Daily Archives: 04/07/2024

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Às vezes é preciso parar. Às vezes é preciso virar o Mundo de pernas para o ar.
Viparita Karani, a minha mais recente melhor amiga. Ajuda-me a parar, aliviar as dores, relaxar e respirar.

Deve ser a isto que chamam morcegar. E são (por agora) 15 minutos só meus. Com o tempo os minutos para mim irão aumentar.

E, durante esse tempo, não quero saber de nada, nem do Mundo lá fora e não estou para ninguém. Nem para a minha gata que, em pânico, tenta perceber se estou bem e o que é que estou ali a fazer deitada no chão e com as pernas na parede…

E, disseram-me hoje meio a sério, meio a brincar, que a minha sina é esperar. E parece que é mesmo. Continuo à espera de uma resposta a dois emails que, aparentemente, são irrelevantes. Para um médico. Para aquele que é suposto ser o meu médico. Especialista. Que, acreditei eu no primeiro momento, era quem me ia ajudar e tratar isto que me apanhou na curva. Mas, pelos vistos, não. Não quer saber. É-lhe indiferente? Talvez. Tem casos mais graves? Não duvido que possa ter. Mas silêncio? Ignorar um doente? Não dar uma única informação tão simples como o ponto de situação do meu processo? “Tem que esperar”, disse-me em Março quando o encontrei por acaso no secretariado. Mas isto foi em Março. E Julho já chegou e está a passar a correr. E o primeiro email enviado está quase a fazer 3 semanas. E, parece-me, nem o segundo email que iria ser impresso, como foi o primeiro, com a anotação manual de “MUITO URGENTE” mereceu qualquer atenção, qualquer resposta. Silêncio. Absoluto. E, porque estou muito cansada de esperar, amanhã vou novamente insistir. Porque eu preciso de ter informação… Estamos aqui a falar de um assunto sério, que trata da minha saúde e traz implicações sérias na minha vida. E, neste momento, só estou a pedir um ponto de situação…

Por outro lado, sei que noutro lado estão dispostos a receber-me de braços abertos e a dar-me toda a ajuda que preciso e todo o acompanhamento urgente e necessário. Mas até para isso tenho que esperar… Mensagem enviada à médica de família com toda a informação e com pedido de orientação. Mensagem enviada ontem…percebi hoje que há SMS minhas que não estão a chegar ao destino. Pode ser o caso. Pelo que arrisquei reenviar pelo Whatsapp. E, para alguém que responde sempre e por vezes até telefona, não é normal também ela se remeter ao silêncio…

Eu tenho a solução ali à minha espera de braços abertos. Só falta o pedido da médica de família. E eu à espera…

À espera, sempre à espera. De tudo. Seja o que for, tenho sempre que esperar. E estou cansada. Tão cansada de esperar. Tão cansada de burocracias. Tão cansada de falta de interesse em situações sérias. Tão mas tão cansada…a vontade é de baixar os braços, desistir de tudo, incluindo de mim mesma, e chorar. Simplesmente desistir e chorar. Porque, pelos vistos, a minha sina é, de facto, esperar. E eu não quero esperar mais. Eu não posso esperar mais. Só me resta desistir. De tudo, o que implica também desistir do mais importante: eu.

Estou cansada. Tão cansada. Eu não pedi para ser apanhada na curva por coisa nenhuma! Mas fui! E, a única coisa que me dizem é “tem que esperar”…isto quando já sei que noutro lado também esperam por um pedido simples, que é feito por computador, que chega ao destino de imediato, onde me irão receber de imediato e tratar de mim como eu preciso.

Às vezes dou por mim a pensar que mereço tudo isto. O que me apanhou na curva e o silêncio e abandono de quem me deveria ajudar. Pergunto a mim mesma porquê e não sei a resposta. Mas sim, sinto que algures no tempo fiz alguma coisa muito errada e agora estou a pagar por isso. Não encontro outra explicação para todo este silêncio. Toda esta inactividade. Todo este desprezo, no fundo… Sinto-me cada vez mais sozinha e desamparada por parte de quem tem obrigação profissional de se mexer, de me acompanhar, de me seguir, de ir sabendo do agravamento da sintomatologia e de me ajudar a combater uma coisa que não tem cura, que é progressiva, que é neuro-degenerativa, que é séria. Não é terminal, não é letal. Se fosse, da forma como o processo se está a desenrolar, talvez já não estivesse aqui hoje a escrever…

Sim, estou muito desanimada. Muito perdida. A sentir-me abandonada. Desprezada. E só quero sair deste filme! Quero acordar um dia e perceber que foi só um longo sonho muito mau e, depois de acordar, seguir para a minha vida normal que já não acontece há 10 meses…! Mas, como não é um longo sonho muito mau, amanhã vou acordar para mais um dia de espera, de ver o tempo passar e de nada a acontecer…

Estou tão cansada… E tão perto de desistir. Da espera a que me obrigam. Do acompanhamento que preciso e não tenho. Do tratamento que não chega. E é tão fácil desistir disso tudo. E é tão fácil desistir de mim mesma