Daily Archives: 03/12/2024

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Quando programas o teu dia para ser produtivo, com uma manhã mais activa do que tem sido e já sabes que à tarde tens que sair porque tens uma consulta, o que é que acontece? De facto acordas cedo, mentalizas-te para a manhã que programaste e, quando dás por ti, mais uma vez és derrotada pelo teu corpo que, apesar de ainda não ter feito nada de extraordinário, grita por descanso e acabas por adormecer no sofá e ali ficas duas horas até seres acordada para tomares banho, almoçar e sair de casa, tudo a tempo de chegares ao Centro de Saúde à hora marcada para a consulta…

E, dentro da minha cabeça, desde ontem à noite, aquela sensação que não podes chamar de som de uma espécie de ressonância grave como se, por perto, houvesse um qualquer concerto ou alguém no prédio estivesse a ouvir música alta e só se conseguisse ouvir os graves. Ou sentir os graves. No interior da minha cabeça e não exactamente nos meus ouvidos. Porque não era um som que pudesse ser ouvido. Mas era uma vibração. Uma ressonância. Qualquer coisa que não sei explicar o quê. Mas que começou ontem à noite, dificultando, e muito!, o adormecer. E que esta manhã continuava presente. E à tarde também… E essa vibração, essa ressonância, essa coisa que não sei descrever nem sequer explicar criou uma confusão tão grande na minha cabeça todo o dia.

Confusa. Algo baralhada. Nem eu sei muito bem o quê. Apenas sei que não, não estava bem

A vibração, a ressonância nos meus ouvidos, ou se calhar era na minha cabeça?, nem eu sei bem!, acabou por passar. A confusão acalmou um pouco. Mas voltaram as vozes que gritam por ajuda, que ecoam na minha cabeça antes de iniciarem o processo intrusivo de ideias parvas e, eventualmente, perigosas. E eu não quero voltar à urgência de Psiquiatria. Especialmente depois de ter sido acusada de usar os meus sintomas Borderline como “arma de manipulação“. Quando o que eu preciso é de ajuda. E quem, supostamente, tem o papel de me ajudar, é exactamente a mesma pessoa, o mesmo profissional!, que me acusou de manipulação

A minha Perturbação de Personalidade Borderline tem estado muito controlada a nível de sintomatologia. O terapeuta fofinho, que me testou o suficiente para ter o resultado deste diagnóstico confirmado, também ele, pela primeira psiquiatra que me acompanhou, deu-me muitas ferramentas práticas para eu própria conseguir controlar a Perturbação. Mas ela não deixou, obviamente, de existir. A verdade é que, enquanto tive o acompanhamento dele, tinha sempre quem me ouvisse e puxasse por mim para eu própria fazer por ficar bem em situações menos boas. E isso, parecendo que não, foram as ferramentas que ele me ensinou a usar para controlar a Perturbação e não acordar a sintomatologia.

Mas o acompanhamento do terapeuta fofinho terminou no final de Março, por falta de disponibilidade dele. E eu fiquei um pouco desorientada, sem chão, sem apoio, sem ajuda para me defender de mim própria ao fazer face ao diagnóstico e à chegada do meu novo normal que de normal tem tão pouco…

Acompanhamento psiquiátrico existe. De tempos a tempos, como é normal. E veio daí o encaminhamento para o apoio psicológico. Entretanto, a Depressão começou a mostrar-se presente novamente. Essa que já estava tão melhor. E, com a Depressão, começaram a querer acordar os sintomas da Perturbação de Personalidade Borderline. Reconheci rapidamente os sinais de alerta. E há meses que digo que preciso de ajuda. Que, mesmo tendo um profissional que supostamente me acompanha a cada mês e meio, não tenho a ajuda que preciso. Porque não me ouve. Não se lembra do que já lhe contei. Não reconhece os sinais e sintomas descritos verbalmente em cada uma das muito poucas consultas que tivemos enquanto que, ao mesmo tempo, até o neurologista reconheceu no meu olhar, apenas no meu olhar porque a máscara não permite ver as expressões por inteiro, que a minha Depressão estava pior

A sintomatologia é um desafio diário. E, sem a ajuda que eu preciso, só eu sei o tamanho da luta interna que travo todos os dias.

E depois há um diagnóstico para aceitar, um novo normal para me habituar, uma solidão à qual sobreviver, uma vontade de me magoar, de me punir até!, como se tudo isto fosse responsabilidade minha. Como se essa punição fosse merecida por algum motivo. Que desconheço. Que não entendo. Mas que sinto ser real.

Não!, não quero voltar à urgência de Psiquiatria. Não me parece que vá lá fazer nada. Mas preciso muito de ajuda. E não sei ao que recorrer. Consulta com o psicólogo que não me ouve e acusa de manipulação? Janeiro. Consulta com o psiquiatra que vem substituir o anterior que se ausentou do Hospital? Final de Fevereiro. Até lá? Não sei. Não sei mesmo. O que fazer. A quem recorrer. Não sei nada. Só sei que me conheço o suficiente para saber que não estou bem, para reconhecer o despertar da sintomatologia da Perturbação Borderline, para admitir que tudo isto me mete medo

E, como se não bastasse, para hoje estava marcada Junta Médica da Segurança Social por causa da minha baixa médica à mesma hora da minha consulta com a médica de família. Claro que não pude ir à Junta Médica. Tenho a justificação do Centro de Saúde. A Junta Médica deverá ser remarcada para breve. E eu tenho medo do resultado. Porque eu não estou em condições de voltar ao trabalho. Não com a Depressão neste nível. Não com os desafios, até os cognitivos, do meu novo normal.

Não. Eu não estou bem. Eu preciso de ajuda que não estou a receber. Estou muito confusa. Baralhada, até. E não sei o que esperar da Junta Médica…

Por agora, cansada e moída, quando a noite já se inicia na fase da madrugada, é hora de baixar os braços por hoje. Reconhecer que também preciso de descansar. E mereço descansar! De nada que me possam apontar que tenha feito hoje eventualmente desgastante fisicamente. Mas da luta interna que travo todos os dias com tudo isto que trago cá dentro e que tenta, à força, travar-me. E também da luta constante com o meu corpo cansado sem se ter esforçado que me deixa esgotada, tanto física como psicológicamente. E aqui, neste campo, a única coisa a fazer é realmente ouvir o meu corpo e obedecer-lhe, seja ao adormecer no sofá a meio da manhã ou a seguir ao almoço, seja ao ir para a cama cedo. E esta parte é outra luta que travo comigo mesma todas as noites: sei que tenho que voltar a ter um horário decente para ir dormir. Mas deixo-me ficar acordada até tarde para provar a mim mesma que ainda consigo ficar acordada até tarde! E só eu sei o quanto me custa manter-me acordada até tarde. Mas é só mais uma luta entre o meu Eu mental e o meu Eu físico. E eu sei que tenho que respeitar mais o meu corpo, o meu Eu físico. Mas, lá está, é aquela punição de que falava há pouco. Que não faz sentido nenhum, mas que o meu Eu mental me impõe. E a luta recomeça todas as noites…

Mas, por hoje, o meu Eu físico ganhou. É tarde. Muito tarde. Mas está na hora de dar descanso ao corpo. Como se vai comportar a cabeça durante a noite? Não faço ideia. Mas espero sinceramente que colabore…