Era uma vez uma miúda que era cheia de sorte e não sabia. Um dia recebeu uma mensagem a dizer para ficar atenta ao correio porque o Pai Natal ia chegar mais cedo. Passados uns dias, o Pai Natal que vinha do outro lado do Mundo, chegou. E trouxe-lhe um presente que era exactamente a cara dela e ela ficou muito feliz.
Os dias foram passando e começou a azáfama das compras de Natal. A miúda cheia de sorte foi até ao Centro Comercial acompanhada da sua melhor amiga: a Mãe. Viu uma ou outra coisa que gostou e a Mãe disse-lhe: “Gostas? Então levamos.”.
Os dias, sempre iguais, continuaram a passar e, de vez em quando, o carteiro lá trazia mais um postal ou mais uma surpresa e até uma encomenda feita por ela mesma de algo que estava prometido desde o Verão. E ela, a miúda cheia de sorte, sorria.
As compras ainda não tinham terminado, era preciso comprar mais uns quantos presentes. Ela e a Mãe viraram-se para a Internet e encomendaram várias coisas, especialmente para os sobrinhos. Até que ela ganhou coragem e mostrou à Mãe a loja online que tinha debaixo de olho há vários dias com aquelas botas que não só lhe tinham enchido as medidas mas que, ao mesmo tempo, estava a precisar. E a Mãe disse-lhe, simplesmente: “Manda vir.”. E ela tratou de fazer a encomenda e o pagamento e começou a contar os dias para a entrega.
No fim de semana, em que nada de extraordinário se passou, a miúda de sorte falou com a Mãe e disse “esta Editora daqueles dois livros que eu quero há tanto tempo está com promoções”. E, mais uma vez, a Mãe anuiu e disse-lhe “Podes aproveitar a promoção de paga 2 e leva 3” e ela assim fez.
Segunda feira, dia marcado para a entrega das botas que estavam debaixo de olho, ao acordar leu a mensagem que tinha no telemóvel: “esta semana fica atenta a entregas”. E ela, que não estava nada à espera de nada, ficou sem saber muito bem o que dizer. Agradeceu, claro. E repetiu tantas vezes para si mesma: “eu já fico feliz com um simples postal na caixa de correio”.
Recebeu, a seguir ao almoço, a caixa enorme onde, já sabia, vinham as botas novas da miúda de sorte. Mas não quis abrir logo. Sentiu aquela ansiedade boa da antecipação de quem está a receber um presente e quis saborear essa ansiedade boa por mais um tempo.
Também logo a seguir ao almoço, a confirmação da Editora: os livros serão entregues terça feira. De facto, para uma compra feita a um Domingo às 23h55m, ter a confirmação na segunda feira à hora de almoço de que os livros iriam chegar na terça feira de manhã foi como receber uma dose grande de ânimo.
A caixa das notas continuava por abrir à meia noite. Não podia ser. Era preciso abrir, experimentar e ter a certeza de que o tamanho estava correto. A miúda cheia de sorte levantou-se do cadeirão, foi até à sala, pegou na caixa enorme e linda, ainda por cima cor de rosa!, sentou-se no sofá com a Mãe, respirou fundo e disse: “está na hora! Vamos a isso!”.
Abriu a caixa com todo o cuidado e respeito que um presente merece. Ergeu a tampa e foi surpreendida pela mensagem impressa na caixa em letras grandes: “Enjoy every moment.”. “Aproveita todos os momentos”, numa tradução livre e espontânea. A miúda cheia de sorte soltou um sorriso ainda maior e, depois de ler em voz alta o que a caixa lhe dizia, disse para si mesma: “é o que estou a fazer!”.
Dentro da caixa enorme estava outra caixa com a marca que acompanha os passos da miúda cheia de sorte desde 2016 e da qual ela não abre mão. Palladium é sinónimo de conforto, confiança e qualidade. Por baixo dessa caixa um saco transparente com o outro artigo que tinha escolhido: uma mochila para o material do Yoga. Seria de pensar que a primeira coisa a ser aberta fosse a caixa, mas as botas teriam que esperar só mais um bocadinho.
Tirou a mochila de debaixo da caixa e de dentro do saco e o sorriso continuava a brilhar. A mochila, de uma marca que a miúda de sorte conhece há muitos anos mas que nunca teve nada seu, era exactamente o que ela estava a precisar. O tamanho certo, o material certo, a qualidade reconhecida há muito tempo. Agora sim, tem uma mochila em condições para levar os blocos de Yoga para as aulas, faça chuva ou faça Sol.
Chegou a altura de abrir a caixa restante. A caixa das botas. Botas cuja referência já a tinha feito rir quando as viu no site e que voltou a fazer quando leu a etiqueta colada na caixa: Re-Vegan Leather. A miúda cheia de sorte nem sequer é vegetariana, mas agora ia ter umas botas de “pele vegana reciclada”. E só a referência era suficiente para a fazer rir. Mas a explicação é mais simples e acaba por perder um bocadinho a piada: pele sintética reciclada. Com palmilhas em cortiça e plástico reciclado. 100% livre de utilização de qualquer coisa de origem animal. Mas dizer que se tem umas botas veganas é muito mais engraçado por remeter de imediato para algumas pessoas que a miúda cheia de sorte conhece.
