…e depois há aquele dia em que te cai uma dolorosa ficha e percebes que aquela pessoa em quem depositaste toda a tua confiança afinal parece não merecer o que lhe dedicaste e aparenta estar apenas e só a gozar com a tua cara dizendo coisas só por dizer, só para te calar a boca, só para, de alguma forma, te enganar…
Se fosse outra pessoa qualquer, bastava continuar a encolher os ombros, sorrir e acenar e partir para outra seguindo em frente. O problema é quando é o teu médico, da especialidade que te devia acompanhar de forma regular há meses, que já devia ter iniciado medicação há algum tempo e que, afinal, quando te liga em resposta aos teus três emails, te diz coisas só por dizer, só para te calar e que nos serviços do Hospital não há qualquer informação, muito menos confirmação.
Sim, hoje deixei de confiar num médico. Aquele que começou bem em Fevereiro decretando um internamento imediato para dar início aos muitos exames necessários para o diagnóstico. O mesmo que, de imediato marcou consulta para a primeira data que tinha disponível, 7 de Outubro, mas que afirmou e combinou que assim que tivesse os resultados todos me chamava para diagnóstico e início de medicação.
Os resultados saíram há meses. O diagnóstico consta do relatório que efectuou para a Junta Médica da Segurança Social em Março. O início do tratamento estaria dependente do início da terapêutica preventiva para a tuberculose latente, teria que aguardar 30 dias desde o início da terapêutica para poder avançar com a medicação biológica.
A terapêutica preventiva foi iniciada a 23 de Maio. Já passados os 30 dias soube pelo Infecciologista que me segue neste tratamento que já constava do meu processo que era candidata a medicação biológica.
Foi nessa altura que comecei a tentar saber o ponto de situação junto do médico. Sem sucesso. Até insistir no secretariado que por sua vez insistiu com o médico que finalmente me ligou. Para quê? Para me mentir? Não sou eu que o digo, são os próprios serviços do Hospital para onde o próprio me disse que iria ligar de imediato para acelerar a marcação do início da medicação. Serviços esses que, já em duas semanas diferentes, me dizem “o doutor não fez qualquer pedido em seu nome”…
E com isto perco a confiança em quem achei que me iria, de facto, ajudar. Não só em termos de medicação mas também ao nível de maior conhecimento do que se passa comigo…
Sei que tenho outro local onde recorrer. Que já me disseram estar à espera do pedido da minha médica de família. Mas fica em Lisboa… Sei que aí teria tudo o que preciso para enfrentar o que me apanhou na curva. Mas neste momento não sei o que faça… Sinto-me completamente perdida, desiludida e, até, enganada. Porque não gosto de pessoas que dizem as coisas só por dizer, só para calar o outro. E cada vez mais acho que é exactamente isso que está a acontecer. E não quero. Nem posso permitir que aconteça.
Não quero perder o meu precioso tempo a pensar demasiado nisto. Tenho outras coisas importantes em que pensar. Que, apesar de tudo, não me magoam porque eu já aceitei ir a jogo sabendo todas as regras e obstáculos.
Tenho, à distância de um clique, alguém que me completa e a quem eu completo de uma forma que não tem uma explicação racional. Mas que é vivida e, acima de tudo, sentida, de forma intensa e de entrega total.
Não tem que fazer sentido a mais ninguém que não eu e ele, nós os dois que, na realidade, somos um só.
Ambos somos intensos. Em tudo o que fazemos, por mais básico que seja. Ambos nos sabemos de cor. Ambos nos aceitámos e aceitamos como somos. Não há uma explicação racional. É assim e pronto. Somos assim e pronto. Desde o primeiro dia há mais de um ano. E o que existe, que não tem que fazer sentido para mais ninguém, cresce todos os dias mais um pouco.
Onde é que isto vai dar? Não faço ideia. E, neste momento, nem quero saber. Quero viver um dia atrás do outro. Sentir um dia atrás do outro. A partilha. A entrega. A intensidade. E o que tiver que ser será. Neste momento? Não quero saber.
Hoje foi um longo dia. Cansativo. De desilusão e, até, desconfiança na visita breve ao Hospital. Vim de lá profundamente chateada e frustrada e, até, magoada por me sentir enganada. Mas a tarde trouxe-me o equilíbrio que este dia estava a precisar. De forma intensa, verdadeira e de entrega total.
Amanhã é dia de acordar cedo outra vez. Yoga no parque novamente logo cedo. E eu gosto muito de começar o dia assim, a recentrar-me, a reencontrar-me. E a relaxar e a desligar dos pensamentos que me incomodam e magoam. Por isso, e agora que já é muito tarde e a noite começa a roçar a madrugada, está na hora de dar o dia por terminado por hoje. E amanhã logo se vê como será depois do Yoga.