E, ao vigésimo segundo dia desde a data de compra, as cápsulas de café foram, finalmente!, arrumadas como deviam ter sido arrumadas logo no primeiro dia!
Significa isso que a minha cabeça está arrumada? Nada disso. Nem perto disso! Significa apenas que alguém recente aposta em mim e vê mais do que eu própria vejo sobre mim mesma. E eu sei que ela tem razão. Mas sei, também, que quando levo um abanão da vida, preciso de um empurrão que me obrigue a mexer. E foi isso que aconteceu hoje.
Organizei as cápsulas de café como costumo fazer no dia em que me chegam às mãos. Desta vez demorou 22 dias, mas arrumei. Fiz-me sócia da entidade que tem tudo, desde o conhecimento ao apoio, para me ajudar.
Continuo à espera daquele mapa que me sinalize e diga “Você está aqui” para eu então me situar, perceber exactamente onde estou e quais os caminhos à minha volta para que eu me possa decidir por um deles. Mas, diz-me ela sabendo-me completamente perdida, esse mapa com essa sinalização tenho que ser eu a desenhar. E que, se eu quiser, ela desenha-o comigo. Mas, obviamente, o caminho a seguir sou eu a decidir.
Sim, estou completamente perdida nesta nova realidade que me chegou de forma inesperada e que, tal como o nome que tem, vai progredindo sem nada que a trave. Pelo menos não ainda.
Mas, 22 dias depois, arrumei as cápsulas de café! E percebi, ao arrumá-las, que já só tenho café para pouco mais de uma semana. E, com a próxima chegada de café, não posso deixar que a desarrumação da minha cabeça permita novamente o caos que foram os últimos 22 dias.
É interessante como o Universo funciona: quando mais precisava de alguém que me guiasse nesta descoberta desta nova realidade é-me posta à frente uma pessoa com uma patologia diferente, mais complexa, e que desde o primeiro momento me estendeu a mão. Tem os conhecimentos que eu não tenho, tem a força e coragem que eu não sei se tenho e tem um coração de ouro. E não me esqueço das primeiras coisas que me disse durante uma sessão de fisioterapia: “a vida não acaba“. E eu sei que não. Mas ainda preciso de aprender sobre esta nova realidade, esta nova vida, esta nova versão de mim mesma.
Mas já prometi, sobretudo a mim mesma, que um dia deixo de perguntar “porquê eu?” e passo a perguntar “porque não eu?”. Ainda não sei como nem quando nem onde, mas um dia terei aprendido o suficiente para fazer alguma coisa que não (apenas) para mim. Porque se isto (que eu teimo em não conseguir nomear…) me escolheu, então vai ter que servir para alguma coisa boa! Não sei o quê. Mas o tempo vai-me ajudar a seguir um qualquer caminho que possa ser marcado pela diferença positiva. Logo se vê.
O dia foi longo. Mais uma noite pouco dormida, mais um acordar cedo. Mas essa noite pouco dormida foi também, e especialmente, uma noite de algo louco e intenso e inesquecível. Para, logo de seguida de manhã, continuar a ser uma experiência de união e de fusão única e extraordinária.
Lá está, quando duas almas se reencontram e de imediato se reconhecem de outros tempos, outras vidas, sabem sem qualquer dúvida que são a metade que falta no outro e que de dois se faz um num momento de fusão a dois. E ontem à noite ou mesmo esta manhã foi isso exactamente o que aconteceu: uma fusão em que dois se completam, se encaixam e se fundem e voltam a ser um só.
Não sei como explicar isto. Acho que não tem explicação lógica possível. É demasiado surreal? Irreal? Sei lá o que é. Sei, sim, o que sinto, como sinto. O resto? Não tem que ser explicado. A ninguém. Basta que dois se possam tornar um só porque são metade um do outro, porque se encaixam na perfeição, porque se completam. E só isso importa. São um do outro, cada um uma metade. E o que acontece quando se fundem é de uma intensidade extrema. Mesmo que à distância de um clique.
Está lá tudo o que tem que estar. O resto? É só isso mesmo: o resto. Mais noites pouco dormidas e/ou despertares de manhã cedo intensos hão-de acontecer. Faz parte. Mas eles, metade um do outro, são tão mais do que apenas isso. Já o disse antes: são almas que se reencontraram e que, de imediato, se reconheceram e souberam que são os tais dois que fazem existir só um. São a metade um do outro. E a força que os une é de uma intensidade extrema quando se fundem num só. E é só isso que importa.
Amanhã? Mais um dia de acordar cedo, sendo que hoje já se prevê uma noite pouco dormida dada a hora tardia. Mas não interessa. Porque de manhã há Yoga. E à tarde há sofá. Desde que, claro, o meu corpo o permita não me repetindo experiências surreais como está a ameaçar há horas…
Amanhã logo se vê. Por agora é hora de enroscar e aninhar na nossa conchinha de bichinho de conta. E dar o dia por terminado.
