a luz e tornam-se simplesmente ilegíveis.

Estou a perder-me aos poucos. Não vou dizer que tudo isto é normal pelo isolamento desde Setembro de 2023. Pode até ser. A falta de convívio, interacção, rotina. Tudo isso junto pode levar a este estado de confusão, baralhação, esquecimento. Mas, para mim!, nada disto é normal. Não depois do esforço que tenho feito para que a informação na minha tabela de Excel da minha cabeça não se perca, não se baralhe, não se troque, não se apague…

…mas, também sei mas não aceito, pode ser mais um sinal de estrago feito pelo que me apanhou na curva…

Tenho que começar a puxar mais por mim. Organizar-me. Criar horários e rotinas. Para fazer o quê? Não faço ideia! Mas alguma coisa vai ter que acontecer! Alguma coisa eu vou ter que fazer acontecer! Não faço ideia do quê…mas alguma coisa! Porque como está, ou como estou!, não pode continuar!

E todos os dias me perco de mim mesma mais um bocadinho…e não posso. Nem quero! Perder-me de mim é o mesmo que deixar de existir a pessoa que sempre fui, com todas as qualidades e defeitos, e até capacidades! E eu não quero deixar de existir como sempre fui! Nem posso! Dizem que, com isto que me apanhou na curva, nasce uma nova Eu. Mas, percebo agora, essa nova Eu que está a nascer corre o risco de, negativamente, não corresponder em nada à Eu de sempre, que faço questão de manter, mas que sinto a fugir-me das mãos…e eu não sei como impedir essa fuga e essa transformação tão negativa em alguém que eu não reconheço, com a qual não me identifico e que, no fundo, NÃO SOU EU!

………

…um dia de cada vez…e, mais uma vez, a enorme vontade de chorar e não conseguir…