E o dia 17 de Julho chegou! Primeira consulta com o psicólogo do Hospital. Nem sei responder se gostei dele ou não, acho que sim e também acho que ainda é cedo para perceber seja o que for. Porque a consulta foi, toda ela, comigo a fazer o resumo dos últimos 11 anos. Que tiveram tanta coisa a acontecer que, claro, ocupou a consulta toda. Mas conseguimos chegar ao momento actual. Não tivemos foi tempo para desenvolver, e tenho pena porque tenho tanto para desenvolver sobre o momento actual.
Não tive oportunidade de falar do medo, mas sobrevoámos a frustração. Não deu tempo para desenvolver também. Mas o resumo dos últimos 11 anos já lhe fizeram um esboço de tanta coisa que carrego comigo.
Só voltamos a ter consulta novamente a 6 de Setembro porque, entretanto, chegam as férias. E ainda falta tanto tempo para 6 de Setembro…
Até lá, vou-me agarrando como posso e como sei ao que aprendi com o terapeuta fofinho. Isto, claro, se ainda me lembrar como se faz. Sei que falar sobre o que sinto me ajuda a aliviar e a ver as coisas de outra perspectiva. Só preciso de ter quem me oiça… Não tendo, vou escrevendo. Seja aqui ou numa qualquer rede social. Não quero saber de likes nem comentários, nem quero saber se alguém lê o que escrevo seja onde for. O importante, para mim e por isso é que há 10 anos que o faço diariamente, é exorcizar o que estou a passar, o que estou a sentir. É deitar cá para fora tudo o que tanto me pesa e quase me corta a respiração.
É também para isso que serve o blog ou mesmo as redes sociais. É depositar no éter e seguir em frente. E, às vezes, após depositar no éter, há quem me estenda uma mão, há quem se faça presente. E, não me posso esquecer, em 2013 foi o éter que me manteve lúcida e mentalmente sã, tanto na chegada no início do ano, como a partida já no final. Tanto uma como outra de formas prematuras. E inesperadas.
Foi também após depositar diariamente no éter que sobrevivi ao período mais negro da minha vida. Exorcizei pela escrita. Gritei. Chorei. Atingi o limite. Cheguei à beirinha do abismo. Hoje podia já não estar cá. Mas foi depois de depositar no éter que me chegou o que precisava: ajuda.
Sempre partilhei com o éter o que me dói e me pesa. E desde sempre percebi que, sempre que o faço, há alguém do outro lado que me acolhe de braços abertos e me dá, como sabe e como pode, a força que, por momentos, não encontro em mim.
Sim, posso dizer que o éter para onde deposito palavras que formam frases que transmitem mensagens, muitas vezes de dor e sofrimento, outras tantas de puro desespero, o éter já me salvou várias vezes. E continua a fazê-lo. E é por isso que, 10 anos depois, continuo a escrever diariamente, sem falhar um dia que seja.
É o meu momento de introspecção e reflexão. Faço-o sempre antes de ir dormir, não faz sentido fazê-lo mais cedo. É desta forma que dou o meu dia por terminado. E hoje não é excepção, claro.
Faz-me falta, obviamente, o acompanhamento semanal como, durante 8 anos, tinha com o terapeuta fofinho. Claro que as circunstâncias eram diferentes e no Hospital não é possível. Entendo isso e aceito. Mas não deixo de sentir a falta dessa regularidade.
Falta muito tempo para Setembro, mas irei sobreviver até lá. Não disse ao psicólogo que não consigo chorar e queria muito tê-lo dito. Mas, em Setembro, terei mesmo que falar sobre isso. Entretanto, em Agosto tenho consulta com o psiquiatra. Irei, mais uma vez, partilhar com ele esta impossibilidade ou incapacidade minha. Ouvir o que ele tiver para me dizer sobre isso. Mas, seja até Agosto ou até Setembro, não importa, era importante para mim chorar. Não para resolver o que, já sabemos, não tem solução, mas para aliviar esta pressão que me sufoca…
Da consulta com o psicólogo: do resumo que lhe fiz dos últimos 11 anos ele já percebeu que há muita coisa por onde pegar para trabalhar. Claro que, no final da consulta, não resisti a dizer-lhe que comigo vai ter muita coisa para trabalhar.
O dia hoje foi muito longo. Novamente uma noite pouco dormida, acordar cedo, sair de casa cedo, voltar à hora de almoço e não conseguir seguir com o que tinha planeado que era apagar no sofá até serem horas de preparar a saída para o Yoga. À distância de um clique senti que ele estava, de certa forma, inseguro. Não, não era inseguro. Eram, foram, são muitas coisas a acontecer ao mesmo tempo. Distante sim, como já tinha notado, mas não ausente, o que é um facto. Senti a necessidade de partilhar com ele tanto daquilo que sinto. A forma como nos vejo. Como nos sinto. Como nos somos: um do outro. Duas metades que se reencontraram e imediatamente se reconheceram. De outro tempo, de outra vida, de outra coisa qualquer. Duas metades que encaixam e se completam, se tornam um só. Porque Eu e Ele dá Nós. De uma forma que só tem que fazer sentido para Nós. E que só Nós entendemos. Porque, por causa de um Olá numa rede social, nos reconhecemos, nos reencontrámos. Não, não tem que fazer sentido para mais ninguém. Mas, para Nós, faz. E de que maneira!
Quarta feira, dia de Yoga Nidra, o relaxamento profundo. E que me deixou pronta para ir descansar. Mas ainda não foi hoje que me deitei cedo, apesar de me sentir muito cansada, ter muito sono e ainda sentir o efeito do relaxamento.
Mas escrever aqui tinha que acontecer. Tinha que resumir o dia, reflectir sobre ele e o que o dia me trouxe, ter o meu momento de introspecção. Mas agora dou mesmo o dia por terminado. Foi longo. Muito longo. E até Setembro sei que posso contar com o éter para depositar palavras que formam frases e exorcizam o meu dia.
Amanhã? Acordar às 7h para tomar o antibiótico e, se não tiver fome, entregar-me ao sono sem horário para acordar. Ir à praia ao final do dia? Posso tentar ir. Vamos ver o que o meu corpo me diz.