Abriu a caixa com todo o cuidado enquanto respirava fundo e de forma consciente como aprendeu no Yoga e que transporta para o dia a dia sempre que sente necessidade. E naquele momento, quase solene, a miúda cheia de sorte e cheia de ansiedade da boa pela antecipação sentiu a necessidade de parar para respirar como deve ser. E, ao abrir a caixa e tirar o papel que cobria as botas, o sorriso tornou-se gigante e os olhos brilharam como há muito tempo não brilhavam. As botas. Lindas. Perfeitas. Cor de rosa muito clarinho! E que agora eram dela!
Calçou as botas para experimentar se estava tudo bem com o tamanho, se o fecho lateral era sentido e magoava. Tudo perfeito como só a Palladium sabe fazer. Como só a Palladium sabe ser! E, como sempre faz quando compra um novo par de Palladium desde 2016, repetiu para si mesma: “and Cinderella found her shoes…”
Já era tarde, muito tarde. Demasiado tarde, como agora, quando a miúda cheia de sorte arrumou as botas lindas e perfeitas ao lado da cama quando a vontade era mesmo de dormir com elas nos pés, tal não é o conforto!
Adormeceu rápido com um sorriso no rosto, sentiu-se completamente aconchegada pelo dia que teve e dormiu a correr para hoje acordar cedo. Mas, ainda na segunda feira à noite, quem lhe disse para estar atenta a entregas esta semana confirmou que a entrega seria feita hoje por transportadora. E que era um mimo, com sentimento e cuja única intenção era fazê-la sorrir. E só essa frase fez a miúda cheia de sorte sorrir ainda mais. Até ler que não está sozinha, mesmo que a presença física seja difícil. “Não estás sozinha”…e aí, especialmente aí!, a miúda cheia de sorte confirmou que, de facto, é mesmo uma miúda cheia de muita sorte e não está sozinha. Agradeceu mil milhões de vezes. E só não chorou verdadeiramente emocionada porque, a miúda cheia de sorte, continua a não conseguir chorar.
E chegou a terça feira. Que na teoria ainda é hoje mas que, pelo avançado da hora em que a noite já passou a madrugada, na prática já foi ontem. Que foi aquele dia de contrariar o horário de despertar tardio dos últimos dias e esperar uma entrega em casa e um levantamento na papelaria.
A mensagem a confirmar a chegada da encomenda à papelaria chegou ainda a meio da manhã. E a entrega do mimo cuja intenção é fazer-me sorrir e já fez muito mais do que isso foi feita à hora de almoço.
E a miúda cheia de sorte que já fica contente quando recebe um postal e que tem um blog que é uma (autêntica) Caixa de Chocolates, abriu a caixa da entrega e não só sorriu como riu! Porque, lá dentro, um chocolate artesanal agarrado a um postal! Um verdadeiro dois em um que foi um autêntico Jackpot. A miúda cheia de sorte sentiu-se tão bem, tão acompanhada, tão cheia de sorte…especialmente por ter a confirmação de que, de facto, não está sozinha!
O chocolate está reservado para um momento especial, que já sei, disse-me ele, todos os momentos são sempre especiais. Seja como for, fica guardado. Quando for a hora certa será degustado lentamente e saboreado como se saboreia uma verdadeira amizade.
Final da tarde. E, lá fora, todo o dia pela minha janela aquela luz fabulosa que tem estado todos os dias e que me tem feito tanta falta. Vejo-a lá fora pela minha janela e sei que, por causa do frio que está, dificilmente essa luz trará qualquer calor. Mas não é o calor que eu procuro. É, unicamente, a luz. A sua intensidade. A sua força. No fundo, a beleza dessa luz que, todos os dias vejo da minha janela. E que, por algum motivo, quando finalmente chego à rua o Sol já começou a esconder-se para lá do Mar e em poucos minutos vem o breu da noite. E hoje não foi excepção, claro. Mas ainda assim ainda tive motivos extra para continuar a sorrir.
Demorei o tempo que precisei de demorar até chegar à papelaria onde a minha encomenda de livros esperava por mim. Entrei, disse que vinha levantar uma encomenda. Dei o meu nome e preparei-me o para receber o vulgar e expectável envelope almofadado com os livros e um saco de pano lá dentro. Mas não. Porque a miúda cheia de sorte é isso mesmo: uma miúda cheia de sorte. Em vez de um vulgar e expectável envelope almofadado, os meus livros, que são 3, e o saco de pano oferta da editora vinham cuidadosamente embrulhados, à antiga, numa folha de papel craft rematado por um fio de lã também à antiga.
Custou-me a acreditar que, apesar da encomenda tão tardia e expedida em tão pouco tempo, houve tempo, cuidado e carinho para os meus livros serem tratados como merecem: com alma.
Ainda não abri o pacote que esconde os meus livros. Acho que, de alguma forma, tenho receio de chegar à noite de Natal e não ter embrulhos para abrir. Mas, se há alguma coisa que os últimos dias me têm ensinado, é que de facto não estou sozinha e mereço todo este carinho. Tudo porque sou uma miúda cheia de sorte. E estou feliz por sabê-lo sentindo-o.
O sorriso dificilmente me irá sair do rosto nos próximos tempos. E aquele conforto de saber que não estou sozinha não tem explicação de tão bom que é.
Mas a noite já se fez madrugada. Amanhã é dia de análises mensais no Hospital à hora de almoço. Por isso, é preciso agora descansar e dormir para amanhã poder abraçar aquela luz fantástica que tenho visto todos os dias. E, se alguém duvidar, o meu sorriso estará sempre presente para confirmar que eu sou uma miúda cheia de sorte!
