Daily Archives: 18/12/2024

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Dia estranho. Ou montanha russa de emoções e estados de alma. Ou, ainda, perceber que há dias que, por algum motivo que desconheço, roçam o meu limite. Não o físico, porque aí já percebi até onde posso ir. Mas a nível mental e, até emocional, não percebi bem o que se passou comigo hoje…

De manhã, acordar tarde mas ainda cedo o suficiente para, à distância de um clique, partilhar com ele um acordar daqueles que ficam tatuados na memória.

Depois do almoço, sair de casa já depois da hora prevista. Dia de renovar a baixa médica, mais 30 dias e já deixei há muito tempo de contar os dias sem trabalhar por indicação médica.

Café e uma espécie de lanche e um momento de descanso numa esplanada abrigada antes de apanhar o autocarro de volta para casa. E aqui o barulho começou a incomodar-me. As vozes na outra mesa, num volume demasiado alto, fizeram disparar um qualquer gatilho na minha cabeça…Se já me sentia algo confusa e baralhada, a partir daí foi sempre a piorar…

Apanhar o autocarro de volta para casa. Não dei pela viagem. Vinha fixada no telemóvel. Não me lembro se a escrever mensagens para ele com o resultado da consulta com a médica e a necessidade das vacinas fora do Plano Nacional de Vacinação mas altamente recomendadas para imunodeprimidos…como eu. Sei que tudo me incomodava, mas especialmente o uso da máscara. Que me impedia de respirar correctamente, que me incomodava bastante, mas que não me atrevia a retirar com tanta gente dentro do autocarro. Não retirei a máscara mas passei de uma máscara FFP2 de alta segurança para uma simples máscara cirúrgica onde respirar era mais fácil, mas ainda assim sentia falta de respirar livremente…

Assim que cheguei à minha paragem e saí do autocarro, imediatamente retirei a máscara e respirei profundamente. Fiz várias inspirações profundas, livres e senti, finalmente, o ar fresco a entrar e a chegar aos meus pulmões!

Voltar para casa era a última coisa que eu queria. Não estava frio. Decidi ficar na esplanada do costume por um bocadinho. Precisava muito do meu momento, aquele momento comigo mesma. Para acalmar a cabeça e tentar organizar o que estava confuso e baralhado. A esplanada não tinha ninguém, estava perfeita para estar ali. Por outro lado, e já desde Almada que o tínhamos percebido, o chão estava perigoso por causa da humidade. Chão escorregadio como manteiga. Um risco acrescido para mim…

Combinei com a minha mãe que lhe telefonava quando quisesse ir para casa para minimizar o risco de queda. E logo aí começou a pressão da minha mãe. Porque queria jantar cedo. Porque já era tarde. Porque eu não podia demorar. Porque…porque…porque! Quando o que eu queria e precisava era ter o meu tempo. Sem pressa. Sem pressão. Sem horários!

Deixei-me ficar na esplanada. Eu, a música e mensagem para ele. E pesquisa na Internet sobre os valores das duas vacinas que tenho que apanhar. E que me preocupa como as vou conseguir pagar…

A cabeça cada vez mais confusa, mais baralhada, cada vez mais sensível ao mínimo ruído. E ali não havia ruído em demasia. Mas mesmo assim… E sentir que o ruído não só me incomodava como me deixava profundamente enjoada. Não foi a primeira vez. Já há uns dias que sinto que, quando o ruído me incomoda, fico muito enjoada, muito mal disposta…

A minha mãe resolveu que estava na hora de eu voltar para casa e foi ter comigo. E aqui já eu estava demasiado inquieta, irritada sei lá com o quê, alterado o meu tom de voz já demasiado impulsivo. E uma breve discussão entre as duas. Sem necessidade. Apenas porque já eu estava alterada sei lá porquê…

Respirei fundo. Tentei acalmar a confusão na minha cabeça, a baralhação, e voltámos para casa. E eu prestes a rebentar. Porque voltar para casa com pressa, pressionada a cumprir horários e metas que não são o que quero, era a última coisa que eu queria…

De imediato percebi porque não queria vir para casa… Na esplanada havia aquilo que eu precisava: sossego. Em casa, um primeiro andar por cima de um pátio onde se juntam os bêbados do bairro a conversar demasiado alto, a discutir, a usar um palavreado que me incomoda…não era isto que eu precisava!

Cada vez mais intolerante com tudo, mas especialmente com o ruído. De um lado, o som da televisão na telenovela brasileira cujas vozes me incomodam de uma forma que não tem explicação. Do outro lado, o ruído no pátio: os gritos, as ofensas, o palavreado abusivo dos bêbados do costume. E eu cada vez mais confusa. Mais baralhada. A escrever mil mensagens para ele. Porque já não me lembrava se o que ele me disse há dias era para esta semana ou já tinha acontecido na semana passada. Simplesmente não me lembrava se já tinha acontecido ou não! E lá fora os bêbados e o barulho pareciam achas para a fogueira dentro da minha cabeça e eu prestes a rebentar. E, das duas uma: ou ia à janela mandá-los calar ou ligava para a GNR que já os conhece tão bem e já os proibiu de estarem ali a beber e a fazer barulho

Respirei fundo. Tentei abstrair-me do ruído lá de fora. Fui para a sala. Pedi à minha mãe para tirar a telenovela que ela pode sempre ver amanhã novamente. E ao mesmo tempo que cada vez me sentia mais incomodada com o ruído, dei por mim não a sentir-me enjoada mas sim com uma vontade enorme de vomitar… E dei por mim também a não me reconhecer por momentos. Muito confusa. Muito baralhada. Muito intolerante. Muito tão não eu

Acedi a tomar medicação para fazer baixar todos estes níveis de coisas impossíveis de suportar. Jantei com calma, levei o tempo que precisei para comer. Fui começando a relaxar. Mas a cabeça sempre confusa e baralhada

Depois do jantar é sempre o meu momento para beber o meu descafeinado novamente no cadeirão. E percebi que já não havia barulho na rua…

Perdi-me algures no tempo que já estou aqui. Só sei que queria ir dormir cedo. Precisava de ir dormir cedo. Amanhã é dia de vacinação gripe+COVID e tenho que estar cedo no Centro de Saúde. Tenho que acordar cedo para tomar banho com calma. Tomar o pequeno almoço com calma. Sair de casa a horas do autocarro. Mas tem que ser tudo com calma. Já não consigo fazer as coisas de outra forma. Já sei que quando é tudo a correr, acaba por correr mal…

Entretanto, já a noite passou a madrugada. O efeito do comprimido começa a apertar. E eu ainda estou no cadeirão…mas não posso! Por isso, acho que o dia termina aqui. Mais calma, mais ou menos tolerante, não sei se ainda confusa e baralhada, mas sem pressa de nadaE nada disto é bom.