Hoje, e novamente por recomendação da administrativa do secretariado da especialidade de onde devia ter respostas, enviei o TERCEIRO email. Também por sugestão dela, o assunto é precisamente “MUITO URGENTE – EMAILS SEM RESPOSTA“.
O primeiro email foi enviado a 17 de Junho. Resposta: silêncio absoluto.
Liguei para o secretariado, falei com quem falo sempre e que, ela própria o diz, já não sabe o que me dizer. Reenviei o primeiro email, acrescentei algum conteúdo importante no segundo no dia 1 de Julho. Resposta? Precisamente a mesma que deram ao primeiro: silêncio.
Hoje, cansada de esperar, voltei a ligar para o secretariado. A D. Paula, a administrativa com quem falo sempre, mais uma vez me disse: “já não sei o que lhe dizer…“. Pediu-me para reenviar os emails e acrescentar MUITO URGENTE – EMAILS NÃO RESPONDIDOS no assunto. E pediu-me também para escrever sobre o que estou a sentir sobre esta situação. E, desta vez, assim fiz.
Referi várias vezes que estou EXAUSTA de estar à espera, que tudo o que recebo é silêncio e que a própria SPEM me informou que o silêncio e a ausência de resposta ou informação não podem acontecer.
Não peço mais do que o ponto de situação do meu processo. Não peço antecipação de consulta. Não peço confirmação de diagnóstico. Não peço acesso rápido à medicação. Só peço o ponto de situação. Uma informação de nada! E é o nada que tenho recebido em troca.
Dia 17 tenho consulta no Hospital. E se, até esse dia, continuar o silêncio, faço a última coisa que queria fazer: exposição no livro de reclamações do serviço.
Todo o doente, seja de que especialidade for, TEM O DIREITO de ter informação sobre o seu processo. Eu, pelos vistos, não tenho esse direito. E não é por falta de tentar saber.
A última coisa que soube, e foi porque tive que apresentar um relatório do especialista numa Junta Médica da Segurança Social, foi em Março. Há QUATRO meses. A próxima consulta está marcada para Outubro. Faltam TRÊS meses. E eu só peço uma porra de um ponto de situação…
Vou continuar à espera. Estou exausta de tanto esperar. Mas o próximo passo no dia 17 É o livro de reclamações…
E tudo isto me está a afectar de uma forma que eu não queria…
Eu sou aquela menina que, no mesmo dia em que recebe a encomenda de café ou vai directamente ao Fórum buscar, divide as cápsulas de uma forma que só a mim faz sentido e arruma as caixas ordeiramente até ser necessário dividir novamente (porque o dispensador só leva 36 cápsulas e eu compro muito mais do que isso). Portanto, algo se passa nesta cabeça quando, 12 dias depois de ter ido ao Fórum buscar café, a confusão está instalada, as cápsulas estão misturadas e as caixas não estão arrumadas…
Sim, este caos É um reflexo de como está a minha cabeça hoje em dia. E isso NÃO É bom sinal… Falta muito para dia 17 para, finalmente, ter a primeira consulta com o novo psicólogo? É que eu preciso muito de ajuda para voltar a organizar esta cabeça que anda ao sabor do vento completamente perdida e sem rumo…
Não, não tenho vergonha em assumir publicamente e em dizer que preciso de ajuda. Às vezes o mais difícil é aceitar que se precisa de ajuda. E eu sei há muito tempo que preciso. Logo quando esta aventura começou, ainda a ser acompanhada pelo terapeuta fofinho, ele próprio me disse que iria ter que pedir acompanhamento psicoterapêutico no Hospital porque não estava preparado para me ajudar com o que me apanhou na curva. Eu entendi os motivos e aceitei. Mas, na consulta com o especialista, não tive oportunidade de referir isso. Não me preocupei muito, sempre tinha o acompanhamento de psiquiatria e aí seria mais fácil pedir encaminhamento, também como sugerido na urgência de psiquiatria quando estava muito aflita e tinha acabado de descobrir que a minha psiquiatra, com quem tive uma única consulta, tinha deixado o Hospital.
Esperei (sempre a esperar…) até me ser atribuído novo psiquiatra. De quem gostei, logo pela forma como se apresentou: “Olá, eu sou o Nelson”. Não houve uma daquelas caganeirices de “sou o DOUTOR nome e apelido”. Não. Apenas a informalidade do nome próprio e um sorriso. Deixou-me à vontade, admito. Perguntou-me como estava a Depressão e eu fui sincera: “cá vai andando, uns dias melhores, outros nem por isso. Mas com isto que me apanhou na curva está complicado, porque eu estou em negação…” E estava. E ainda estou. E, de imediato, veio a sugestão certa: “o que me diz a ter acompanhamento psicológico? A ajuda de um psicólogo?” Imediatamente respondi que sim!, que precisava de um psicólogo. “Vou tratar do encaminhamento, então.” E tratou.
