Passava das 22h45 e estava na esplanada do costume. Vontade de voltar para casa? Zero. Capacidade física para ir dar uma volta por aí, nem que fosse uma volta ao quarteirão? Com as dores na perna esquerda, desde a coxa até ao pé com especial incidência no joelho? Zero também.
Estou cansada de não sair deste rectângulo. Preciso de sair daqui um dia destes. Seja para almoçar. Seja para jantar. Seja apenas para um café. Seja o que for. Mas FORA deste rectângulo. Sinto-me presa aqui. Prestes a sufocar. E tudo por não sair deste rectângulo. E por NÃO CONSEGUIR sair sozinha para lado nenhum.
Hoje caminhar, até em casa, está muito difícil. Mas tinha que vir à rua à noite. Porque, se continuasse fechada em casa, acho que enlouquecia.
Mas, claro, tive que voltar para casa. E, já em casa, travo uma intensa luta interior comigo mesma. Já devia estar a dormir, agora que a noite já roça a madrugada. Mas não quero.
Tenho a cabeça a mil e não é com boas ideias. É só um acumular de sentimentos negativos. Frustração. Zangada com o Mundo e comigo. Com isto que me apanhou na curva e que eu não procurei mas que me encontrou, que de alguma forma me escolheu.
Não merecia isto. Não fiz mal a ninguém. Não prejudiquei ninguém. Não….merecia…isto! E o que também me magoa é perguntar à minha mãe “eu merecia melhor do que isto, não merecia?” e, como resposta, recebo o habitual silêncio. Assim não dá…assim é suportar tudo sozinha. Mais tarde disse-me que não respondeu porque não sabe o que me dizer. Bastava ter dito que sim, que merecia melhor. Ao não me responder nada fez-me sentir como se efectivamente eu não mereça melhor. E, FODA-SE, isso dói para caraças!
Acredito que não seja fácil para ela também ter que assistir a tudo o que se está a passar comigo, a ver as dificuldades a aumentarem e eu a não ter o acompanhamento médico que preciso. Acredito que seja doloroso para uma mãe assistir à degradação, às progressivas dificuldades, ao sofrimento que as dores trazem juntamente com tudo o resto, à frustração, ao agravamento da depressão de uma filha que foi apanhada na curva por uma coisa que não tem cura. Mas tem tratamento que melhora a qualidade de vida. Tratamento esse que demora a chegar…
Admito a dificuldade da minha mãe em assistir a tudo isto. Mas eu preciso de sentir o apoio da única pessoa que me ajuda em tudo e que está sempre presente. Apenas não verbaliza, não me responde. Não me diz nada sobre o que se está a passar, sobre o que EU estou a passar. E isso, para além de doer (muito!), traz-me o peso insuportável da porra da solidão! E eu não quero, não posso!, suportar isto tudo sozinha. Porque eu não aguento.
Continuo a querer chorar. A precisar de chorar. E continuo a não conseguir.
Sei que não posso fazer nada para me livrar disto. Veio para ficar. Não há nada a fazer a não ser ter o acompanhamento médico que preciso e acesso rápido à medicação. E nada disso está a acontecer.
E preciso também de alguém que se sente comigo para conversar sobre isto e me ouvir, mas sobretudo para me orientar. Porque eu continuo a estar perdida! E preciso de saber onde estou. Para onde vou. O que esperar. O que me espera. Como vai ser daqui para a frente. No fundo, o que eu preciso é de ajuda. Urgente. Que não tenho tido. Que não sei quando vou ter. SE vou ter.
Sei que tenho uns poucos amigos com quem posso falar, desabafar. Mas também sei que, em alguns casos, não tenho comentado nada sobre o que estou a passar, o que estou a sentir, porque sei que do outro lado a frustração também se faz sentir. Como é o caso dele. Sei que está comigo nisto, desde o início a segurar-me na mão, a fazer o caminho comigo. Mas, se me queixo, a frustração chega até ele não só pelo factor distância mas também por não poder fazer nada. E eu não quero contagiar ninguém com a (minha) frustração. E por esse motivo tenho guardado algumas coisas para mim. Digo apenas, quando me fala da frustração de não poder fazer nada, que basta estar lá, à distância de um clique. Saber que não se vai embora por causa disto.
Mas, caramba! Eu sei que não estou, mas sinto-me completamente sozinha! Preciso tanto de ajuda. Urgente! De deixar de me sentir sozinha! Porque não aguento mais…
Às vezes quero desistir, outras vezes quero bater o pé e fazer as coisas acontecer. Mas estou SEMPRE sozinha…e já não sei o que fazer nem para que lado me virar nem com quem contar, já não sei nada de nada de nada! Só sei que estou cansada, farta, frustrada, zangada, perdida, sozinha. E não quero continuar assim…mas não sei até quando vou conseguir aguentar isto assim. Não sei mesmo…
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