Daily Archives: 10/07/2024

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Os últimos dias não têm sido fáceis. Têm, mesmo, sido difíceis. A nível mental e emocional. Porque não ter respostas, mesmo a perguntas simples e básicas, corrói por dentro…

Mas, esta manhã, o telefone tocou. “Sem ID de chamada”, dizia-me o visor do telemóvel quando lhe peguei. Sei que grande parte das pessoas não atende números anónimos, mas eu atendo. E, mesmo antes de atender, lembrei-me daquela chamada que recebi no final do dia em que tive alta do internamento em Fevereiro. Imediatamente soube, antes de atender e com 100% de certeza, quem estava do outro lado. E não me enganei.

Era o médico, o especialista, o mesmo que não dava resposta a nenhum dos meus três emails e que hoje me pôs, finalmente, ao corrente do ponto de situação do meu processo que era a única coisa que eu pedia nos meus emails.

Falou-me de todos os resultados de todos os exames que fiz e que, em Março, ainda se aguardava resultados de três. Todos os resultados bons. Até o exame genético, signifique isso o que significar. Falámos da terapêutica preventiva que estou a fazer desde Maio e como me estou a dar com ela. Sabia que, de início, poderia dar alguma indisposição, algum desconforto, algum efeito secundário. Informei o médico que nada disso passou por mim. “E dormências nas mãos ou nos pés, teve alguma coisa?” Nada. Não tive qualquer reacção, qualquer sinal da medicação. “Isso é muito bom sinal”, respondeu ele animado. “Porque se é assim não é preciso mexer na terapêutica e pode avançar para a medicação”. E isto era tudo o que eu queria ouvir!

“Vou falar com o Hospital de Dia para lhe ligarem para agendar a transfusão. Esta é aquela medicação que tínhamos falado que é feita de 6 em 6 meses. É a melhor no seu caso.” Ainda tive oportunidade de lhe dizer que, se o Hospital de Dia quisesse marcar para ontem, eu estava disponível.

Falámos sobre a minha disponibilidade, se me iria ausentar agora no período de férias. Disse-lhe que continuo de baixa e não vou sair daqui, portanto a disponibilidade é total.

Falámos sobre os efeitos do calor. Que sim, é prejudicial e exacerba os sintomas, até mesmo aqueles que estão mais escondidos.

Falei-lhe da presença constante da visão dupla e de ter regredido muito no equilíbrio. A chamada não era uma consulta, eu sei, mas tinha que aproveitar para o actualizar sobre o meu estado.

Foram 10 minutos ao telefone. Não foi demasiado tempo, não foi pouco tempo, foi o tempo certo para ter a informação que precisava: vamos avançar com a medicação biológica em breve. “Muito breve”, nas palavras dele.

Sei que vou ter que voltar a esperar e a ter paciência, claro que sim. Mas desta vez não vou ficar à espera de emails que não chegam com as respostas que preciso. Agora é só mesmo esperar que o telefone toque novamente, mas desta vez com identificação de um número conhecido: o número do Hospital. E acredito (ou quero acreditar) que desta vez não vou ficar muito tempo à espera.

Dia 17 tenho consulta no Hospital. Não me custa nada passar no Hospital de Dia e perguntar se há alguma previsão.

A verdade é que, depois desta chamada, o meu ânimo melhorou. Muito. Ainda liguei para o secretariado para falar com a D. Paula que, assim que me identifiquei, me disse “já sei que o doutor já lhe ligou”. Confirmei e disse-lhe o que tinha para lhe dizer: muito obrigada. Porque tem sido incansável, inexcedível, para além de ser uma querida cada vez que falo com ela, desde o primeiro dia.

Sei que ela falou com o médico de manhã e só consigo imaginar aquela senhora a dar um puxão de orelhas ao médico. Porque a verdade é que depois dela falar com ele, ele pegou finalmente nos meus emails (que mesmo assim não leu, ainda estava a ler o de 17 de Junho quando me ligou), pegou no telefone e fez aquilo que devia ter sido feito há meses: ligou-me e informou-me sobre o estado do meu processo.

Esta noite já respiro mais tranquila. Já sinto o corpo mais leve como se me tivessem tirado uma tonelada de cima. Esta noite já não durmo ansiosa. E amanhã o dia vai ser bom novamente. Iniciou-se agora um novo período de espera, é verdade. Mas pelo menos já sei que o processo não está parado nem esquecido.

Sim, depois deste telefonema sem identificação de chamada, tudo melhorou. E até o céu voltou a ser azul.