Conhecendo-me como conheço, acho que toda a vida vou precisar de ter um psicólogo a acompanhar-me. Até porque toda a vida tenho tido um psicólogo a acompanhar-me. É coisa que já vem de muito longe. E acredito que, especialmente na adolescência e depois dos 42 dias em que estive grávida, as coisas teriam corrido muito mal se não fosse o acompanhamento psicológico. Especialmente depois daqueles 42 dias. Não me canso de repetir: o terapeuta fofinho salvou-me a vida. Com muito trabalho da minha parte, é verdade, mas foi ele que me disse, na primeira consulta, “tu agora estás perdida numa floresta muito escura, mas eu vou estar aqui a iluminar-te. E TU vais encontrar o caminho para saíres daí.” E assim foi. E saí daquela floresta escura em específico. E, ao sair, percebi que sem a ajuda dele provavelmente hoje não estaria cá para contar a história. Mas estou, muito graças a ele. Sei que ele não gosta que eu o diga, mas sim!, o terapeuta fofinho salvou-me a vida. Foi um enorme trabalho de equipa, porque ele diz que o mérito é todo meu e eu insisto que sem ele não teria conseguido.
Não sei quem vou encontrar no dia 17. Sei, sim, que dificilmente encontro outro terapeuta fofinho com quem tive empatia e uma boa ligação logo na primeira consulta. Mas seja quem for o psicólogo que me vai acompanhar agora, vai ser importante, muito importante, que me oiça e me ajude. Porque eu preciso de ajuda. Com o que me apanhou na curva e com o que me consome neste momento: o desprezo e total abandono por parte de quem tem obrigação de me acompanhar e dar informação.
Estou muito cansada. Mas também estou magoada. Frustrada. Desiludida. E absolutamente perdida, sem saber o que fazer, o que não fazer, no fundo sinto-me abandonada e desprezada pela equipa médica que, supostamente, me iria ajudar a lidar com o que me apanhou na curva.
Eu não pedi nada disto, não procurei nada disto, não merecia nada disto. Mas aconteceu. Não sei como nem porquê nem porque não. Não sei rigorosamente nada. E preciso de respostas. Sei que há perguntas que não têm resposta. A célebre pergunta “porquê a mim?” não tem resposta. Mas há perguntas que têm: como estou?, o que me vai acontecer?, o que esperar?, o que fazer e o que não fazer?, essas perguntas têm resposta. E só o médico, o mesmo que recusa responder aos meus emails, é que me pode responder. Mas só me dá silêncio. E eu não sei lidar com o silêncio, nunca soube…
Não, eu não estou bem. E acho que só eu percebo o quanto não estou bem. Cá em casa já se percebeu que não estou a 100%, mas estou convencida que mesmo assim não têm noção do quanto estou verdadeiramente mal. Estou em sofrimento? Estou. A enterrar-me novamente no fundo do poço? Claramente. Não tenho ânimo para coisa nenhuma. Obrigo-me a sair de casa só para tentar contrariar este meu estado. O apetite é cada vez menor. E outras coisas que parecem pequeninas mas que, vendo com olhos de ver, são enormes e sinais mais do que evidentes do quão mal estou neste momento. Ao ponto de me assustar a mim mesma. E isso preocupa-me. Muito. O estado das cápsulas de café é só mais um sinal…
Há mais de um ano que digo isto: apetece-me muito chorar, e não consigo. Neste momento não só me apetece chorar como também preciso de chorar. E continuo a não conseguir… Por isso dia 17 é um dia tão importante para mim. Porque vou começar a ter ajuda. E quem sabe se essa ajuda não me põe a chorar! Não faço ideia de qual será a periodicidade das consultas e isso preocupa-me, claro. Mas em alguma consulta vou ter que conseguir chorar… Não resolve nada, eu sei! Mas alivia a pressão que trago cá dentro e que me está a consumir…
Hoje ainda é dia 9. Agora, e a estas horas muito tardias, só me resta fazer aquilo que toda a gente me diz: esperar e ter paciência. Amanhã? Logo se vê. Resposta aos meus emails duvido que haja. Mas uma SMS da médica de família já era uma ajuda para ganhar um bocadinho de ânimo que, neste momento, não tenho nenhum… E, para dia 17, já não falta assim tanto. É (sobre)viver um dia de cada vez. E continuar a esperar e a ter paciência… Depois? Logo se vê…
